As eleições de 1962 em Bertolínia
Por Reginaldo Miranda Em: 19/12/2016, às 11H34
Reginaldo Miranda*
Em 1964 o Município de Bertolínia vivia numa acirrada disputa política entre o PSD e a UDN. As eleições municipais anteriores(1962) foram, até então, as mais acirradas de sua história. É que o PSD vinha mandando no município desde a redemocratização do País, i.é., desde o primeiro pleito travado em fevereiro de 1948. E mesmo antes, seus membros representavam a terceira e segunda geração de políticos da mesma família, descendentes dos fundadores da municipalidade(1890), até então invictos em disputas políticas municipais. O presidente do partido era o velho político e ex-prefeito Dermeval Mendes da Rocha, também chefe político local, que fora eleito em apertada vitória no referido pleito de 1962. Porém, o seu vice, Martinho Duarte Franco(PSD) não consegui eleger-se, vez que o voto era separado.
As eleições municipais de 1962 foram casadas com as estaduais, mas o diretório municipal do PSD não seguiu a orientação estadual de unir-se à UDN, preferindo acompanhar a dissidência estadual e apoiar a candidatura a governador do dissidente Constantino Pereira(ex-PSD) que filiou-se ao PTB, contra a candidatura de Petrônio Portella, artífice da aliança UDN/PSD.
No plano municipal, a família Rocha, então bastante expressiva eleitoralmente, havia sofrido dissidências com a candidatura do fazendeiro e dentista licenciado Raimundo José de Araújo Costa(Dico), primo de Dermeval, que se lançara candidato a prefeito pelo PTB, tendo por vice Raimundo Gonçalves dos Santos(PTB), também, de certa forma, vinculado à mesma família.
Por seu turno, a tradicional oposição havia sido reforçada pela presença do ex-vereador de Floriano, José Nunes Meireles, que transferira seu domicílio eleitoral para Bertolínia, passando a liderar a UDN, por cuja legenda se lança candidato a prefeito, tendo Antonio José de Lima(Antônio Lourenço) como vice. Antonio Lourenço, ex-PSD, era bastante popular e já havia sido vice-prefeito de Bertolínia em dobradinha com Dermeval Rocha no pleito de 1954. Agora estava rompido e aderira à UDN. Vê-se, pois, que o vitorioso PSD sofria baixas em duas frentes. A disputa era incerta. Para complicar, algumas lideranças interioranas, sobretudo do povoado Canabrava do Félix, o maior do município, liderados pelo professor Zulmiro Ferreira de Sousa faziam jogo duplo, pois embora prometendo votar nos aliados do PSD não cessavam os rumores de que também prometiam votos em surdina para a oposição udenista.
Então, o pleito foi duro. Consta que José Nunes Meireles amanhecera o dia no referido povoado Canabrava do Félix e só voltara para a sede municipal depois das nove horas da manhã, quando se certificara com alguns votantes de que o professor Zulmiro mandara nele votar, embora fizesse campanha pública para o PSD.
Entretanto, nas demais localidades, Dermeval Rocha ia mantendo o controle e, inclusive, naquela localidade tinha boa votação entre seus velhos aliados das famílias Messias e Belchior. É importante ressaltar que pouco antes da eleição, Dermeval conseguira em seu benefício a renúncia do candidato do PTB, mediante indenização das despesas de campanha, no que contara com a intercessão de seu primo, o então prefeito Osório de Sousa Rocha. Porém, o vice petebista não renunciou mantendo sua candidatura até o fim, o que prejudicou o vice do PSD. Resultado da eleição: Dermeval Mendes da Rocha fora eleito prefeito de Bertolínia pelo PSD com uma estreita maioria de 62 votos, enquanto Antonio José de Lima(UDN) sagrara-se vice-prefeito, também com estreita maioria sobre o candidato do PSD, tendo sido o fiel da balança nessa disputa o candidato do PTB, Raimundo Gonçalves dos Santos. Vê-se, pois, que a candidatura a vice do PTB desestabilizara a do PSD e criara problemas para a futura administração, influenciando na vitória de um vice-prefeito de oposição. A Câmara Municipal também ficou dividida entre as forças em disputa.
Como consequência dessa acirrada eleição, seria desmembrado o povoado de Canabrava do Félix e emancipado com o nome de Manuel Emídio, em homenagem a um tio do prefeito Dermeval Rocha. Para isto, a prefeitura de Bertolínia comprou duas glebas contíguas denominadas Canabrava e Bebedouro e doou à nova municipalidade. Também, importantes fatos iriam acontecer dois anos depois, quando do Golpe Militar de 64, conforme se demonstrará em outra oportunidade.
* REGINALDO MIRANDA, autor, é natural da cidade de Bertolínia e membro da Academia Piauiense de Letras. E-mail: [email protected]