Aquele local maldito dominado pela tribo dos tatus brancos

Assinalou Maria Rosa Moreira Lima que, no entendimento de Afonso Arinos, a lenda dos tatus brancos pertence ao folclore paulista.

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O PROFESSOR VLADIMIR PROPP, EM 1928

(Só a foto do genial teórico russo, sem a legenda acima apresentada, pode ser localizada, na web, em:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d8/Vladimir_Propp_%281928_year%29.jpg)

 

 

 

 

 (http://seletun.blogspot.com/2008/02/lendas-e-mitos-do-brasil-legends-and.html)

 

 

 

 

(http://www.alunosonline.com.br/historiab/o-genocidio-bandeirante/)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://seletun.blogspot.com/2008/02/lendas-e-mitos-do-brasil-legends-and.html)

 

 

 

 

ESPELEOFORMAS DA GRUTA DO MAQUINÉ, em Minas Gerais (Brasil)

(http://br.olhares.com/gruta_de_maquine_foto539347.html)

 

 

 

 

 

"(...) "Era a força dos homens grandes [OS BANDEIRANTES PAULISTAS] contra a astúcia e agilidade assombrosa dos assaltantes [OS TATUS BRANCOS, QUE ERAM ÍNDIOS PIGMEUS CUJA CARNE PREFERIDA EM SUA DIETA ERA A HUMANA]. Os pequenos seres [OS HOMENSZINHOS ASSIM CHAMADOS tatus brancos] arrastavam para as trevas os corpos dilacerados e sem vida dos vencidos, inclusive os agonizantes e nem escapou ao massacre o chefe da escolta. Este, ferido levemente, em companhia dos subalternos foi levado para uma das cavernas dos agressores. Mas aconteceu o seguinte: A princesa da tribo já vira o moço paulista e por ele se apaixonara, propiciando-lhe este fato, o direito de dispor da vida do prisioneiro. (...)".

(TRECHO DA LENDA DOS TATUS BRANCOS, que adiante integralmente está transcrita)

 

 

 

"(...) (O TEÓRICO RUSSO, JÁ FALECIDO, VLADIMIR) Propp [1895 - 1970] recolheu vários contos tradicionais até chegar a um "corpus" de 449 contos. Procurou uma estrutura nesse corpus e encontrou 31 funções.

As 31 funções podem ser agrupadas em 7 esferas de acção, agrupadas por personagens:

  • 1ª Esfera - O agressor (o que faz mal)
  • 2ª Esfera - O doador - o que dá o objecto mágico ao herói
  • 3ª Esfera - O auxiliar - que ajuda o herói no seu percurso
  • 4ª Esfera - A Princesa e o Pai (não tem de ser obrigatoriamente o Rei)
  • 5ª Esfera - O Mandador - aquele que manda
  • 6ª Esfera - O Herói
  • 7ª Esfera - O falso herói (...)"

 

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Vladimir_Propp)

 

 

 

 

 

"QUANDO ESTÓRIAS DE IARAS, MULAS-SEM-CABEÇA, NEGRINHOS-DO-PASTOREIO, SACIS-PERERÊS, BOTOS GALANTEADORES DA AMAZÔNIA, MULHERES CHEIROSAS DA FLORESTA (*)(BRASILEIRAS) E CONTOS DE GRISALHOS PAPAIS NOÉIS EXPLORANDO ANÕESZINHOS TRABALHADORES, COELHINHOS SIMPÁTICOS TRAZENDO OVOS DE CHOCOLATE NA PÁSCOA E DILIGENTES CEGONHAS TRAZENDO BEBÊS (DO EXTERIOR) COMEÇAM A SE TORNAR ENFADONHAS, de tanto que são contadas e recontadas, A SAÍDA É ENCONTRAR NARRATIVAS MENOS batidas, POR EXEMPLO, AQUELA INTRIGANTE LENDA SEGUNDO A QUAL IMAGINÁRIOS ÍNDIOS PIGMEUS DE REGIÕES PRODUTORAS DE OURO E DIAMANTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS SE SACIAM COMENDO BANDEIRANTES PAULISTAS

Coluna "Recontando estórias do domínio público

 

(*) - Leia, por favor, a curiosa LENDA DA MULHER CHEIROSA, destinada à fatia adulta do público fiel da "Recontando...", que, a propósito, foi reproduzida aqui neste mesmo espaço democrático de crítica construtiva e debates saudáveis e otimistas:

http://www.dilsonlages.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/seres-da-floresta-a-mulher-cheirosa,236,3455.html

 

 

 

 

 

                               Homenageando Vladimir Propp e Afonso Arinos de Melo Franco - in memoriam -,

                               agradecendo a Maria Rosa Moreira Lima pela perfeita recontação

                               da LENDA DOS TATUS BRANCOS, do cada vez mais estudado - e também

                               usufruído em momentos de despreocupação e lazer - folclore paulista, e

                               reverenciando os eminentes mineiros ZIRALDO, DILMA ROUSSEFF e

                               AÉCIO NEVES

 

 

 

23.7.2010 - Para a horda de pigmeus-canibais famintos, o importante era devorar pessoas, não importa se ingênuos bandeirantes paulistas ou se experimentados caboclos que não eram comidos porque das CAVERNAS DOS TATUS BRANCOS passavam longe - Aquele local maldito era dominado pela tribo dos índios denominados TATUS BRANCOS, considerados os mais ferozes canibais que infestavam aquela região do ouro das Minas Gerais, que não é o melhor espaço geográfico para os intimoratos bandeirantes de São Paulo tentarem confirmar estórias, que há muito caíram no domínio público, sobre habitantes baixinhos de lapas, grutas, cavernas e outros abrigos naturais, mineiros nos dois sentidos da expressão, no de "relativo a uma região de mineração (exploração intensiva de minérios)" e no de "seres naturais da Unidade da Federação onde nasceram os admirados Ziraldo, Dilma Rousseff e Aécio Neves". F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

 

"A lenda dos tatus brancos

 

Maria Rosa Moreira Lima 

A lenda dos tatus brancos, na opinião de Afonso Arinos, pertence ao folclore paulista e teve início da seguinte maneira:

Alguns bandeirantes audaciosos, buscando novos descobrimentos acompanhavam o traçado do rio Tietê e depois de longa jornada resolveram adentrar a mata bravia. Caminharam dias seguidos quando lhes veio a idéia de procurar ouro e pedras preciosas. Dirigiram-se, então, para as terras das Minas Gerais. Desta maneira chegaram a um local desconhecido, onde os campos ficavam perto de cavernas e furnas imensas, escuras, tenebrosas. Apesar do local agreste, as tendas foram armadas para repouso merecido. Acocorados em torno do lume, saboreando alguma bebida, os viajantes escutavam as mais curiosas e absurdas histórias contadas pelos caboclos nativos embora, ao mesmo tempo, insistissem para que levantassem acampamento o quanto antes pelo fato daquela região ser dominada por uma espécie de índios conhecidos como tatus brancos, habitantes das cavernas adjacentes e, enxergando tão bem dentro da escuridão como se tivessem olhos de coruja. Além desta qualidade excepcional, havia uma outra e esta verdadeiramente de apavorar pois as citadas criaturas davam um valor inestimável à carne humana, preferindo-a mesmo a qualquer caça ao alcance de suas flechas. Além da predileção absurda, tinham um faro especial sentiam o cheiro do alimento favorito, logo se aprestavam para caçá-lo.

O chefe paulista, sendo o mais interessado nos relatos concernentes à sanha antropófaga dos vampiros da tribo dos tatus brancos, prometeu a si mesmo desvendar o mistério. Daí não querer escutar os conselhos do mais experimentado caboclo, cujas palavras eram endossadas pelos outros guias também confirmando casos de pessoas sumidas, provavelmente levadas para as vastidões sombrias e jamais tornaram a aparecer. Mesmo assim, o moço insistia em ficar no local, dizendo somente partir depois de certificar-se quanto à veracidade das histórias contadas por aqueles homens que, embora reconhecidamente valentes, manifestavam grande pavor ao ouvir o menor ruído. Audacioso, o chefe da expedição sozinho começou investigando e, para isso penetrava nas furnas mais tenebrosas, examinando rastros, atento ao mais insignificante rumor.

Certa noite de escuridão cerrada, a tropa descansava numa clareira. O silêncio era profundo, perturbado apenas pelo bater de asas de algum pássaro retardatário buscando o aconchego do ninho. Pouco a pouco os homens foram percebendo um clamor estranho. Eram muitas vozes juntas, inicialmente confusas pela distância mas, aproximando-se rapidamente, enquanto um tropel diferente como se incalculável quantidade de animais pequeninos corressem desenfreados pelas quebradas em direção ao acampamento e, suas vozes, foram discernidas à medida que se aproximavam. Os componentes do grupo paulista puseram-se de sobreaviso com as armas engatilhadas. Súbito, uma horda de pigmeus, saindo da escuridão, iniciou o ataque. O imprevisto do acontecimento impossibilitou uma defensiva eficiente.

Mesmo assim a luta foi renhida mas rápida. Era a força dos homens grandes contra a astúcia e agilidade assombrosa dos assaltantes. Os pequenos seres arrastavam para as trevas os corpos dilacerados e sem vida dos vencidos, inclusive os agonizantes e, nem escapou ao massacre o chefe da escolta. Este, ferido levemente, em companhia dos subalternos foi levado para uma das cavernas dos agressores. Mas aconteceu o seguinte: A princesa da tribo já vira o moço paulista e por ele se apaixonara, propiciando-lhe este fato, o direito de dispor da vida do prisioneiro.

No âmago da caverna o valente bandeirante passa algum tempo desacordado e quando recupera os sentidos vê, junto de si, um pequeno vulto de mulher. Quando seus olhos vão se acostumando às trevas nota e com horror o restante dos companheiros devorados pela horda sinistra que, comemorando a vitória dançavam satisfeitos dando por terminado o banquete macabro. Naquele antro escuro, o detido permaneceu por muito tempo sempre vigiado pela jovem apaixonada. Certa noite a malta assassina parte para os cerrados buscando alimento humano. Aproveitando a oportunidade, o moço deixa-se envolver pela turba apressada dos pigmeus e, sem ser notado, consegue sair também das cavernas mas, sempre vigiado pela amorosa companheira. Enfraquecido, não consegue chegar a saída da gruta e, exausto pela falta de alimentação, sentindo-se desfalecer, faz um sinal para descansar. Deitam-se no chão. Ele apesar de tudo, alimentando a esperança de alcançar a liberdade, finge adormecer, enquanto a jovem a seu lado, é, na verdade dominada pelo sono. Disfarçadamente o prisioneiro atento, aguarda o nascer do sol para ver onde se encontrava e quando os clarões da madrugada iluminaram a terra, levanta-se com muito cuidado e tenta fugir. No mesmo instante a moça acorda e, mal desperta, atordoada com a claridade, num esforço tenta arrastar o homem para o negrume da caverna. E naquele momento de aflição ele conseguiu observá-la. Era uma pequenina mulher e como os seus irmãos, mal atingindo a metade da altura de um homem de baixa estatura, pele clara de quem nunca sentiu os raios solares, os cabelos longos de um louro sem vida. Quanto aos olhos eram de um azul esbranquiçado e ela gemendo procurava conservá-los fechados ou protegê-los da claridade com uma das mãos, enquanto com a outra buscava o companheiro, desta maneira caminhando às tontas como se fosse inteiramente cega. O moço desvencilhando-se da criatura que fazia ingentes esforços para detê-lo, foge em desabalada carreira, daquele local maldito dominado pela tribo dos tatus brancos, considerados os mais ferozes canibais que infestavam aquela região do ouro". (MARIA ROSA MOREIRA LIMA,

("A lenda dos tatus brancos". Diário de São Paulo, São Paulo, 9 de agosto de 1975, transcrita no portal JANGADA BRASIL PONTO COM
 

http://www.jangadabrasil.com.br/revista/fevereiro133/im13302.asp)