COMENTÁRIO DE LEITORA
COMENTÁRIO DE LEITORA
Por Flávio Bittencourt Em: 04/06/2011, às 08H57
[Flávio Bittencourt]
Barbárie na África do Sul: macaco vervet é linchado por conseguir falar
Etologistas consideram que os diferentes sons emitidos pelo vervet para avisar a presença de leopardos, cobras e águias são uma protolinguagem.
Macaco vervet fêmea de Uganda.
Foto: Rhett A. Butler
(http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=31&id=360))
The Mahoney Institute of Neurological Sciences - Univ. of Pennsylvania, EUA
(MEMBRO DO INSTITUTO: PROF. DR. ROBERT M. SEYFARTH -
Professor do Departamento de Psicologia D-16 Solomon Psychology Lab Building)
My research [MINHA PESQUISA (pesquisa do Prof. Dr. R. M. Seyffarth)] is conducted jointly with Prof. Dorothy L. Cheney (Biology). Our current research subjects are drawn from two groups of free-ranging baboons (Papio cynocephalus ursinus), which we study in the Moremi Game Reserve, Okavanago Delta, Botswana.
Part of our research examines the predator alarm calls given by baboons to lions, leopards, crocodiles, and pythons. Theory suggests that acoustically different alarm calls should evolve whenever animals confront different predator species whose hunting strategies require different modes of escape. For example, East African vervet monkeys confront a variety of different predators (leopards, eagles, and snakes) that hunt in different ways and require different escape strategies. Presumably as a result, vervets possess a number of acoustically distinct alarm calls, each of which elicits a different, adaptive response.
Baboons in our study area respond differently to different predators. For example, when they encounter lions at close range they escape into trees but when they encounter leopards, at least during daylight hours, they chase and even attack them. When baboons encounter pythons they become vigilant, approach, and give alarms, but when they encounter crocodiles near the river they give choruses of alarm calls and flee from the water's edge. (....)"
(http://www.med.upenn.edu/ins/faculty/seyfarth.htm, o grifo é nosso)
Prof. Dr. Robert M. Seyfarth:
Macacos podem falar? (em inglês -
Can Monkeys Talk?),
YOUTUBE:
http://www.youtube.com/watch?v=3lsF83rHKFc
"Boatos de que o macaco podia falar se espalharam quando o animal entrou no vilarejo; ele foi então capturado e queimado" FOTO: BBC |
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Danielle Guedes Guedes · Manaus, Amazonas
COMENTÁRIO DE LEITOR
Elifas Alves Sobrinho · UNACh MX
Michelle Gama · Trabalha na empresa Prefeitura Municipal de Taubaté
"O MACACO QUE DEVERIA GANHAR UMA MEDALHA HUMANA E RECOMPENSAS EM TERMOS DE MELHOR ALIMENTAÇÃO, MORADIA DIGNA, ATENDIMENTO MÉDICO-VETERINÁRIO E ACESSO AO AFETO DE MACACA-VERVET FOI VÍTIMA DE LINCHAMENTO PORQUE NATIVOS SUPERSTICIOSOS CONSIDERARAM QUE SEU DOM ERA O RESULTADO DE ATOS DE BRUXARIA (atos de bruxaria de humanos, diga-se de passagem...)"
(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")
"HÁ, NO PLANETA TERRA, APROXIMADAMENTE MAIS DE 6,7 BILHÕES DE MACACOS (OS SEM RABO, como não acontece com os vervets, que possuem uma bela cauda) QUE FALAM MUITO E, NEM POR ISSO, SÃO ELES LINCHADOS POR BRUXARIA (alguns o foram)"
(IDEM)
"ASSIM COMO VÁRIOS MACACOS SEM RABO, ALEGANDO SER POLITICAMENTE CORRETOS, DESEJAM INCLUIR AGRESSÕES ÀS REGRAS CULTAS DE IDIOMAS EM LIVROS ESCOLARES, OUTRAS CAVALGADURAS - equinos que falam - CONSIDERAM QUE DEVEMOS RESPEITAR SUPERSTIÇÕES AUTÓCTONES QUANDO HÁ LINCHAMENTOS EM RAZÃO DE SUSPEITAS DE BRUXARIA: pelo contrário, o macaco da África do Sul que conseguia estabelecer diálogos - AINDA QUE UM POUCO TOSCOS - com humanos deveria ter sido salvo pela Sociedade Protetora dos Animais daquele País, sendo resgatado, de helicóptero, por muito bem treinadas tropas especiais do tipo BOPE ou SWAT, dos nativos enlouquecidos que o assassinaram, assim como os macacos sem rabo que o lincharam deveriam ser presos e julgados pela justiça dos humanos que (também) falam e que, quando são sensatos, protegem os animais ditos ' irracionais ' inteligentes "
(IBIDEM)
COMENTÁRIO DE LEITOR
João Helou · São Paulo, Brazil
COMO HOMENAGEM AOS PROFs. DRs.
ROBERT M. SEYFARTH E DOROTHY L. CHENEY,
DA UNIVERSIDADE DA PENSINVÂNIA (EUA),
CUJAS PESQUISAS AJUDAM NA COMPREENSÃO NÃO
APENAS DAS COMUNICAÇÕES DOS PRIMATAS
CONSIDERADOS "NÃO-RACIONAIS" - a expressão
não é deles, mas do senso comum, aqui utilizada
por uma razão meramente denotativa (saber-se
sobre o quê se está falando) - COMO
SUGEREM CERTAS CAPACIDADES PRÉ-FALANTES
ADQUIRIDAS NO PROCESSO DE EVOLUÇÃO FILOGENÉTICA
DA ESPÉCIE POSSIVELMENTE SULAFRICANA / CENTROAFRICANA
ANTECESSORA DO HOMO SAPIENS SAPIENS,
agradecendo a Rodrigo Cunha por ter elaborado,
com a seriedade que o assunto requer,
"A comunicação primata e a linguagem humana" E
PEDINDO DESCULPAS PELA POUCA CIENTIFICIDADE DE
CONSIDERAÇÕES AQUI MOTIVADAS PELA INACEITAÇÃO DE
ASSASSINATO DE UM MACACO VERTET, RECENTEMENTE
ACONTECIDO NA ÁFRICA DO SUL, MERO DESABAFO
DE DECEPÇÃO COM A ESPÉCIE DITA HUMANA,
irracional ou semirracional-perversa
4.6.2011 - ELES MATAM MACACOS, MAS O CASTIGO DIVINO LHES SERÁ EXEMPLAR - Quem matou o macaco-vervet, na África do Sul, só porque ele falava, haverá de arder no lugar mais quente do inferno dos macacos-sem-rabo por toda a eternidade. F. A. L. Bittencourt ([email protected])
PORTAL BOL - Notícias
(c/ notícias da BBC - BRASIL),
2 de junho de 2011:
02/06/2011 - 13h25 | da Folha.com
DA BBC BRASIL
Os moradores do vilarejo de Kagiso, perto de Johannesburgo, na África do Sul, apedrejaram e queimaram vivo um macaco vervet depois de alegarem que o animal estava ligado a algum tipo de bruxaria.BBC |
Boatos de que o macaco podia falar se espalharam quando o animal entrou no vilarejo; ele foi então capturado e queimado |
VERBETE ' MACACO VERVET '
(em inglês), WIKIPÉDIA:
Vervet monkey[1] | |
---|---|
Vervet Monkey at Dar es Salaam, Tanzania | |
Conservation status | |
Scientific classification | |
Kingdom: | Animalia |
Phylum: | Chordata |
Class: | Mammalia |
Order: | Primates |
Family: | Cercopithecidae |
Genus: | Chlorocebus |
Species: | C. pygerythrus |
Binomial name | |
Chlorocebus pygerythrus F. Cuvier, 1821 |
|
Vervet Monkey range |
The vervet monkey (Chlorocebus pygerythrus), or simply vervet, is an Old World monkey of the family Cercopithecidae native to Africa. The term "vervet" is also used to refer to all the members of the genus Chlorocebus.
Contents |
The vervet monkey was previously classified as Cercopithecus aethiops. The vervet and malbrouck have often been considered conspecific, or as subspecies of the widespread Grivet.[3]
There are five distinct subspecies of vervet monkey.[2]
The vervet monkey has a black face with a white fringe of hair, while the overall body colour is mostly grizzled-grey.[8] The males of all species have a pale blue scrotum and a red penis.[9] The species exhibits sexual dimorphism, the males are larger in weight and body length. Adult males weigh between 3.9 and 8.0 kilograms (8.6 and 18 lb), averaging 5.5 kilograms (12 lb), and have a body length between 420 and 600 millimetres (17 and 24 in), averaging 490 millimetres (19 in) from the top of the head to the base of the tail. Adult females weigh between 3.4 and 5.3 kilograms (7.5 and 12 lb) and average 4.1 kilograms (9.0 lb), and measure between 300 and 495 millimetres (12 and 19.5 in), averaging 426 millimetres (16.8 in).[10][7]
The vervet monkey is diurnal and social; living in groups of up to 38.[11] There is a clear order of dominance among individuals within the group.
Vervets are not only good swimmers on the surface, but are capable of diving and proficiently swimming fair distances under water.
The vervet monkey uses different sounds to warn of different types of predators. It has distinct calls to warn of the sighting of a leopard, a snake, or an eagle. These sounds are considered a proto-language by many ethologists.[who?]
The young appear to have an innate tendency to make these alarm calls, and adult monkeys seem to give positive reinforcement when the young make the right call, by repeating the alarm. Mothers have been reported to punish young giving the wrong call.[12]
The vervet monkey eats a wide range of fruits, figs, leaves, seeds and flowers. It also eats birds' eggs and young chicks, and insects (grasshoppers and termites). In human inhabited environments it will eat bread and various crops; especially maize.
A list of some natural food plants and part of the plant eaten, in South Africa:[13][7]
The vervet monkey ranges throughout much of Southern and East Africa, being found from Ethiopia, Somalia and extreme southern Sudan, to South Africa. It is not found west of the Great Rift Valley or the Luangwa River,[1] where it is replaced by the closely related Malbrouck (C. cynosuros). The vervet monkey inhabits savanna, riverine woodland, coastal forest and mountains up to 4000 m (13,100 ft). They are adaptable and able to persist in secondary and/or highly fragmented vegetation, including cultivated areas, and sometimes found living in both rural and urban environments.[2]
Introduced vervets also occur in Barbados, Saint Kitts, and Nevis.[14]
In spite of low predator populations in many areas where human development has encroached on wild territories, this species is killed by electricity pylons, vehicles, dogs, pellet guns, poison, and bullets and is trapped for traditional medicine, bush meat, and for biomedical research.[15] The vervet monkey has a complex and fragile social system, its persecution is thought to have affected troop structures and diminishing numbers.
Multiple organisations are involved in vervet monkey conservation.
This species was known in ancient Egypt including the Red Sea Mountains and the Nile Valley.[16] From fresco artworks found in Akrotiri on the Mediterranean island of Santorini there is evidence that the vervet monkey was known to the inhabitants of this settlement around 2000 BC; this fact is most noted for evidence of early contact between Egypt and Akrotiri.[17]
Vervet monkeys in Samburu
Male Vervet Monkey at Lake Manyara National Park, Tanzania, showing blue scrotum.
Female and juvenile, Kruger Park, South Africa
Reportagem | |
Comunicação primata e a linguagem humana: algo em comum? | |
Por Rodrigo Cunha | |
Nas últimas décadas, diversas pesquisas envolvendo primatas em seu habitat natural têm demonstrado que, guardadas as devidas proporções, a complexidade da vida social e a capacidade de criar e manipular ferramentas não são exclusividades humanas. Mas além do vasto repertório de criações do homem ser inigualável, muito antes da invenção da roda ele já havia criado a máquina mais fantástica de todos os tempos, na opinião do escritor argentino Jorge Luis Borges – que usou com maestria esse artefato universal e ao alcance de todo e qualquer ser humano: a linguagem. Há algo em comum ou alguma relação entre esse fantástico aparato humano e a comunicação animal – particularmente, a de outros primatas? Houve um grande salto evolutivo para o surgimento da linguagem? Em 1980, a bióloga Doroth Cheney e o psicólogo Robert Seyfarth, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, apresentaram em parceria com Peter Marler, do Laboratório de Comunicação Animal da Universidade da Califórnia, um estudo sobre chamados de alarme emitidos por macacos vervet (Cercopithecus aethiops) para anunciar aos membros de seu grupo a presença de diferentes tipos de predadores. Os pesquisadores identificaram três chamados distintos. Ao ouvir um deles, os vervet se escondiam atrás de moitas e olhavam para o alto, esperando a chegada de uma águia. Outro chamado os levava a ficar eretos no solo e atentos aos movimentos no chão, à espera da passagem de uma cobra. O terceiro chamado indicava que eles deviam subir no abrigo mais comum entre os primatas, as árvores, para não serem pegos por um leopardo.
Uma década depois, o brasileiro Francisco Dyonisio Cardoso Mendes, antropólogo com especialização em primatologia, iniciou uma série de gravações de sons emitidos por muriquis (Brachyteles arachnoides) da Estação Biológica de Caratinga, em Minas Gerais , uma área de Mata Atlântica ainda preservada. O estudo desse que é considerado o maior primata das Américas, desenvolvido por Mendes ao longo do mestrado e do doutorado em psicologia experimental pela USP, sob orientação de César Ades, levou a achados sobre a vocalização dos muriquis que chamaram a atenção do foneticista Didier Demolin, da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica. A partir da fonética acústica, que estuda os sons da fala humana, Demolin, Ades e Mendes analisaram chamados longos usados em distâncias acima de 50 metros entre membros do grupo, identificados como relinchos, e chamados curtos, identificados como estacados, usados em distâncias curtas. “Relinchos e estacados são vocalizações cuja estrutura acústica difere das vocalizações emitidas em contextos específicos”, afirma Mendes, referindo-se a choros de filhotes que se sentem abandonados, a convocações da mãe à prole desgarrada ou a alarmes em situação de perigo. Ele não distingue esses últimos como sons inatos – herdados geneticamente – em contraposição àqueles chamados mais complexos, que envolvem diferentes recombinações de 14 elementos sonoros e ocorrem como intercâmbios seqüenciais, nos quais um muriqui responde ao chamado do outro. “Dificilmente um determinado comportamento é apenas inato ou apenas aprendido, e não temos estudos sobre o desenvolvimento das vocalizações de muriquis pra saber o quanto elas são aprendidas”, diz Francisco Mendes. “Esse achado é muito importante. Há sons dos muriquis com vibrações que parecem com a das nossas consoantes vibrantes”, avalia Eleonora Cavalcanti Albano, do Laboratório de Fonética e Psicolingüística da Unicamp, que teve acesso aos dados e às análises acústicas. “Mas a articulação é diferente. O trato vocal deles é pequeno, bem menor que o nosso”, completa, mencionando a parte do corpo entre as pregas ou cordas vocais e os lábios, usada para articular os sons.
Mendes, que é professor da Universidade Católica de Goiás, e Ades, da USP, acreditam que o alto grau de dispersão dos muriquis e a densa vegetação do seu habitat podem ter favorecido a evolução das complexas vocalizações nessa espécie, por dificultar um outro tipo de comunicação, a visual. “Posturas, movimentos e expressões faciais são muito importantes para os primatas, mas necessitam de ambientes mais abertos para que sejam eficientes. Primatas que vivem em florestas tendem a utilizar mais frequentemente a comunicação vocal e possuir vocalizações mais complexas”, observa Mendes. Ainda não há descrição semântica sobre os significados das diferentes combinações de sons dos muriquis, como a que foi feita em relação aos vervet, associando três tipos de chamados a três situações específicas. “A dificuldade de encontrar o contexto específico de estacados e relinchos tem a ver com o fato de eles acontecerem ao longo do dia em diversos contextos. Mas alguns elementos sonoros contidos em estacados e relinchos foram associados a alguns contextos, como por exemplo o estado reprodutivo da fêmea vocalizadora, a coesão do grupo durante o forrageio (procura de alimento) e a presença de grupos vizinhos de muriquis”, conta o antropólogo da Universidade Católica de Goiás. Mesmo que o avanço das pesquisas chegasse à associação de diferentes combinações de sons a significados específicos – da mesma forma que na linguagem humana atribuímos um sentido a “lobo” e outro a “bolo” –, o que poderia levar a um “vocabulário muriqui”, ainda assim não seria possível chamar essa comunicação propriamente de linguagem. “Seria um léxico (vocabulário) como o de uma criança com menos de dois anos de idade. A capacidade de combinação é pequena”, pontua Albano, da Unicamp. Além disso, mesmo no caso dos vervet, embora emitam um som interpretável como “leopardo”, não há evidência de que eles seriam capazes de visualizar uma pegada e dizer algo do tipo “por aqui passou um leopardo” ou “o leopardo pode voltar”. A possibilidade de relatar o passado, predizer o futuro ou referir-se a algo que não está presente são características que distinguem a linguagem humana. “Em uma língua natural, você tem liberdade no tempo e no espaço para falar de qualquer coisa”, completa a pesquisadora. Segundo Albano, pode-se caracterizar as vocalizações dos muriquis como uma protolinguagem. O termo, emprestado da lingüística comparativa, área de estudo que faz a comparação de línguas aparentadas para chegar a uma proto-língua de origem comum, foi usado pelo lingüista Derek Bickerton e pelo neurologista William Calvin, no livro Lingua ex machina – reconciling Darwin and Chomsky with the human brain (Lingua ex - machina: reconciliando Darwin e Chomsky com o cérebro humano) (2000), para tratar da evolução da linguagem. A partir da teoria evolutiva de Darwin, os autores levantam a hipótese de que uma protolinguagem relativamente simples, formada por gestos e algumas palavras, teria surgido a partir de pressões seletivas envolvendo a interação com o ambiente, como a necessidade de notar e interpretar pistas como pegadas, para escapar de um predador, já que o homem vivia em savanas, onde não havia a proteção das árvores das florestas tropicais habitadas por chimpanzés, além de sua capacidade para subi-las ser menor. A reconciliação anunciada no subtítulo do livro está na proposição da protolinguagem como um estágio entre a ausência de linguagem e a linguagem plena que o lingüista Noam Chomsky acredita ser inata no ser humano. Segundo ele, herdaríamos geneticamente princípios sintáticos universais – como a existência de sujeito, verbo e objeto em qualquer língua –, enquanto parâmetros específicos – como o adjetivo vir antes do substantivo, em inglês – seriam fixados no contato da criança com a língua dos pais. “Todas as línguas do mundo permitem formular infinitas frases a partir de um número finito de palavras e de regras sintáticas. E qualquer criança de quatro anos já consegue falar fluentemente em sua língua materna sem nunca ter ido à escola”, diz Gabriel de Ávila Othero, da PUC-RS, que também tenta conciliar Chomsky e o evolucionismo em textos como “Darwin, Lamarck e a lingüística” e “A comunicação animal: uma forma de linguagem?”. Neste último, embora não use o termo protolinguagem, Othero discorda da afirmação de Chomsky sobre não haver qualquer semelhança entre a comunicação animal e a linguagem humana, mas concorda que a riqueza de criar sentenças distintas a partir de termos recorrentes na língua seja uma exclusividade humana. De acordo com Othero, os primatas conseguem lidar com uma linguagem simbólica e criar sentenças rudimentares, mencionando o chimpanzé Chimpsky – batizado assim, como uma referência a Chomsky – e a gorila Koko que foram domesticados em centros de primatologia e treinados para usar a língua de sinais norte-americana. “O que acontece no caso dos animais que dominam alguma linguagem de sinais é que eles apresentam uma sintaxe bastante rudimentar, sem essa capacidade de criação e de recursão. Além disso, esses animais passam por treinamentos exaustivos e artificiais. Não vemos na natureza animais se comunicarem pela linguagem de sinais”, observa. Os pioneiros em pesquisas envolvendo domesticação e treinamento de primatas foram Winthrop Kellogg, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e sua esposa Luella. O casal adotou em 1931 uma chimpanzé de sete meses e meio de idade, Gua, para criá-la junto com seu filho Donald, então com dez meses. Os pesquisadores relatam a percepção da chimpanzé em relação a sentenças como a sugestão dos pais para que Donald pegasse a mão de Gua, em que ela geralmente tomava a iniciativa. Eles tentaram ensinar a Gua e Donald várias palavras do inglês, sem sucesso durante os nove meses do experimento. O caso mais notável é o da bonobo Kanzi, estudada por Sue Savage-Rumbaugh no Centro de Estudos de Primatas de Yerkes, também nos Estados Unidos. Ela demonstrou um interesse bem maior que o de sua mãe no treinamento do uso de teclado de computador com lexigramas (ícones em lugar de palavras). Já no primeiro dia de treinamento, Kanzi usou o teclado 120 vezes, e segundo a pesquisadora, a bonobo comunicou-se naturalmente e sabia o que os símbolos significavam. “Está mais do que provado que os primatas são capazes de lidar com símbolos, e Kanzi é um exemplo disso”, diz Eleonora Albano, da Unicamp. Ela menciona a descoberta feita pelo italiano Giacomo Rizzolatti, do Departamento de Neurociências da Universidade de Parma, há quase uma década, dos neurônios espelhos no lóbulo frontal de macacos. Esses neurônios respondem à observação de um movimento e estão ligados ao aprendizado por imitação. Alguns pesquisadores, como Vilayanur Ramachandran, do Departamento de Neurociências da Universidade da Califórnia, associam esses neurônios à origem da linguagem pela imitação de gestos. Albano concorda com a hipótese de que a linguagem pode ter surgido primeiro com gestos, que durante um tempo conviveram com palavras na construção de sentenças simples – como propõe Bickerton, em sua hipótese da protolinguagem – e depois evoluíram para a complexa vocalização que usamos há milhares de anos. A pesquisadora da Unicamp está orientando uma pesquisa de doutorado, desenvolvida por Leonardo Couto, que através de simulação em computador, vai testar se a hipótese gestual para o surgimento da fala é plausível. Segundo ela, a abordagem de Couto não será sobre a vantagem adaptativa da fala diante do gesto, e sim sobre a vantagem perceptiva, ou seja, no entendimento do que o outro diz. Mas a questão da origem da linguagem é controversa e o próprio Bickerton, em Lingua ex-machina, assume sua idéia de protolinguagem como uma especulação talvez não comprovável. “Chomsky diz que existem problemas (que ainda não solucionamos, mas estamos caminhando pra isso) e mistérios (que nunca iremos solucionar)”, lembra Othero, da PUC-RS. “A questão da origem da linguagem parece estar mais para um mistério do que para um problema”, opina. Se ele está certo ou se seremos capazes de um dia desvendar esse mistério, só o futuro dirá. Leia também: |