[Maria do Rosário Pedreira]

Os autores quase nunca abdicam de um lançamento público com convidados, em que, por regra, alguém conhecido, ou reconhecido no meio das letras, apresenta o livro em traços gerais. É sempre uma incógnita, claro, porque assistir a estas apresentações pode tornar-se extremamente útil e interessante, mas também poderosamente chato e até uma completa frustração. Recentemente, estive numa apresentação ímpar, na qual o orador segurou com inteligência e humor uma sala cheia de gente e nunca disse de mais nem de menos sobre a obra, aguçando o apetite dos presentes para a sua leitura; mas logo uns dez dias depois houve outro lançamento que me deixou de cabelos em pé, já que o apresentador gastou o tempo todo a falar de si próprio e dos seus livros em lugar de falar da obra que estava a ser lançada e brindou o público com uma série de graçolas de gosto duvidoso que, por mim, bem podia ter evitado (malgré tout, o autor achou que correu normalmente, e é isso que importa). Mesmo assim, não posso deixar de recordar uma apresentação de há muitos anos, ainda no bar Botequim, de Natália Correia, em que o professor convidado a pronunciar-se sobre a obra de um autor espanhol com mau feitio leu uma peça de crítica universitária durante uns bons quarenta minutos sem fazer pausas; quando terminou, não só o público estava a morrer de sono (era à noite) como o autor do romance logo atirou: «Céus, não tinha ideia de que o meu livro fosse assim tão chato.»