O noveleiro colocou como fala da personagem a seguinte sentença: não acredito no amor, mas na morte, sim, porque ela é um fato.
     Expressão como essa somente poderia vir de um autor de novelas, folhetins; enfim, de um ficcionista. Qualquer indivíduo que não acredita no amor é um morto-vivo, um fantasma, um espectro humano que vagueia perdido de si mesmo. Tipos assim, não vão a lugar nenhum; não progridem, não evoluem nem crescem; morrem, pois sem amor não há vida.
     Logo, tal cidadão não estaria na programação de uma televisão, em um horário nobre e avocando sofismas como aquele, se, realmente, apenas cresse na morte como algo irrefutável, inevitável, inexplicável. O amor também o é. Tanto a este quanto à morte, ninguém precisa procurá-los: eles nos acham. E quando isso acontece, o primeiro nos enche de vida; a outra, ainda que nos leve a vida, é incapaz de destruir o amor. A morte não mata o amor porque ele se faz imortal diante dela, seja por transfiguração, seja por transcendência. Não raro, esse sentimento cresce em relação àquele que era seu objeto, depois que ele se vai. A propósito, a morte não é nossa condenação, tampouco dela somos vítimas, e por um motivo bastante racional e lógico: ninguém está transgredindo qualquer regra ou norma por estar vivo; viver não é nenhum crime; pelo contrário, é um prêmio, uma dádiva existencial que recebemos da natureza e que devemos aproveitar como um bom treinamento, uma preparação, um rito de passagem para a verdadeira evolução.
     Não existem os escolhidos para não morrerem, simplesmente, porque não há seres humanos perfeitos, acabados, irretocáveis. Somos imperfeitos e somente poderemos obter a perfeição se estivermos num meio em que ela seja lugar-comum, algo tão concreto como fora nossa imperfeição enquanto seres, fisicamente, feitos de carne e osso. A falta de amor nos torna pessoas ocas, frágeis e, ao tempo em que incentiva, apressa e dá mais força à morte, retarda, atrasa, posterga nosso processo de desenvolvimento total e pleno.
     Neste mundo que precisamos aprender a dividir com os demais, o amor é nossa garantia de que essa divisão será conseguida o menos traumaticamente possível; quanto mais desse sentimento possuirmos em relação à vida, mais fácil se tornará nossa missão. A morte não costuma utilizar-se de subterfúgios, artimanhas, disfarces para se apresentar ou se fazer percebida e reconhecida; todavia, às vezes, ela surge como um parasita que se alia a outros e se aproveita de nossa suposta fortaleza para executar seu mister com maior facilidade. O ódio é um desses parasitas que alimentam a morte sugando a vida. Tanto mais ódio, mais morte e menos vida.
     Ousamos afirmar que uma das maiores falácias que alguém pode expressar é aquela por meio da qual diz ou declara que não acredita no amor; fraqueza imperdoável é se autojulgar incapaz de amar; não se vive sem uma das inumeráveis formas, modalidades ou perfis de amor. Ele tem várias faces, mas com qualquer das que se apresente é reconhecido.
                                                                              Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal
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