Bilac reconta fábula de Esopo

Ladyce West, em primeiro de agosto de 2009, com grande talento, editou, ilustrando-a maravilhosamente, a fábula O LOBO E O CÃO, versão de Olavo Bilac.

 

"O lobo e o cão, fábula de Esopo, recontada por Olavo Bilac e ilustrada por diversos artistas

1 08 2009

 

[Escreve Ladyce West] Hoje, selecionei uma fábula de Esopo, recontada por La Fontaine entre outros.  Aqui, em versos magistrais de Olavo Bilac.  Por ser uma fábula popular, tenho muitas ilustrações, através dos séculos, que se referem diretamente a ela.   Coloquei algumas por entre o texto de Bilac.   No entanto, tenho ainda algumas outras ilustrações.  Para não corromper o texto completamente, [mais do que já o fiz] vou colocar outras ilustrações separadas, no final assim como repetir o texto original de Olavo Bilac. 

 

dog and wolf

Ilustração Harrison Weir (Inglaterra 1824-1906).

 

O lobo e o cão

 

                                  Olavo Bilac

 

 

Encontraram-se na estrada

um cão e um lobo.  E este disse:

– Que sorte amaldiçoada!

Feliz seria, se um dia

como te vejo me visse.

 

dog & wolf Eleanor Grosch

Ilustração Eleanor Grosch (EUA, contemporânea).

 

Andas gordo e bem tratado,

vendes saúde e alegria;

ando triste e arrepiado,

sem ter onde cair morto!

 

loup-chien-esope, moyen age

O cão e o lobo, ilustração em manuscrito francês, Idade Média.

 

 

Gozas de todo conforto,

e estás cada vez mais moço;

e eu, para matar fome,

nem acho às vezes um osso!

 

DOG AND WOLF BENNET

Ilustração Charles H Bennet (Inglaterra, 1829-1867).

 

 

Esta vida me consome…

Dize-me tu, companheiro:

onde achas tanto dinheiro?

Disse-lhe o cão: — Lobo amigo!

Serás feliz, se quiseres

Deixar tudo e vir comigo:

vives assim porque queres…

 

dog & wolf

 Ilustração, André Quellier (França, 1925)

 

Terás comida à vontade,

terás afeto e carinho,

mimos e felicidade,

na boa casa em que vivo!

Foram-se os dois.  Em caminho,

disse o lobo, interessado:

– Que diabo é isto?  Por que motivo

tens o pescoço esfolado?

 

dog and wolf,george fairpont

Ilustração Georges Fraipont (França, 1873-1912).

 

– É que às vezes amarrado

Me deixam durante o dia…

– Amarrado?  Adeus, amigo!

(disse o lobo) Não te sigo!

Muito bem me parecia

Que era demais a riqueza…

 

loupetchien, henri morin

Ilustração Henry Morin (França, 1873-1961).

 

Adeus!  Inveja não sinto:

quero viver como vivo!

Deixa-me com a pobreza!

Antes livre, mas faminto,

Do que gordo, mas cativo!

 

 

 

 

Seguem ilustrações:

le loupe et le chien carle vernetIlustração Carle Vernet (França  1758-1836).

 

 

loup e chien, jean-baptiste oudryIlustração Jean-Baptiste Oudry (França, 1686-1755).

 

 

Loup et chien Chauveau_-_Fables_de_La_Fontaine_-_01-05Ilustração François Chauveau (França 1613-1676).

 

 

 

loup et xhien, w aractingy, 1992Ilustração Willy  Aractingi (EUA 1930)

 

 

le loup e le chien, richetIlustração Christian Richet ( França, 1959).

 

 

Fable-Chien-Loup Eric RaspaudIlustração Eric Raspaud (França, 1955)

 

 

loup et chien, gustave doreIlustração Gustave Doré ( França, 1832-1883).

 

 

Loup et le chien, Prato de faiencePrato de faiença francesa, c. 1900, Fables Terre de Fer.

 

 

wolf & dog, adam weisblattIlustração Adam Weisblatt  (EUA, contemporâneo), Flikr.

 

 

HundeundWölfe, pub 1501, Steinhövel

Xilogravura, ilustrando o texto de Heinrich Steinhövel, das Fábulas de Esopo em publicado 1501. Autor desconhecido.

 

 

le loup et le chien bernard salomon, 1547Ilustração de 1547, Bernard Salomon, (França, c. 1508-c.1561)

 

 

el lobo y el perro, julia pelletier, 2003

 Ilustração Julia Pelletier (?, trabalha em Barcelona).

 

 

 

el lobo y el perro, anonimo

Ilustração, não tenho informações.  Agradeço a quem tiver.

 

the-dog-and-the-wolf-300x210 

Ilustração de 1919, por Milo Winter ( EUA, 1886-1956).

 

 

The_Wolf_and_the_Housedog

Desconheço o autor.

 

anciencahiersde poésie, anonime

 Ilustração anônima de aluno de escola pública francesa, década de 1950.

 

anciencahiersde poésie, anonime2

 Ilustração anônima de aluno de escola pública francesa, década de 1950.

O lobo e o cão

 

                                  Olavo Bilac

 

 

Encontraram-se na estrada

um cão e um lobo.  E este disse:

– Que sorte amaldiçoada!

Feliz seria, se um dia

como te vejo me visse.

Andas gordo e bem tratado,

vendes saúde e alegria;

ando triste e arrepiado,

sem ter onde cair morto!

Gozas de todo conforto,

e estás cada vez mais moço;

e eu, para matar fome,

nem acho às vezes um osso!

Esta vida me consome…

Dize-me tu, companheiro:

onde achas tanto dinheiro?

Disse-lhe o cão: — Lobo amigo!

Serás feliz, se quiseres

Deixar tudo e vir comigo:

vives assim porque queres…

Terás comida à vontade,

terás afeto e carinho,

mimos e felicidade,

na boa casa em que vivo!

Foram-se os dois.  Em caminho,

disse o lobo, interessado:

– Que diabo é isto?  Por que motivo

tens o pescoço esfolado?

– É que às vezes amarrado

Me deixam durante o dia…

– Amarrado?  Adeus, amigo!

(disse o lobo) Não te sigo!

Muito bem me parecia

Que era demais a riqueza…

Adeus!  Inveja não sinto:

quero viver como vivo!

Deixa-me com a pobreza!

Antes livre, mas faminto,

Do que gordo, mas cativo!

 

 

Em: Poesias Infantis, Olavo Bilac, Livraria Francisco Alves: 1949, Rio de Janeiro

 

olavo_bilac1

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (RJ 1865 — RJ 1918 ) Príncipe dos Poetas Brasileiros – Jornalista, cronista, poeta parnasiano, contista, conferencista, autor de livros didáticos.  Escreveu também tanto na época do império como nos primeiros anos da República, textos humorísticos, satíricos que em muito já representavam a visão irreverente, carioca, do mundo.  Sua colaboração foi assinada sob diversos pseudônimos, entre eles: Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur, Otávio Vilar, etc., e muitas vezes sob seu próprio nome.  Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.  Sem sombra de duvidas, o maior poeta parnasiano brasileiro. 

 Obras:

 Poesias (1888 )

Crônicas e novelas (1894)

Crítica e fantasia (1904)

Conferências literárias (1906)

Dicionário de rimas (1913)

Tratado de versificação (1910)

Ironia e piedade, crônicas (1916)

Tarde (1919); poesia, org. de Alceu Amoroso Lima (1957), e obras didáticas". (http://peregrinacultural.wordpress.com/2009/08/01/o-lobo-e-o-cao-fabula-de-esopo-recontada-por-olavo-bilac-e-ilustrada-por-diversos-artistas/)