[Maria do Rosário Pedreira]

O poeta Fernando Pinto do Amaral usou uma vez uma expressão que me pareceu muito feliz, referindo-se a poetas que achava obviamente maiores,  mas que não faziam parte das suas leituras mais queridas. Disse, simplesmente, que não os considerava da sua família. Percebi perfeitamente o que queria dizer com essa história do parentesco, porque também eu não posso deixar de concluir que tudo aquilo que até hoje escrevi em matéria de poesia descende mais de Eugénio de Andrade do que de Herberto Hélder e que, por muito que ache este último um poeta genial, o meu coração chocalha muito mais facilmente quando leio os poemas do primeiro. E, contudo, as pessoas vêem isto um pouco como um Benfica-Sporting, no qual evidentemente não se pode acarinhar ambas as equipas ao mesmo tempo: de um lado Andrade, do outro Hélder. No Brasil, também reparei que os «parentes» de Manoel Bandeira são distintos dos de Drummond de Andrade, como se não fosse possível gostar de ambos com o mesmo tipo de sentimento; e, num encontro em Espanha, descobri entre um grupo de pessoas adeptos de Lorca que não eram, claramente, da equipa de Machado. Quando era estudante, também me perguntavam frequentemente se preferia Eliot a Pound (ou vice versa). Será assim em todos os países?