Andar de ônibus

[Ricardo Ramos Filho]

Sempre gostei de andar de ônibus. É quando a vida na cidade grande caminha com menos pressa. Do ângulo superior a paisagem parece espalhar-se preguiçosa, perdida no trânsito pesado. As pessoas vistas da janela lá embaixo passam em câmara lenta. Embalado no parar e seguir, balanço dolente para frente e trás, sinto o mundo acomodar-se em ritmo quase justo. Ouço vozes diferentes da minha. Contrastes. Sussurros tímidos no silêncio apertado e espremido da condução. Alguém no celular pergunta por Marinete. Fala alto, não dá importância ao entorno. Inflexões de voz, maneira diversas de exposição. Fascinante. Ali, anonimamente perto das pessoas, conheço melhor o universo que imagino ser meu: o do gênero humano.

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