Asa de Corvo
Por Rogel Samuel Em: 25/05/2015, às 04H53
                            
Asa de Corvo 
Asa de corvos carniceiros, asa 
De mau agouro que, nos doze meses, 
Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes 
O telhado de nossa própria casa... 
Perseguido por todos os reveses, 
É meu destino viver junto a essa asa, 
Como a cinza que vive junto à brasa, 
Como os Goncourts, como os irmãos siameses! 
É com essa asa que eu faço este soneto 
E a indústria humana faz o pano preto 
Que as famílias de luto martiriza... 
É ainda com essa asa extraordinária 
Que a Morte — a costureira funerária — 
Cose para o homem a última camisa! 
                                             Augusto dos Anjos

                                                        