Betty Mindlin e os mitos indígenas

 

A antropóloga Betty Mindlin publicou sete livros de mitos, em co-autoria com narradores indígenas.

 

Betty Mindlin

 

 

 

 

 

 

Betty Mindlin

(http://perfilliterario.wordpress.com/2009/06/16/betty-mindlin-respeito-ao-indigena/)

    

 

 

(Fotografias que constam no artigo "A cabeça voraz", de Betty Mindlin [Revista Estudos Avançados, vol.10 no.27 São Paulo Mai./Ago. 1996],

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000200015)

 

"NUM MITO TUPARI DE RONDÔNIA [1], uma mulher casada divide-se todas as noites. A cabeça parte em busca de carne e alimentos de outras malocas e aldeias; o corpo mutilado fica na rede, carinhosamente abraçado ao marido. De madrugada, supostamente saciada, a cabeça volta e cola-se ao próprio corpo.

O marido nada percebe, mas acorda com o peito ensangüentado, sem saber por quê. A mulher é boa esposa, faz uma chicha saborosa, sopa nutritiva que entre os Tupari é fermentada por um processo de mastigação, pelas mulheres, de um bocado de milho, cará, mandioca ou inhame. O que o marido não sabe é que, em vez de mastigar, ela costuma cortar um dos dedos e pingar sangue na sopa para fermentar.

Intrigados com o sangue no peito do rapaz, seus parentes resolvem ficar à espreita. Descobrem o corpo sem cabeça e o jogam numa fogueira. A cabeça, de longe, urra de dor, vem voando para colar-se ao corpo no meio das chamas e a mulher, inteira outra vez, toda queimada, vira bacurau, um engole-vento, e sai voando.

Vem nas noites seguintes, lamuriosa, chamar o marido. É agora um espírito malévolo, um Tarupá. Diz que o ama, pede-lhe que a acompanhe. Depois de hesitar, ele a segue, aprendem ambos a voar, vão para o reino do céu agarrando-se a um cipó, atingem as alturas, onde passam a viver com os bacuraus. Estes são assustadores, sobrenaturais. O marido, ou a mulher-bacurau, vira uma estrela, perto das que chamamos Três Marias.

Os Tupari acreditam que quando o bacurau canta à noite é porque alguém vai morrer. Segundo a tradição, quando alguém é morto, assassinado, o bacurau sente o cheiro de sangue e desce para chupar seu sangue e comer a sua carne. O pássaro mítico, assim, seria carnívoro, ou chuparia sangue, embora os bacuraus, da família caprimulgidae, alimentem-se exclusivamente de insetos, e têm bocas enormes para apreender a comida em vôo [2], o que certamente é do conhecimento dos índios.

(...)  Notas

[1] Betty Mindlin, Tuparis e tarupás. São Paulo, Brasiliense/Edusp/Iamá, 1994, p.106-107.        [ Links ] 

[2] Johan Dalgas Frisch, Aves brasileiras. São Paulo, Dalgas-Ecoltec Ecologia Técnica, 1981, v. 1, p. 122.        [ Links ]

(...)". (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000200015)

 

"Lévi-Strauss escreveu muito sobre o motivo da cabeça voadora em seu livro A oleira ciumenta".

Betty Mindlin (http://perfilliterario.wordpress.com/2009/06/16/betty-mindlin-respeito-ao-indigena/)

 

"O artigo focaliza um mito indígena sobre a cabeça voadora e voraz, registrado pela autora em vários grupos indígenas da Amazônia, como os Tupari, os Macurap, os Jabuti, os Aruá, os Sateré-Mawé. Cada versão do mito tem um enredo diferente, mas o tema intrigante é sempre o mesmo: a mutilação do corpo, a cabeça que se transforma ou cola-se num outro ser. Procura-se mergulhar no significado desse mito, ao qual Claude Lévi-Strauss dedicou boa parte de dois livros magistrais, A origem das maneiras da mesa e A oleira ciumenta, e que foi usado por Mário de Andrade no livro clássico sobre o herói brasileiro, Macunaína, uma das poucas obras de fição brasileira a se inspirar em temas e personagens míticos indígenas. O registro de campo desse mito é uma pequena ponta de um amplo trabalho de documentação da tradição e dos mitos indígenas brasileiros, que a autora vem realizando há alguns anos. A intenção, nesse texto, é compreender a riqueza do imaginário indígena brasileiro, insistir na necessidade de documentar culturas que são nossas contemporâneas e ainda bastante desconhecidas. A fição e a arte brasileiras poderiam ampliar muito o seu universo ao explorar e tentar compreender as raízes brasileiras que nos são dadas por mais de 200 povos indígenas do país. Também para os índios, escrever, contar, divulgar e usar nas próprias escolas os seus mitos é importante para reafirmar a identidade étnica e valorizar sua participação na sociedade brasileira". 

(Resumo do artigo "A cabeça voraz" [Revista Estudos Avançados, vol.10 no.27 São Paulo Mai./Ago. 1996], contido na Web em:

 

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000200015)

 

08.11.2009 - A resenha, contida no portal da editora Ática, do livro de Betty Mindlin e narradores indígenas intitulado Mitos Indígenas (São Paulo: Ática, 2006) assinala a importância das pesquisas e conclusões dessa autora. Transcrevo a seguir esse texto e, depois, uma entrevista com a antropóloga cujo doutorado foi realizado na PUC de São Paulo (portal Perfil Literário, onde "autores e ilustradores falam de suas obras").

"Ajuru, Arara-Karo, Arikapu, Aruá, Gavião-Ikolen, Jabuti, Macurap, Suruí-Paiter, Tupari e Zoró são povos indígenas de Rondônia e Mato Grosso que você vai conhecer melhor em Mitos indígenas, da antropóloga Betty Mindlin e dos 'Narradores Indígenas'. Fruto de um trabalho meticuloso e sofisticado, a obra faz parte da coleção 'Para Gostar de Ler' e reúne vinte e oito mitos.

'Os mitos, contados há séculos, de geração em geração, jamais escritos, são vivos no Brasil, ainda transmitidos em rituais ou apreendidos pela tradição oral', afirma Betty Mindlin. 'São tão densos quanto os mitos gregos, indianos ou afro-brasileiros, que conhecemos melhor. Nosso país é ainda mais interessante do que pensamos, e basta ter curiosidade para ir atrás dessa imensa descoberta.'

Existem mais de 220 povos indígenas no país; no volume, estão representados dez deles. 'Poderíamos dizer que é pouco, mas trata-se de uma amostra escolhida com cuidado, com um leque de temas diferentes, apontando para um infinito de imagens', diz a antropóloga. Todos os relatos do livro foram ouvidos por Betty Mindlin, quase sempre de narradores que nasceram antes de seus povos serem contatados pelos brancos, o que ocorreu entre 20 e 60 anos atrás. A antropóloga conta: 'Registrei mais de mil mitos de quinze povos, a maioria de Rondônia e Mato Grosso, e mesmo com uma pequena seleção gostaria que os leitores compartilhassem da admiração que tenho pelo mundo imaginário que abrem para nós. Em 1992, atendendo a solicitação de algumas comunidades, elaborei um projeto de formação de professores indígenas em Rondônia. Conseguimos recursos para um programa de educação multicultural e multilingüe, que coordenei até 1997'.

Betty Mindlin realizou, de forma pioneira, o registro escrito, em português e nas línguas indígenas, dos contos que ouviu. Em 1998, a responsabilidade pelo programa de professores passou do Instituto de Antropologia do Meio Ambiente (Iamá), ONG fundada em 1987, para o estado de Rondônia, estendendo-se a todos os povos. 'O programa de formação continua existindo, o ensino multicultural e multilíngue é reconhecido oficialmente pelas leis brasileiras, mas os professores indígenas vivem em luta constante para manter seus princípios e suas qualidades', avalia a autora.

O trabalho de transcrição e tradução dos mitos e músicas que Betty Mindlin gravou desde 1979 contou com numerosos intérpretes, em um processo trabalhoso: para cada hora gravada pelo menos dez outras eram utilizadas para a elucidação dos depoimentos. Os contos dos Suruí, por exemplo, foram transcritos pela antropóloga na língua indígena. Betty Mindlin transcreveu as gravações que havia feito com cerca de quarenta narradores, escrevendo todas as palavras, embora ainda não houvesse consenso dos índios quanto à escrita.

'Aprendi muito com a tradução sobre a língua e sobre os costumes dos Suruí, e utilizei, ao redigir em português, a minha experiência com eles, em longas permanências nas aldeias, que chegam a somar dois anos. Com os outros povos gravei os mitos nas várias línguas, e tive quase sempre a presença simultânea de alguém que falava bem o português. Os intérpretes gravavam a tradução para o português, na qual me baseei para escrevê-los, sempre procurando ser fiel ao estilo e ao conteúdo, mas buscando uma versão literária e não literal', afirma a antropóloga.

Em 'Como explicar o mundo?', texto introdutório a Mitos indígenas, Betty Mindlin observa que os mitos são muito diferentes de um povo para outro, mas alguns assuntos aparecem sempre, como o céu que ameaça cair, mito dos Gavião-Ikolen que pode ser encontrado com outro enredo até mesmo em povos africanos; a origem da lua, com suas manchas negras, é matéria de explicações variadas em diversos lugares; a cabeça voadora é famosa em todas as Américas; e o mito da mãe do arco-íris existe em numerosos povos.

'Cada mito me atrai em determinada época, segundo meu estado de espírito. Provavelmente, meu favorito é o mito da cabeça voadora, neste livro na versão Macurap. A cabeça que se separa do corpo e vai buscar carne em outras ocas é uma personagem fortíssima. Liga-se, em muitos povos, ao bacurau, uma ave noturna. Eu vejo nela a aventura, a imaginação, a fuga à rotina e ao doméstico - mas ela se transforma numa aparição considerada maléfica. Cada leitor há de interpretar esse mito a seu modo. Lévi-Strauss escreveu muito sobre o motivo da cabeça voadora em seu livro A oleira ciumenta', conta Betty Mindlin.

Outra vertente de mitos admirada pela antropóloga - que conviveu com os Suruí-Paiter em seu território e tornou-se amiga e defensora de vários outros - é a que fala das mulheres que vivem sem homens, o que, segundo ela, indica uma grave oposição entre homens e mulheres. Em Mitos indígenas, tem-se o exemplo do mito dos Jabuti-Jeoromitxi, 'Pakuredjerui aoné', os homens que comiam suas próprias fezes, ou os homens sem mulheres, que trata do desejo das mulheres que querem se separar dos maridos, porque eles tinham o hábito de comer as próprias fezes junto com a comida que elas preparavam. De acordo com Betty Mindlin, 'há uma infinidade de mitos das nullAmazonasnull, das mulheres que querem um domínio exclusivo feminino. Nos Kamaiurá do Xingu é bem conhecido o ritual das Iamuricumá, as mulheres que vão embora e deixam os homens'.

Mitos indígenas - PGL 40
Betty Mindlin e Narradores indígenas
144 páginas". (http://www.atica.com.br/resenhas/?r=417)

Já no Perfil Literário consta a seguinte entrevista concedida por B. Mindlin:

"16.6.2009 - Betty Mindlin - Respeito ao indígena

Antropóloga, com doutorado pela PUC-SP,  e economista, com mestrado pela Universidade de Cornell (EUA), Betty Mindlin trabalha há anos em projetos de pesquisa e apoio a numerosos povos da Amazônia e outras regiões. Seus assuntos prediletos são mitos, escrita, oralidade, música e apoio a professores indígenas Atuou também na área de direitos reprodutivos, direitos dos povos, diversidade cultural, educação diferenciada, saúde, ambiente e demarcação de terras indígenas. Publicou em português sete livros de mitos, em co-autoria com narradores sem escrita, nascidos antes do contato com o homem branco. O mais conhecido é Moqueca de maridos (1997), traduzido em várias línguas. Dedica-se atualmente a escrever e registrar com professores e narradores indígenas a sua tradição e a sua música, em mais de dez línguas, procurando criar um sistema para devolver às comunidades e aos jovens todos os registros gravados em pesquisas passadas. Descreve suas primeiras viagens em Diários da floresta (2006), também traduzido para o francês.

Como começou o envolvimento com o mundo indígena?


Betty: Trabalho com os índios desde 1976 e, na Amazônia, desde 1978, quando fui conhecer os Suruí, em Rondônia, que tiveram o primeiro contato com o homem branco em 1969. Eles passaram a viver no posto da Fundação Nacional do Índio, a Funai, em 1973, e eu estive lá cinco anos depois. Vi então um povo que não usava roupa, só se alimentava de suas  comidas tradicionais e vivia em ocas. Foi um deslumbramento.

Como surgiu o convite dessa primeira viagem?


Betty:  Foi por intermédio da Carmem Junqueira, minha orientadora de doutorado, e pelo sertanista Apoena Meireles. O pai dele era um homem de esquerda e queria uma antropóloga engajada na causa indígena para lidar com os Suruí. Por isso, convidou a Carmem. Ela, mais cinco antropólogos e eu havíamos feito um projeto com índios em São Paulo com alguns recursos financeiros oficiais, mas, na época da ditadura militar, fomos expulsos. Como ainda tínhamos algum dinheiro, a Carmem procurava um lugar para fazer pesquisa. Ela decidiu estudar os Cinta Larga, povo que também tivera contato muito recente com o homem branco. Eram do Mato Grosso, a 200 km do lugar onde estavam os Suruí, que eu fui conhecer. O Apoena se entusiasmou com a idéia de ter antropólogos por perto, pois nenhum deles ainda havia conhecido os Cinta Larga ou os Suruí.

E o primeiro contato? Como foi?


Betty: Em Diários da floresta, conto essas viagens iniciais e pesquisas de campo. A primeira vez que os vi foi a experiência mais forte da minha vida. Fomos com o Apoena e dois outros indigenistas, hoje famosos, Aymoré Cunha da Silva e Zé Bel. A Carmem, o Abel de Barros Lima, com quem ela era casada nessa época, e eu descemos de avião no Posto Sete de Setembro. Fomos cercados por uma multidão de homens e mulheres sem roupa rindo e fazendo muito barulho. Visitamos muito povos de avião, como os Gavião, Zoró, Cinta Larga e Suruí. Tive uma paixão a primeira vista por estes últimos talvez porque o Apoena gostava muito deles e tinha feito o primeiro contato, junto com o pai, Francisco Meireles, em 1969. Foi uma simpatia mútua. Carmem sempre diz que combinávamos porque somos muito expansivos e falantes. O povo com o que ela trabalhou, os Cinta Larga, eram bem mais quietos e demorou muito tempo para que quebrassem o gelo com ela, mas também são interessantíssimos. No ano seguinte, em maio de 1979, fiz a primeira viagem para ficar com os Suruí. Fui apresentada pelo chefe de posto aos vários chefes e ele queria me acompanhar em cada visita. Não aceitei. Disse que preferia ir sozinha falar com cada índio. Meu primeiro contato foi com um chefe que se tornou um grande amigo. No ano anterior, em uma guerra com o povo Zoró, ele tinha acabado com uma família inteira numa espécie de Guerra de Tróia por uma mulher. Eu estava tão fascinada com esse universo que não me preocupava nem um pouco com isso e não quis que ele me acompanhasse para conhecer a roça de cada família. Queria preservar aminha autonomia. Pelas minhas leituras e experiência com índios em São Paulo, embora diferentes, por serem bóias-frias, já sabia que havia muitas chefias e rivalidades. Meu método de trabalho com os índios, porém, não é colar em um grupo só. Prefiro agir assim até em uma festa, reunião ou oficina. Gosto de conhecer todas as pessoas presentes. Se você estiver em um povo de dez mil pessoas, ou mesmo mil, como os Suruí hoje, é difícil conhecer todo mundo. No final dos anos 1970, no entanto, eles eram 350. Dava para conhecer todas aquelas vidas. Era como estar no centro de uma comédia humana. Era essa a impressão que eu, grande leitora de Balzac, tinha ao circular pelas aldeias. Fiz questão de conhecer todas as roças com cada pai de família, que tem várias mulheres. Nem me passou pela cabeça que isso pudesse ser problemático, como percebi depois. Eu era bem jovem… 

‘Diários da floresta’ funciona como uma crônica?


Betty: É um diário mesmo. Eu o escrevia todas as noites, depois de trabalhar na roça, porque, à noite, ficávamos acordados, ouvindo música, vendo rituais e conversando. Durante o dia, vivia com o meu caderninho, anotando palavras e o que me passava pela cabeça, pois a emoção era tão grande, que eu não a queria perder. À noite, eu o reescrevia para dar um pouco mais de coerência. Os textos foram escritos até 1983, e só os publiquei em 2006. Nesse período, fiquei reescrevendo e reordenando. Procurei transmitir a emoção do momento e, ao mesmo tempo, elaborar um pouco mais o texto.

E o seu envolvimento com o objeto livro?


Betty: A produção começou com a imersão no povo Suruí e com a experiência de escrita do meu diário. Como cresci no meio de livros, sempre quis escrever. Tive, com minhas viagens um assunto, que não era ficção, mas que me permitia inventar algumas coisas. Diários da floresta é o primeiro livro que não faço junto com os índios, embora o deva a eles. Minhas outras obras são livros de mitos indígenas.

O estudo de mitos gerou toda uma produção…


Betty: Faço a tradução do oral para o escrito de mitos de cerca de dez línguas indígenas. É um tema sem fim, porque há mais de 200 povos e línguas no Brasil. Estou fazendo um trabalho com uma lingüista interessantíssima, Sueli Cabral, de Brasília. Ela está querendo me levar para outros povos. O que quero fazer é dar a mais gente acesso a esse universo fantástico que eu tive o privilégio de conhecer. Hoje, os índios estão filmando a si próprios e estão escrevendo, mas, quando comecei, era só eu que ouvia os índios. Comecei a gravar e a registrar. É um material precioso para eles, porque algumas gerações já não estão mais entre nós. Tento passar para eles registros em Cds. Infelizmente, só fiz gravação de som, não de imagem. Não sabia como fazer e era uma época de dificuldade muito grande para fazer pesquisa".

(http://perfilliterario.wordpress.com/2009/06/16/betty-mindlin-respeito-ao-indigena/)

 

"Betty Mindlin, antropóloga, é professora visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP e coordenadora do Iamá (Instituto de Antropologia e Meio Ambiente). É mestre em Ciências Econômicas (Universidade de Cornell, N.York) e doutora em Antropologia (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). É autora, juntamente com os narradores indígenas, dos livros de mitos Tuparis e Tarupás (São Paulo, Brasiliense/Edusp/Iamá, 1993) e Vozes da origem (São Paulo, Ática/Iamá, no prelo), traduzido para o inglês com o título de Unwritten stories of the Suruí Indians of Rondônia, (Austin, Texas University Press, 1995)".

(http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141996000200015)

 

Reproduções de algumas capas de livros de B. Mindlin (autora ou co-autora)

 

  

  

  

 

 

 

http://www.planetanews.com/produtos/3480

http://www.planetanews.com/produtos/118230

http://www.americanas.com.br/AcomProd/1472/150086

http://www.leonardodavinci.com.br/descricao.asp?cod_livro=BM0002

http://www.sebodomessias.com.br/sebo/(S(hfdrzvqg4twsbiy0jd43cs55))/detalheproduto.aspx?idItem=215746

http://www.librarything.com/work/1940523

http://www.livrariabks.com.br/produtos.asp?pagina=74&procura=&assunto=1008&classe=

 

 

Assim é apresentado, em francês, o livro Moqueca de maridos (Fricassée de Maris: Mythes érotiques amazoniens), no portal da Academia de Créteil:

"Fricassée de Maris : Mythes érotiques amazoniens, de Betty Mindlin, traduction de Jacques Thiériot - Même si près d'un siècle les sépare, la petite Indienne ci-contre, qui invite à la sieste dans son hamac, photographiée vers 1900, et les informateurs de Betty Mindlin appartiennent tous à un monde disparu. L'ethnologue brésilienne a recueilli des «mythes érotiques» en différentes langues indigènes, dans les états du Matto Grosso et de l'Amazonas. Les Macurap, Tupari, Ajuru, Arua et autres indigènes qu'elle a rencontrés dans les années 1990 ont vécu «l'expérience du travail esclave» dans les plantations d'hévéas. Leurs groupes ont été décimés par la rougeole et diverses maladies, cadeaux de la civilisation. Dans leur mémoire collective subsistent pourtant des mythes «archaïques, peut-être millénaires», qui ont traversé le temps avec une belle énergie. Ils nous parviennent avec des méandres aussi serpentins que les fleuves d'où ils sont originaires: transcrits en un portugais approximatif par les informateurs de Betty Mindlin, traduits en un français inventif, ancien et contemporain à la fois, ils ont gardé la marque de l'oralité. L'absence totale d'inhibitions et de sens du péché donne une tonalité allègre à ces histoires d'amour. - Métailié - 308 pages - ISBN : 286424537X - 20 €". (http://www.ac-creteil.fr/portugais/VIENTPA.HTML)

 

Livro publicado em série coordenada por B. Mindlin

 
Título do Livro

Os príncipes do destino - Histórias da Mitologia Afro-Brasileira

(http://www.planetanews.com/produto/L/19721/principes-do-destino--historias-da-mitologia-afro-brasileira--os-reginaldo-pranti.html)

Trata-se de uma antologia de mitos africanos, compilados pelo pesquisador Reginaldo Prandi. Faz parte da coleção Mitos do Mundo, coordenada por Betty Mindlin.

 

 

 

 

 

 

 

Resenha do livro de R. Prandi, contida no portal da Editora Cosac & Naify, transcrita da Folha de São Paulo:

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"Criança gosta de bicho". (Lúcia Fabrini Almeida)

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12.6.2001 - Folha de São Paulo / Ilustrada - "Acadêmicos vencem o desafio de serem didáticos sem serem chatos", por Francesca Angiolillo

"Depois dos povos indígenas, o próximo volume da série Mitos do Mundo é dedicado ao povo que, com os nativos daqui e os brancos europeus, forma a raiz da formação do Brasil: os negros.

Para contar histórias dos povos afro-brasileiros, Maria José Silveira e Betty Mindlin convocaram um dos maiores especialistas do assunto, o sociólogo Reginaldo Prandi, que lançou, no ano passado, o bem-sucedido 'Mitologia dos Orixás' (Companhia das Letras, 624 págs.).

Além do sucesso editorial de 'Mitologia', que acaba de chegar à quarta edição, como Betty Mindlin, Prandi tem uma longa carreira voltada ao povo cuja voz assume para a nova série - há mais de 20 anos, ele se dedica a estudar mitos afro-brasileiros.

Para escrever 'Os Príncipes do Destino - Histórias da Mitologia Afro-Brasileira', Prandi partiu do trabalho do professor Agenor Miranda Rocha, primeiro estudioso dos candomblés no Brasil. Mais precisamente, dos cadernos que Miranda Rocha escreveu a partir de 28 e ele organizou em 'Caminhos de Odu' (Pallas).

Como mitos de qualquer outra origem, os afro-brasileiros também apresentam inúmeras variações. 'Sendo a mitologia transmitida oralmente, ela pode sofrer alterações de um narrador para outro. Não tem o ditado que diz que quem conta um conto aumenta um ponto? Como 'Os Príncipes do Destino' se baseia nas histórias contidas em 'Caminhos de Odu', eu uso a versão que está nesta fonte', explica Prandi à Folha.

Os odus, na tradição iorubá, eram justamente príncipes contadores de histórias (leia trecho ao lado). 'Há diversas tradições de candomblé no Brasil, as de origem iorubá ou nagô, as de origem fom ou jeje e as de origem banto ou angola-congo. O candomblé que cultua os orixás é de origem iorubá [da Nigéria e do Benin], e é este o mais conhecido e mais divulgado', continua Prandi.

'Não era de iorubás o maior contingente de escravos trazido para o Brasil, mas foram eles os últimos trazidos, quando os escravos ja eram usados nas cidades e não mais eram dispersos nos campos e nas minas. Por serem mais recentes e terem sido concentrados é que suas tradicões puderam ser mais bem conservadas, em comparacão com outras, que acabaram mais diluidas e esquecidas -daí que sua mitologia esteja muito perdida.'

Diferentemente do livro de Betty Mindlin, o de Prandi está estruturado como se fosse uma só trama. Nela, os 16 odus se reúnem 16 vezes, a cada 16 dias, na casa de seu deus maior, Ifá, para contar histórias que teriam visto ou vivido. São esses relatos que Prandi reconta no livro, que está em fase de revisão e deve sair em julho ou agosto, segundo o autor.

Prandi diz que, escrevendo 'Os Príncipes do Destino', contou várias vezes as histórias para crianças, a fim de estabelecer a melhor forma para o livro e de usar 'os enredos que poderiam chamar a atenção' do público mirim.

'Uso uma linguagem que acho mais acessível. Os mitos não têm uma forma definitiva, então me coloco como um contador de histórias, ponho as minhas ênfases. Crianças se interessam por detalhes. Se falo de comida, querem saber que gosto tem. Se um personagem subir numa árvore, querem saber como foi.'

Didatismo

O desafio de colocar informações didáticas sobre os povos abordados, sem serem áridos, foi habilmente vencido pelos dois primeiros livros da série.

Enquanto Betty Mindlin opta por notas de rodapé, Prandi incorporou as explicações no corpo do texto. A antropóloga se preocupou em manter a oralidade indígena sendo o mais literal possível. Já o sociólogo usa uma linguagem mais própria sua, mas ainda assim o resultado se aproxima do tom de um relato ouvido.

A próxima autora é Lúcia Fabrini Almeida, que conduz a nau da Cosac & Naify para a Índia.

Como para seus colegas, a experiência de escrever para crianças era nova para a estudiosa de literatura indiana. Ela diz que a seleção de contos para seu livro -que se chamará 'O Cabeça de Elefante e Outras Histórias da Índia' e está em fase de ilustração- a preocupou um pouco. 'Normalmente mitos indianos são muito metafísicos', diz.

Assim, diz ter buscado histórias dinâmicas e que fossem protagonizadas por animais ('criança gosta de bicho'). São quatro mitos, que trazem personagens como o macaco Hanuman, personagem do épico 'Ramayana', e o deus-elefante Ganesha, 'que dissolve os obstáculos'.

Por fim, o antropólogo Rodrigo Montoya trabalha para contar mitos andinos direto de um de seus berços: o Peru, onde ele também nasceu". (Francesca Angiolillo,

http://editora.cosacnaify.com.br/ObraImprensaLeiaMais/161/Francesca-Angiolillo.aspx)

 

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Betty Mindlin, crítica literária

No site do escritor e diplomata João Almino, pode-se ler a seguinte resenha de Betty Mindlin:

JORNAL DA PUC, 13.9.2001

"A travesia de uma mulher

                                                                                                                            Betty Mindlin

Que visão de si mesma tem uma madura mulher de 55 anos, separada, sem filhos, aposentada de um cargo de professora universitária numa profissão indefinida, talvez letras ou história? E ainda mais sendo ela solitária,educando dois sobrinhos adolescentes com quem mora, cercada apenas por poucos amigos da juventude - antigos militantes contra a ditadura militar -, apoiada nas tarefas diárias por uma empregada dedicada, dando muito afeto a dois gatos e um cachorro velho?
 
A narradora do novo romance de João Almino, As Cinco Estações do Amor, falando na primeira pessoa, no tom de prosa confessional, vê-se cindida entre as personagens correspondentes aos seus dois nomes: Diana, ousada, sensual, determinada, voltada para o prazer, aberta para a rosa de aniversário do vizinho admirador, e Ana, que é como todos a chamam, recolhida, tímida, espectadora, hesitante, presa nos limites da rotina, boiando ao sabor do destino.
 
O cenário e os temas são atuais: Brasília em expansão, para onde Ana veio
de Minas, antes de casar, e onde conheceu o seu grupo coeso de amigos migrantes; a violência, as drogas, a criminalidade, a ameaça de assaltos; a passagem do milênio e as esperanças despertadas; a depressão rondando, Prozac, assassinato, tiros, suicídio, as aventuras sexuais sem conseqüências emocionais para o parceiro e atingindo a fundo a parceira, o amor, o adultério, a ruptura.
 
A figura de Ana, delineada por ela própria, é feita de muitos detalhes concretos, com dados sobre o quotidiano, os sentimentos, o passado, a vida sexual e amorosa, os fatos, a cidade e as ruas, os jantares e o teor das conversas. O que fica, porém, é um clima nebuloso de vazio, como se nada se soubesse sobre ela, ressaltado apenas seu profundo sentimento de ser sozinha. Que mais é ela, a não ser a falta de um amor? O que a faz vibrar no mundo, qual a sua ação, o que faz, que rios a arrastam, qual o seu repertório cultural?
 
Como se não estivesse no centro da modernidade urbana, começando o terceiro milênio carregado de dramas raciais, econômicos, com conflitos de raízes e sentidos, com políticas sociais e desregramentos, com liberdade amorosa e desvios, com inusitados caminhos da fantasia e descoberta, ela poderia ser uma puritana heroína da era vitoriana, seguindo comportada, perplexa, uma trilha esperada, dada pela moral convencional ou pelas circunstâncias possíveis.
Nesse sentido, Ana lembra alguma personagem de Natalia Ginzburg, como a sem nome de È stato cosí, que não tem outra razão de existir a não ser seguir o marido; ou a personagem de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Há na história da protagonista de As Cinco Estações do Amor uma economia de vitalidade, restringindo a expansão e a soltura, um prenúncio de grandes crises de melancolia, a escuridão latente.
 
Para se compreender Ana não se pode ignorar que ela é mineira da cidadezinha de Taimbé - onde moram sua mãe e irmã, e para onde pretende voltar - e carrega uma tradicional imagem de mulher abafada, que se aproxima de domésticas heroínas sem perfil próprio. Nem tampouco esquecer que o grupo de amigos com quem ela se relaciona se autodenominava, quando chegara em Brasília, de "inúteis". Talvez aqui também um traço que explique porque tanta falta fazem a Ana: eram os artistas improdutivos, utópicos, brincalhões, trazendo ânimo e festa sem os rígidos objetivos do trabalho e da carreira.
 
TRANSEXUALIDADE - Um dos aspectos mais interessantes e inovadores do livro é o espaço para a transexualidade, e para as relações homossexuais, aceitas e acolhidas, e que transformam o que é considerado feminino. Grandes amigos de Ana são um casal de homens com um filho adotivo, que lhe fazem a festa de aniversário.
 
A crise de Ana/Diana e a sua comoção interior, desencadeando mudanças, estala com a chegada do travesti Berta, reaparecendo loira e metamorfoseada depois de anos, seu amigo e amor antigo, Norberto, um dos "inúteis", que fez uma operação para se tornar mulher. Ana a convida para viver em sua casa, e é a alegria entrando, a comunicação, a risada, a vida plena, sem razão. São poucos dias para que se acostume a ver a amiga no amigo anterior, para se deixar levar. Mas as convenções e o olhar alheio cobram seu preço... e há muitas formas de trair.
 
Os personagens, ou pelo menos muitos nomes de As Cinco Estações do Amor, já surgiam no romance anterior de João Almino, Samba-enredo (Marco Zero, 1994). A partir de que magma original biográfico ou inventado são extraídos? Estariam também no primeiro romance, já que são três os livros de Almino considerados marcos da ficção em Brasília? Há, por exemplo, uma cena do carnaval, com um assassinato imaginário ou real do homem amado desaparecido, que está nos dois livros.
 
Ana/Diana salva-se de duas maneiras bem distintas, uma tradicional e uma pela via criativa. Ana queima seus papéis e o passado - que de todo modo se extinguem num incêndio -, mas volta no final do livro à tarefa de um relato biográfico, investigando o significado da travessia pelos anos. Sem se pronunciar escritora, está, pelo mergulho honesto na intimidade e na força das palavras, justificando-se por existir,       estabelecendo no vácuo laços luminosos com o resto da humanidade. E assim como grande parte das mulheres em toda a história, deixa de se sentir deslocada e marginal ao encontrar um companheiro para um amor equilibrado, casando-se com o vizinho viúvo.
 
Um romance bem escrito, com começo, meio, enredo, e fim não infeliz, esperançoso, embora conformado aos arquétipos sagrados, procurando deixar para trás toda a angústia da existência feminina.
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Betty Mindlin é doutora em Antropologia". (http://www.joaoalmino.com/ResenhaCincoBetty.html)