[Flávio Bittencourt]

Belém do Pará, 1835: o comando da rebelião popular em curso toma o palácio do governo

O Prof. Leonardo Castro reconta essa estória espetacular

 

 

 

 

 

 

 

 

"Livros

Estórias do eldorado nos tempos calamitosos da devastação contadas pelo cidadão-de-arco-e-flecha

Autor: Vicente Salles
Editado por
Thesaurus Editora [2010]"
Estórias do eldorado nos tempos calamitosos da devastação contadas pelo cidadão-de-arco-e-flecha 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRIMEIRA EDIÇÃO DA OBRA
CUJA IMAGEM DE CAPA ACIMA
ESTÁ REPRODUZIDA: 2010
(ED. THESAURUS, Brasília,
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

"Terça-feira, 7 de setembro de 2010

Inovacine/IPHAN apresenta "O Negro no Pará - Cinco Décadas Depois" de Afonso Galindo

 

recebi por e-mail.

Inovacine/IPHAN apresenta "O Negro no Pará -
Cinco Décadas Depois" de Afonso Galindo – 37'44"


Doc-ficção sobre o processo de pesquisa de Vicente Salles (pesquisador) para publicação de sua importante obra "O Negro no Pará – Sob o Regime da Escravidão". Com depoimentos de remanescentes do quilombo de Petimandeua (Castanhal -Pará), pesquisadoras e integrante do movimento Negro no Pará, em busca do percurso dessa investigação histórica. Conta também com o depoimento de Clea Simões, atriz paraense e membro da comunidade barbadiana. 

Ficha técnica
Direção: Afonso Gallindo
Roteiro: Afonso Gallindo/Rose Silveira
Produção Executiva: Rose Silveira
Edição: Afonso Gallindo /André Mardock
Produção: Maria Christina
Fotografia: Marcelo Rodrigues
Mixagem Aúdio: Léo Bitar
Elenco: Dani Sá e Ronald Bergman (in memoriam)
Realização/Patrocínio: Instituto de Artes do Pará (IAP) / Projeto Raízes

Serviço: – "O Negro no Pará - Cinco Décadas Depois", de Afonso Galindo, quarta-feira, dia 08 de setembro, 18:30H, no auditório do IPHAN, Travessa Rui Barbosa, esquina da Avenida Governador José Malcher. Realização: INOVACINE. Apoio: IPHAN. Informações: 8813-1891 ENTRADA FRANCA

 
'Cabanos', de Sebastião Pereira, estreia no Iphan
 

(http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-104879-CABANOS++DE+SEBASTIAO+PEREIRA++ESTREIA+NO+IPHAN.html)

 

 

 

 

 

(http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/cabanagem/cabanagem-1.php)

 

 

 

 

 

"A GUERRA CIVIL DOS CABANOS REDUNDOU NO POVO DENTRO DO PALÁCIO DO GOVERNO, EM BELÉM"

(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")

 

 

 

 

"QUANDO LEONEL BRIZOLA VENCEU AS ELEIÇÕES PARA GOVERNADOR DO RJ (primeiro mandato), ABRIU ELE AS PORTAS DO PALÁCIO PARA O POVO CELEBRAR AQUELA VITÓRIA ELEITORAL - E O POVO ENTROU, PELA PRIMEIRA VEZ (no Rio), E PELA SEGUNDA VEZ, NA HISTÓRIA DO BRASIL, NO PALÁCIO DO GOVERNO: ANTES, HAVIA ACONTECIDO A CABANAGEM, NO NORTE DO PAÍS"

(IDEM)

 

 

 

 

 


"(...) A partir de uma família de ribeirinhos, [O FILME] “Cabanos' revela de forma poética a única experiência revolucionária na qual o povo tomou o poder no país, a cabanagem, ocorrida na província do Grão-Pará, em 1835. (...)"

(TRECHO DE ARTIGO ADIANTE REPRODUZIDO NA ÍNTEGRA [o segundo texto - uma notícia jornalística - no final])

 

 

 

 

               HOMENAGEANDO, COM A MÁXIMA ADMIRAÇÃO E PROFUNDO RESPEITO,

               O HISTORIADOR PARAENSE [ESTADO DO PARÁ, BRASIL] VICENTE SALLES

 

 

 

 

 

21.11.2010 - Por que não se conhece bem essa estória da história do Norte do Brasil? - Bem, depois eu explico. Não vou dizer logo que a razão está vinculada ao fato de que houve, em certo momento, VITÓRIA DE REVOLTOSOS: seria "dar bandeira" (coloquialismo bras.: DEIXAR APARECER) demais!  (DEPOIS, AS FORÇAS DO PODER CENTRAL VOLTARAM A CONTROLAR O PARÁ, QUE, ENTRETANTO, NUNCA MAIS VOLTOU A SER O MESMO DE ANTES DAQUELE EPISÓDIO ESPETACULAR DA CABANAGEM.} F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

 

 

LEONARDO CASTRO ESCREVEU  SOBRE

A CABANAGEM NO ESTADO DO PARÁ:

 

"Sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Cabanagem no Pará, 1835-1840.

 
Prof.  Leonardo Castro


A Cabanagem (1835-1840) foi a revolta na qual negros e índios se insurgiram contra a elite política e tomaram o poder no Pará (Brasil). Entre as causas da revolta encontram-se a extrema pobreza das populações humildes e a irrelevância política à qual a província foi relegada após a independência do Brasil.


A Cabanagem ocorreu durante o período regêncial no Brasil. O Período regencial brasileiro (1831 — 1840) foi o intervalo político entre os mandatos imperiais da Família Imperial Brasileira, pois quando o Imperador Pedro I abdicou de seu trono, o herdeiro D. Pedro II não tinha idade suficiente para assumir o cargo. Devido à natureza do período e das revoltas e problemas internos, o período regencial foi um dos momentos mais conturbados do Império Brasileiro.


De cunho popular, contou com a participação de elementos das camadas média e alta da região, entre os quais se destacam os nomes do fazendeiro Félix Clemente Malcher e do seringueiro Eduardo Angelim.


Na Cabanagem negros e índios também se envolveram diretamente no evento, insurgindo-se contra a elite política no Pará. Dentre alguns líderes populares da Cabanagem esteve o negro Manuel Barbeiro, o negro liberto de apelido Patriota e o escravo Joaquim Antônio, que manifestavam idéias de igualdade social.



 

Origem do nome

O nome “Cabanagem” remete à habitação (“cabanas”) da população de mestiços, escravos libertos e indígenas que participaram da Cabanagem.



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Cabano Paraense. Pintura de Alfredo Norfini, 1940. Museu de Artes de Belém.
 


 
 

História

Após a Independência do Brasil, a Província do Grão-Pará mobilizou-se para expulsar as forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher. Terminada a luta pela independência e instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições, ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado pelas províncias do Sudeste e do Nordeste.


Em julho de 1831 estourou uma rebelião na guarnição militar de Belém do Pará, tendo Batista Campos sido preso como uma das lideranças implicadas. O presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados.


O primeiro grande erro de Lobo de Sousa foi rivalizar com Batista Campos. Criando o Correio Oficial Paraense, dirigido pelo cônego Gaspar Siqueira Queiroz, grande inimigo de Batista Campos. As críticas contra o nacionalista logo começaram, e aumentavam a cada edição. Batista Campos também começou a lançar suas críticas, contra o governo. Conseguiu, inclusive, uma pastoral do bispo D. Romualdo Coelho contra Lobo de Sousa, pelo fato deste ser maçom. Nesta altura, chegava ao Pará o jornalista Vicente Ferreira de Lavor Papagaio, mandado buscar no Maranhão por Batista Campos. Aquele vinha fundar um jornal para fazer oposição à Presidência da Província. O título do jornal, Sentinela Maranhense na Guarita do Pará. Sua linguagem, logo na edição inaugural, foi tão violenta, que Lobo de Sousa ordenou a prisão de Papagaio e Batista Campos.


O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Sousa Coelho, criticando alguns políticos da província. O cônego foi logo perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher, reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio) e ao seringueiro e jornalista Eduardo Angelim. Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo, no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel Vinagre e prender Malcher. Batista Campos morreu no último dia do ano, ao que tudo indica de uma infecção causada por um corte que sofreu ao fazer a barba.
 



 
O movimento Cabano

Em 7 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. O governo cabano não durou por muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher - tenente-coronel, latifundiário, dono de engenhos de açúcar - era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, é deposto em 19 de fevereiro de 1835. Por fim, Malcher acabou preso. Assumiu a Presidência, Francisco Vinagre.


 
 


 
 


 

 

 

 

 

 

  

 

Cabanagem, cenas na tela de Benedito Melo.

 

Em maio de 1935 chegou ao porto de Belém a fragata “Imperatriz”, enviada pelo presidente do Maranhão, a fim de terminar com o Governo revolucionário. Vinagre concordou em entregar a Presidência a Ângelo Custódio; mas, sobre pressão de Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, recuou.


Em 20 de junho de 1935, na baía de Guajará, aportou outra fragata com o novo presidente do Pará (nomeado pela Regência), marechal Manoel Jorge Rodrigues. Vinagre, contra o desejo de seu irmão Antônio, entregou o poder.


Na noite de 14 de agosto de 1835, tiveram início novos combates. A invasão de Belém se deu pelos bairros de São Braz e Nazaré. Desta forma, Belém caía novamente em poder dos revoltosos. Aos 21 anos de idade, Eduardo Angelim assumiu a Presidência da Província.
 



Fim da Cabanagem

Contudo, em abril de 1836 chegava o marechal José Soares de Andrea, novo presidente, nomeado pela Regência. Andrea intimou os cabanos a abandonarem Belém. Angelim e seus auxiliares concordaram.


A última fase da Cabanagem é iniciada com a tomada de Belém por Andréa, com o restabelecimento da legalidade na Província. Apossando-se de Belém, as lutas ainda duraram quatro anos no interior da Província, onde ocorria o avanço das forças militares de forma violenta até 1840.


A Cabanagem continua viva na memória do povo paraense como o movimento popular que permitiu que as classes populares chegassem ao poder instalando um governo popular ou cabano no Pará do século XIX.
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Monumento à Cabanagem, projetado por Oscar Niemeyer, em 1985. Belém, Pará.

 

 

 

Texto Complementar


A Cabanagem do Pará é o único movimento político do Brasil em que os pobres tomam o poder, de fato. É o único e isolado episódio de extrema violência social, quando os oprimidos – a ralé mais baixa, negros, tapuios, mulatos e cafuzos, além de brancos rebaixados que parecem não ter direito à branquitude, (...) assumem o poder e reinam absolutos, eliminando quase todas as formas de opressão, arrebentando com a hierarquia social, destruindo as forças militares e substituindo-as por algo que faz tremer os poderosos: o povo em armas.
(CHIAVENATO, Júlio José. Cabanagem: o povo no poder. São Paulo: Brasiliense, 1984. pp. 12-14.)
 



Bibliografia

CHIAVENATO, Júlio José. Cabanagem: o povo no poder. São Paulo: Brasiliense, 1984.

RAIOL, Domingo Antônio. Motins políticos. Belém: UFPA, 1970.

SALLES, Vicente. Memorial da Cabanagem. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1985".

(http://parahistorico.blogspot.com/2009/02/cabanagem-no-para-1835-1840.html)

 

 

 

 

 

 

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DIÁRIO DO PARÁ PONTO COM PONTO BR,
NOTÍCIA SOBRE EXIBIÇÃO CINEMATOGRÁFICA
DE FILME SOBRE A CABANAGEM
 
 
 
"Cinema
 
Terça-feira, 10/08/2010, 19h32
 
 
 

'Cabanos', de Sebastião Pereira, estreia no Iphan

 

 

'Cabanos', de Sebastião Pereira, estreia no Iphan
 

Primeiro longa metragem de ficção realizado no Pará desde Líbero Luxardo, o filme “Cabanos” estará no cineclube Inovacine nesta quarta-feira, 11. Baseado na revolução Cabana, o filme resulta do Projeto Cinescola. O realizador (e professor de História) Sebastião Pereira estará presente na sessão. Ele vai dialogar com o público sobre esta produção que tem no elenco e na técnica cerca de 70 alunos da Escola Estadual de Ensino  Médio e Fundamental Temístocles Araújo, Marambaia, Belém do Pará.

A partir de uma família de ribeirinhos, “Cabanos” revela de forma poética a única experiência revolucionária na qual o povo tomou o poder no país, a cabanagem, ocorrida na província do Grão-Pará, em 1835. Com cenas rodas na ilha de Mosqueiro, Abaetetuba, Cametá, e Belém, o filme pode Ser enquadrado na corrente estética do cinema pobre, que tem origem em Cuba (Humberto Solas) e se ramifica em países como EUA, México, Cabo Verde, Brasil, assumindo em cada um destes locais, características particulares fundadas nos mesmos princípios, quais sejam os de - sem economia da original inteligência artística, realizar filmes (de baixo orçamento) com temáticas sociais.

Quando um cineasta se dispõe a revisar um fato histórico numa perspectiva artística, ele tem consciência do óbvio, ou seja: realidade e ficção são duas substâncias heterogêneas que podem ser por ele misturadas na alquimia das imagens fotográficas, as quais, justapostas, dão-nos a ilusão do movimento. E foi isso que Sebastião Pereira fez sem a menor pretensão de ser um realizador (profissional) de cinema. Ele mostrou como é possível fazer um bom filme; sem dinheiro; sem economia (de esforços); com jovens (cerca de 70 alunos) - sem (nenhuma) experiência artística; e sem nenhum apoio institucional e empresarial.

O grande poeta-realizador soviético Andrei Tarkovsky dizia que o cinema é uma arte triste porque depende do dinheiro para sobreviver, entretanto, Sebastião Pereira conseguiu provar o contrário na Amazônia-Paraoara: o cinema transcende aos interesses econômicos e afirma uma consciência, histórica. Seus atores-jovens desempenham personagens (mais) maduros – e (no filme) adultos (ribeirinhos) dialogam com as crianças, com uma responsabilidade didática absoluta. A produção, que se esmerou em constituir figurinos de época, expõe a nu tanto a pobreza dos ribeirinhos quanto a própria pobreza ainda não assumida pelo cinema amazônida.

E a câmera (a câmera!), operada pelo nosso professor-realizador tem o compasso da batida do seu coração, com panorâmicas, travellings, e planos-sequências que delimitam a lógica linear da montagem, também entrecortada por uma narração que nos explica porque a cabanagem sucumbiu no interior do seu processo revolucionário, talvez – ouvi dizer - sem um projeto político definido.

A câmera de Sebastião Pereira é orgânica, traduz a pureza do homem ribeirinho, ou seja, o olhar de maresia à natureza a sua volta e também aos amigos (com os quais dialoga). É possível perceber que este olhar (subjetivo) tanto pode se fixar em um ponto quanto pode também titubear, retornar ao ponto inicial e de seguida procurar um outro ponto – e (de forma lancinante) intensificar e favorecer algumas ações (em espaços diversos) além do horizonte, mas não em uma paisagem em si, ao contrário, em “passagens” - de uma condição, subumana, para outra, nobre.

O professor-realizador-diretor-de-fotografia-produtor-operador-de-câmera Sebastião Pereira é intenso no que faz. Os diálogos, quase todos em som direto, os ruídos,  intermitentes, os diálogos das personagens, tradutores das nossas velhas angústias revolucionárias. Os sons da mata, as canções, os poemas, elementos sinestésicos, combinados, plano a plano, quadro a quadro, impactam o inconsciente de forma a virar-lhe pelo avesso.

SERVIÇO – “Cabanos”, de Sebastião Pereira, quarta-feira, dia 11 de agosto, 18:30H, no auditório do IPHAN

 

(http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-104879-CABANOS++DE+SEBASTIAO+PEREIRA++ESTREIA+NO+IPHAN.html)

 

 

 

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 (http://waldezcartuns.blogspot.com/2009_10_01_archive.html)

 

 

 

 

 

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DIVULGADO NO BLOG DA ARACELLI

[PROFª ARACELI LEMOS,

DEPUTADA ESTADUAL (PSOL-PA)],

ARTIGO DE MANOEL AMARAL SOBRE

A CABANAGEM:

"CABANAGEM, REVOLUÇÃO VIVA -

173 ANOS DA REVOLUÇÃO CABANA"

  

 

"Segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Cabanagem, revolução viva - 173 anos da Revolução Cabana

Por Manoel Amaral

Após esses 173 anos de Revolução Cabana, que foi coordenada por homens simples, anônimos, que escreveram, a partir da vontade coletiva, algumas das mais importantes páginas da história do povo brasileiro e em especial do povo paraense, a motivação desta vontade coletiva pode ser explicada, emprestando as palavras de Maria G. Gohn (1997, p.54): "enquanto a humanidade não resolver seus problemas básicos de desigualdades sociais, opressão e exclusão, haverá lutas, haverá movimentos". A situação por que passava a maioria do povo pobre do Pará foi o ingrediente mais do que justificável para que homens e mulheres das mais variadas cores e religiões pudessem se organizar e, de armas em punho, gritassem uníssonos por liberdade, justiça e igualdade.

 

Várias formas de se apropriar do legado da Cabanagem foram utilizadas. Em princípio Domingos Rayol tomou a Cabanagem como um motim de desalmados, irracionais que tinham como desejo a expressão da ira e do terror, argumento perfeito para consolidar a repressão sanguinária que derivou sua apreciação, gerando um genocídio neste Estado que dizimou um terço da população masculina paraense.

 

Mas Vicente Salles, um dos mais importantes historiadores paraenses, identifica uma luta de classes que eclode em 1835 com a Cabanagem. Relata a expressão política de membros excluídos da sociedade paraense, que era baseada nos grandes proprietários e comerciantes portugueses, por trás da simples oposição entre portugueses e brasileiros - havia uma heterogeneidade de posições que se somaram, formando um quadro político instável na província. De acordo com ele, de um lado estava o colonizador, uma minoria que controlava o poder e os meios de produção; em oposição, estava o colonizado, "massa heterogênea de camponeses e peões", pertencente à categoria de homens livres sem terra "vivendo à margem da escravidão". Em muitos momentos, a condição do colonizado era pior até que a situação dos escravos.

 

Como o subtítulo diz, o livro de Vicente Salles é a "história do pensamento político-revolucionário do Grão-Pará", pensamento cujas raízes estão nas grandes transformações ocorridas no final do século XVIII e no início do século XIX. A Cabanagem é a soma do reflexo da ação desempenhada por idéias liberais, republicanas e libertárias. A Revolução Francesa, a Revolução Americana e a Revolta dos Iguais, principalmente, exerceram papel importante na propagação de idéias políticas entre diferentes camadas da sociedade do Grão-Pará.

 

Vicente Salles faz uma apresentação de diversos pontos que contribuíram para esse momento de explosão das massas, como ele se refere. Vicente Salles se centra em uma análise estrutural para definir quem é quem na estrutura social da época e, conseqüentemente, dentro do movimento cabano. São índios, negros e caboclos ou, ainda, lavradores e pequenos proprietários que lutam contra portugueses. Ao se pensar no esquema de interpretação de crise política e revolução proposto por Lênin, no qual está a luta interna entre as classes dominantes, a pauperização das classes populares e sua ascensão política, vê-se que tais elementos implícitos estão na análise proposta por Vicente Salles. O crescimento político das classes populares é um fator intensamente relatado, Vicente Salles aborda a difusão das idéias do socialismo utópico elaboradas por Saint-Simon na Europa, sugere que no Brasil, essas idéias estiveram limitadas por não haver a organização de uma classe operária. Os intelectuais brasileiros educavam-se, em sua maioria, na Europa e lá tomavam contato com as idéias do início do século. Entre elas estavam o socialismo utópico e o livre comércio.

 

No campo político, na década de 80 o governo de Jader Barbalho, apoiado em parâmetros populistas tenta se apropriar da Cabanagem para dar uma roupagem popular em seu governo.

 

Na década de 90, o governo municipal de Edmilson Rodrigues materializou os ideais de democracia cabana e promoveu as ações populares e democráticas que caracterizou seu governo como o terceiro governo cabano, o povo de Belém pôde, durante oito anos, promover uma verdadeira revolução nas ações governamentais participando ativamente do processo de construção do orçamento e definindo metas estruturais do governo municipal. O povo de Belém pôde mais uma vez segurar as rédeas de seu futuro.

 

Obviamente que se deve destacar os limites de um governo municipal frente os ataques cotidianos da burguesia local e nacional frente a ações que despertavam os trabalhadores (as) paraenses.

 

Como podemos notar, a Cabanagem representa a identidade do povo paraense, ainda pouco utilizada, mas capaz de mobilizar importantes parcelas da sociedade, seja do ponto de vista acadêmico, seja na prática política institucional.

 

Nunca foram tão atuais os preceitos que motivaram as centenas de homens e mulheres no Estado do Pará em 1835. Em tempos de acumulação do capital e da aplicação de medidas que afastam os trabalhadores (as) das principais decisões políticas, é evidente a necessidade de ações que possam colocar em xeque medidas anti-populares de caráter autoritário e populista do atual governo.

 

Os fatos que presenciamos hoje, como a vergonhosa escalada do crime organizado, a chaga aberta na sociedade do trabalho escravo, os cortes de verbas governamentais para a educação e saúde, que servem ao pagamento da dívida “eterna” brasileira, o abandono de principio caros à esquerda por parte de partidos tidos como aliados dos trabalhadores em troca da manutenção da ordem política burguesa, a violência no campo que faz sucumbir os direitos fundamentais do homem, a degradação da natureza em troca do lucro pelo lucro, o comportamento antiético que impera nas ações gerais da maioria dos (as) político (as) brasileiros (as), a submissão sem medida ao capital internacional que soterra nossa soberania, nos faz pensar que passados esses 173 anos do janeiro em que o povo tomou o poder do Pará pelas mãos e instituiu seu próprio governo não só é merecedor de referência como é um exemplo a ser seguido.

 

Ao povo do Pará que agora, mais uma vez, se vê enganado por falsas promessas, resta notar que a verdadeira mudança será fruto de sua participação efetiva. Evitar aqueles que escondem suas idéias passadas e as substituem por novas (mais frutos de velhos pensamentos) e que editam as mesmas propostas que antes criticavam, deve ser razão de esperar um rumo novo para o povo paraense, um rumo de horizonte ribeirinho, um norte Cabano.

 

Viva a cabanagem e seu povo; viva o seu legado e o seu exemplo, viva os negros e negras, índios e índias, brancos e brancas, mulatos e mulatas que construíram essa página na história paraense e que até hoje nos orgulha.

 

 

Manoel Amaral, professor, assessor do senador José Nery – PSOL e Coordenador do Centro Memorial Cabano (CMC) – Pa".

 

(http://www.uniblog.com.br/aracelilemos/300247/cabanagem-revolucao-viva---173-anos-da-revolucao-cabana-por-manoel-amaral.html)