ROGEL SAMUEL

 
John Barbirolli regeu a Filarmônica de Londres no Maracanazinho no dia 2 se setembro de 1963.
Foi o melhor concerto a que assisti em toda a minha vida.
Eu tinha 20 anos na época e morava quase em frente.
Então, em vez de sentar numa daquelas cadeiras dispostas para o público, dei a volta e me coloquei por trás da orquestra, orquestra que estava nas galerias. Queria ver a regência de frente.
Eu era o único que estava lá e logo temi ser expulso, pois a minha posição era tal que eu podia ser um dos músicos ali perto.
Praticamente, entrei na orquestra.
Assim me mantive quieto, quase abaixado, para não chamar atenção.
Logo notei uma diferença: os músicos entravam em silêncio... nenhuma conversa... nem afinação de instrumentos...
Não me olharam.
Depois veio Barbirroli, passinhos curtos, porte fidalgo,  baixinho, elegante.
Morreu 7 anos depois, nasceu em 1899 e faleceu em 1970.
Seu maior desafio foi substituir Toscanini, que era um superstar.
Barbirolli naquele dia a princípio implicou com o ruído do trânsito, que chegava até nós.
Olhava irritado para os lados.
Depois, iniciou a abertura “La gazza ladra” de Rossini, que logo interrompeu pois, voltando-se para o público, gritou:
- No photos! No photos!
Os fotógrafos explodiam flashes na cara dos músicos.
La gazza ladra” foi interpretada marcialmente, com a pureza dos sons daquela insuperável orquestra deslumbrante.
Depois veio o melhor: A Segunda Sinfonia de Brahms.
Sua interpretação dessa sinfonia era famosa, ele transformava a sinfonia em um diálogo, um diálogo entre duas vozes, até o fim, como se dois elementos se falasem, em perguntas e respostas. 
Os músicos se levantavam quando iam tocar os trompetes.
Viajei naquela música, naquela regência eletrizante, nervosa, trêmula...

Barbirolli nos levou ao delírio.