Bate-papo com o poeta Luiz Filho

O poeta Luiz Filho de Oliveira, autor, entre outros, de "Das bocadas infernéticas", participou do bate-papo no Portal Entretextos, ontem, 26 . Veja como foi. Clique aqui

Pequena bateria de poemas de Luiz Filho de Oliveira:

Fake in Brazil

Há água na água de coco engarrafada;
milho, no café e na cerveja de casa;
no leite, não só água, soda cáustica!

As bebidas (do uísque à cachaça!), batizadas;
as camisas (muitas marcas!), piratas;
a justiça, a política, de-nelson, de nada.

Há povo há muito tempo enganado
por muitas gentes e anos de trapaça;
é o que por muitos aquis ainda grassa.

(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Das Bocadas Infernéticas. Editora Penalux: Guaratinguetá, 2016.)
 
 
Assalto à mão teclada

Com a tela encoberta toda 
por um tecido de códigos,
cobrindo o rosto de propósito,
um hacker le-assaltou agora,
há segundos atrás num chat,
quando le-apontou um mouse velho
e levou do bolso do poeta o quanto 
ele teclou texto em sua conta.
– Copylantra!
 
A blogar uma carta satírica de Vila Rica a tristes Brasílias
 
Ó Cláudio, Tomás, Doroteu, Critilo,
minhas saudações, ainda que tardias!
Cumpre a mim refletir o mal vivido
nesta missiva, que ao povo analisa,
novamente, as cenas, se pôr digo
tal pena moderna-pós, o teclado,
no mal que não vem de Chile, de fato;
a glosar este mote, teclo à Rede e
“sei que o que les-escrevo são verdades
e que vêm muito bem ao nosso caso”.
 
As peripécias, as mesmas, caríssimos,
e, Poeta, com meu vício, teclo às páginas
dos grandes do país e dos pequenos
os casos do mal vivido, na intriga:
a putinha ainda dá a justo soldo e,
nua, ela continua bem vestida;
os religiosos (gozosos) devoram
homens, mulheres, meninos, meninas;
os governantes, públicos agentes,
comerciantes, policiam incestos,
que mantêm com a enxerga da justiça!
 
Também não poderiam ser diferentes
as consequências que provêm disso:
o avesso é, sim, excelente exemplo!
Por que não le-apresentar, pois tão caro?
É certo que nem todos têm os olhos
que um Tomé teve pra ver de perto:
o poder de milícia à Vila Rica
hoje é política, Critilo – sério! –,
já que a pizza dos deputados é
prato cheio prouto golpe, Senado!
 
Tudo caminha prum mesmo lugar;
se o dinheiro vem do cofre, bem sujo – 
“Tá branco, lavadas verdinhas banco:
governo é injustiça; um homem, dinheiro!” –
e, se a milícia corrupta hoje no país
coage o povo como antes, isso faz
parte desses negócios com os ternos.
De fato: a força força a porta, o muro!
Sempre foram aptos ao optar os corruptos
pelas finíssimas mãos fidindignas!
 
E mais: quais religiosos conseguem –
quem sabe a punhetas ou outras técnicas –
ficar sem fazer delícias com o sexo
pelo tempo que dizem amar seus deuses?
Aqui, padres, pastores, pais de santo
comem seu rebanho até em seus templos,
o que hoje é fácil de provar, exemplos
há tantos,  prova gravada: movimento!
Ah! mulheres, o de sempre: conventres
cobertos em catre santo, fazendo...
 
Que esses agentes, públicos, privados,
sagrados, laicos, reais, literários,
sejam o que devem ser neste espetáculo;
visto que este texto está a gravá-los
vestidos de improviso fora do ato.
Sabem os grandes, meus Cláudio e Tomás,
que o público da informática máquina,
não rechaça a chance de gravar,
seja de Paços, gabinetes, pastas,
tantas cenas de ilícitos cortadas.
 
Apois, não apostem se uma postagem
não pode escrevinhar a imagem sua,
ou se uma dessas câmeras não grava
seus truques por vídeos ou fotográficas
imagens vivas em voz telefônica,
“que dessas insolências que les-conto
não só pode ver quem mora no Chile”:
a Rede toda assiste, lê, responde.
Salve esses parentes da carta anônima,
que ora incitam tristes Brasílias de hoje!

(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Das Bocadas Infernéticas. WEB: 2015.)
 

Poema postado como fotográfico



Não desçam mais, não-décimas; fiquem nesta!
 
 
Minha vovó-amiga, não vou vaiar a
vossa vida de poucas imagens – eu mesmo,
que a lápis este poema não mais escrevo –;
não, e não vou gravar, na minha máquina,
a fotografia desse passado ícone, mágico, pois
clico, hoje, que, nesses instantes rápidos, as
minhas virtuais amizades possuem postadas
mais fotos do que toda a vossa família cria
ser possível, num álbum, regisTRÁ-LHAS!
 
Vós sabíeis, vó, que a vossa memória era o palco,
onde essas vossas lembranças desfilavam, qual
o filme mágico que a vós foi apresentado; mas
em minha cerebralma está a vossa imagem gravada
com as películas que não mais são físicas, mas
que são mais duráveis do que essas amizades,
que não chegam a anos de vida, pois descartáveis
e pouco sensíveis a esses fatos passados, vó. Não vaio.
Eu vou vos-seguindo a vibe de estar convosco conectado.