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[Flávio Bittencourt]

 

Aloísio Magalhães sob a visão de seu colega E. Ferreira

O designer Eduardo Ferreira sabe avaliar a importância desse homem notável na criação da política de Cultura do Brasil e no progresso do design de primeira linha mundial que se passou a praticar no País.

 

 

 

 

 

 

ALOÍSIO MAGALHÃES
O Nordeste.com – Enciclopédia Nordeste - Aloísio Magalhães

 

 

 

 

 

(http://moblog.whmsoft.net/m_images_search.php?keyword=alo%C3%ADsio+magalh%C3%A3es&language=english&depth=1)

 

 

 

 

 

 

"COMPARE, POR FAVOR,  A ESTÉTICA DA PRIMEIRA CÉDULA A SEGUIR APRESENTADA COM A ESTÉTICA DA SEGUNDA (Vossa Senhoria já está imaginando que o design da segunda nota de dinheiro é do Dr. Aloísio, não é?)"

 

(C R...)

 

 

 

 

 

História da Moeda no Brasil
"[...] (1 cruzeiro novo, Tesouro Nacional, 1967)

O período conheceu grandes alterações dos padrões monetários, com mudanças nos nomes e valores das moedas. Em 1965, o governo de Castelo Branco decreta nova reforma monetária, criando o cruzeiro novo, simbolizado por NCr$ e equivalente a 1.000 cruzeiros antigos, que passou a vigorar a partir de 1967. Foi aposto um carimbo nas cédulas de 10.000, 5.000, 1.000, 500, 100, 50 e 10 cruzeiros, que passaram a valer, respectivamente, 10, 5, 1 cruzeiros novos, e 50, 10, 5 e 1 centavos. Porém, antes da entrada em circulação das cédulas do cruzeiro novo, uma resolução do Conselho Monetário Nacional, em 1970, determina o retorno à designação cruzeiro, mantendo-se a equivalência de valores com o extinto cruzeiro novo e voltando à representação Cr$. Por essa época, a Casa da Moeda foi reequipada, passando a dispor de condições técnicas para fabricar todo o nosso meio circulante.

Organizou-se um concurso para o desenho das novas cédulas, tendo saído vencedor o designer Aloísio Magalhães. O projeto constituiu verdadeira renovação na área, apresentando cédulas com cores e tamanhos diferenciados, aumentando conforme o valor nominal.

História da Moeda no Brasil
(500 cruzeiros, Banco Central do Brasil, estampa A, 1972)

Em 1972, comemorando o sesquicentenário da Independência, foram colocadas em circulação as cédulas de 500 cruzeiros e, em 1978, as de 1.000 cruzeiros, que ficaram conhecidas como barão, por trazerem a efígie do Barão do Rio Branco. Essa nota antecipava o aparecimento de nova família de cédulas, igualmente idealizadas por Aloísio Magalhães, cujos demais valores – 5.000, 500, 200 e 100 – entraram em circulação em 1981. Apresentavam a característica de permitir a leitura das efígies, valores e legendas em qualquer sentido. Até 1985, ainda foram lançadas cédulas de 100.000, 50.000 e 10.000 cruzeiros (a primeira com a imagem de Juscelino Kubitschek, refletindo a abertura política da época), idealizadas em conjunto pela Casa da Moeda e pelo Banco Central do Brasil.

História da Moeda no Brasil
(1000 cruzeiros, Banco Central do Brasil, estampa A, 1978)

No que diz respeito às moedas, foram lançadas, a partir de 1967, peças de 50 centavos de níquel, cuproníquel ou aço inoxidável; 20 e 10 centavos em cuproníquel; e 5, 2 e 1 centavos em aço inoxidável, cunhadas pela Casa da Moeda do Rio de Janeiro. [...]" 

(http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-da-moeda-no-brasil/historia-da-moeda-no-brasil-8.php)

 

 

 

 

 

O DR. ALOÍSIO MAGALHÃES E SUAS INOVADORAS CRIAÇÕES:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Aloísio Magalhães - Olinda 3. Original 1956.
Aloísio Magalhães | Art auction results, prices and artworks estimates

 

 

 

 

 

 

 

 

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12.2.2013 - Aloísio Magalhães - Um importante e bem ilustrado texto do designer Eduardo Ferreira sobre o infelizmente já falecido colega de profissão. (SE VOCÊ SE CONSIDERA PATRIOTA, É MUITO BOM QUE BEM CONHEÇA UM DOS MAIORES NOMES, EM TODOS OS TEMPOS, DO DESENVOLVIMENTO SIMBÓLICO-CEREBRAL DA NOSSA NACIONALIDADE E DA LUTA PELA PRESERVAÇÃO DOS BENS MATERIAIS E IMATERIAIS DO BRASIL: ALOÍSIO MAGALHÃES.)  F.

 

"Dia do Designer – Aloísio Magalhães

05/11 .
Por
 

 

 

Hoje, dia 05 de Novembro, é dia Nacional do Designer (parabéns para a gente!). O que nem todos sabem é que escolheu-se essa data por causa de um personagem específico da história de nosso país, e que, em geral, não recebe tanta atenção quanto deveria nas nossas graduações. Trata-se de Aloísio Magalhães, e esse post se dedica a apresentar brevemente tal personalidade e a importância de seus projetos à história do design mundial.

Aloísio Magalhães nasceu em Recife em 1927, e estudou direito como graduação. Sua vocação, entretanto, esteve mais para as artes plásticas, e seus primeiros envolvimentos com o design gráfico foi com o grupo O Gráfico Amador, que contava com expoentes da literatura brasileira, como Ariano Suassuna e João Cabral de Melo Neto. O estilo gráfico de Aloísio nesse período possui uma leveza e informalidade muito características das artes plásticas, e seu primeiro contato efetivo com o design e com o estilo internacional se deu nos Estados Unidos, ao lado de Eugenie Feldman, na The Falcon Press. Ao voltar para o Brasil, abre com outros colegas o Magalhães + Noronha + Pontual, seu primeiro escritório (teria alguns outros, sendo o de maior sucesso o PVDI – Programação Visual e Desenho Industrial).

Na área do ensino, ministrou com Alexandre Wollner um curso de Tipografia no MAM-RJ, e a seguir seria convidado com o mesmo e outros designers a fundar a primeira escola de desenho industrial do Brasil, a Escola Superior de Desenho Industrial, Esdi, onde ministrou aulas. E é do seu aniversário de 15 anos da escola que saiu talvez seu mais famoso texto, O que o desenho industrial pode fazer pelo país, em 1977. Faleceu em 1982, após ser diretor do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e estar à frente das principais ideias relacionadas à catalogação e preservação da cultura popular brasileira (podemos dizer em pé de igualdade com Lina Bo Bardi). Embora meu desejo fosse continuar aqui falando um pouco mais sobre a pessoa e pensamento de Aloísio Magalhães, talvez seja mais interessante verificar o que o autor efetivamente projetou para entendermos a escala de importância do mesmo na nossa história.

Dentre as centenas de projetos em que se envolveu, escolhemos apenas 5 para comentar, por se tratarem de trabalhos de uma originalidade tremenda, e qualidade gráfica tal que os tornam atuais até hoje, e em sua maioria ainda em uso (mesmo que com alterações). Destacamos para análise os projetos ao 4º Centenário do Rio de Janeiro (1964), Unibanco (1965), Light (1966), Petrobrás (1970), e seu desenho para a nova cédula do Cruzeiro Novo (1966).

Um projeto público de sucesso é aquele que é absorvido pela população, que faz parte da vida das pessoas e as tornam orgulhosas de alguma situação. E o primeiro projeto que me vem à cabeça ao pensar nessas características foi o do 4º Centenário do Rio de Janeiro. De uma simplicidade formal impar, o projeto constitui-se de 2 momentos de leitura: o primeiro forma-se pelo espelhamento vertical e horizontal do numeral 4, formando algo próximo a uma cruz, fazendo ligação, assim, com a Cruz de Malta (legado português das grandes navegações). Dentro das leis da gestalt, temos o fechamento, quando a forma pode ser lida na ausência da mesma, em sua contra-forma. Se observarmos o espaço negativo formado entre os triângulos desse símbolo, encontramos um grande 4, sendo esse o 5º “quatro” do logo.

À época, após a divulgação do concurso que elegeu tal marca gráfica como vencedora muitos reclamaram de tratar-se de um logotipo hermético e fechado, que ninguém entenderia. No entanto, a recepção por parte da população foi de tal ordem bem-sucedida que o logo tornou-se, de maneira completamente autêntica, pipas, maiôs, fantasia de escola de samba, desenhos comemorativos em paredes e ruas (como acontece em época de Copa do Mundo), tatuagens etc. Foi de tal maneira absorvido pela cultura popular, daquele jeito que qualquer um de nós gostaria de ter um projeto, que não consigo lembrar projeto de maior sucesso que esse.

Formalmente, há nessa marca gráfica um ponto que será muito característico de Aloísio Magalhães, que é a simetria radial. Simetria essa que encontramos também no logotipo do antigo Banco Moreira Sales, depois Unibanco. A simetria radial de tal símbolo possui um senso de infinito e rotação que se repetirá em diversos trabalhos do designer, como do Banco Nacional, Editora Delta, ou o próprio Quadricentenário.

A complexidade de formas e curvas que deu ao logo do Unibanco me lembra de quando entrevistei João de Souza Leite sobre o Aloísio, em Maio desse ano, que me disse que o grande diferencial de Aloísio em relação aos demais designers de sua época (em especial aqueles do movimento concreto do design, como Wollner) é que Aloísio Magalhães solucionava seus projetos no traço, e os aspectos geométricos eram a viabilização visual e técnica da solução encontrada via traço, desenho. Digo que tal complexidade me lembrou essa conversa porque é bastante improvável que tal símbolo tivesse sido concebido dessa maneira, não fosse tal característica do designer.

Na questão de adequação entre manipulação formal e respeito à memória de uma instituição o logo para a companhia de luz do Rio de Janeiro, a Light, é um exemplo bastante interessante. Em entrevista com Joaquim Redig, este comentando sobre a importância da tradição de uma identidade em sua reformulação, elencou tal projeto como notável nesse quesito.

Antes de seu redesenho a Light contava com um pequeno raio como logotipo. No projeto, Aloísio soube com maestria manter tal elemento, já conhecido da população do estado do Rio, e trazê-lo à linguagem digna de seu tempo.

Mantendo a mesma linguagem de espelhamento, usou da letra “L” para, ao rebatê-lo verticalmente e criar a silhueta de um novo raio. Inclinando o desenho, forneceu dinâmica à peça, criando certamente um dos melhores logos que o Brasil já viu. Conseguiu manter o signo já tradicional à empresa, aliando-o à inicial da mesma, que gerou um resultado excepcionalmente pregnante e limpo, moderno e singelo. O projeto atualmente foi levemente redesenhado, afinando as pontas superiores e inferiores de ambos “L”s, sem, entretanto perder o conceito original criado por Aloísio.

Igualmente icônico na história do design é a identidade visual da Petrobrás, certamente uma das maiores e mais complexas de sua época. Anterior ao redesenho de Aloísio e seu escritório, o logotipo da Petrobrás se constituía de um losango amarelo com o nome da empresa dentro. Numa tentativa de remeter ao Brasil, o losango foi um elemento apropriado da bandeira nacional e utilizado como principal item dessa brasilidade.

Redig me contou que, a fim de verificar que realmente tal losango remetia ao Brasil e se era um signo efetivo a tal fim, fez-se um levantamento das empresas que utilizavam um losango em seu logotipo. E, isso é muito interessante, Redig diz que o grande elemento de pesquisa gráfica da época (início da década de 1970) era a lista telefônica, vejam só! E, folheando a revista, verificaram que as mais variadas empresas dos mais variados ramos com as mais variadas intenções faziam uso do losango como elemento principal. Gillete, Goodyear e Kibon são algumas das citadas por Redig. Concluiu-se então que o elemento losangular não era suficiente a identificar o país em um logotipo e partiu-se pela busca de novas alternativas. Optou-se então por abandonar uma linguagem formal para referir-se ao país e assumiu-se a linguagem cromática e a linguagem verbal para identificá-la: BR encontra-se tanto em Brasil quanto em Petrobrás, é a sigla comumente usada para identificar o país de maneira abreviada etc.

E o projeto vingou, mas vingou de tal maneira que, quando em 2000 tentou-se uma reformulação de identidade visual e naming da empresa, que passaria a chamar-se Petrobrax, a notícia chocou o Brasil inteiro, que reagiu, tal tentativa de mudança não durou mais que dois dias, retornando, assim, ao seu antigo e original nome.

A marca gráfica de Aloísio foi retomada, e posteriormente atualizada pelo próprio PVDI, mas já posterior a sua morte. Quando comentando o episódio da Petrobrax, Redig chama à atenção da necessidade do respeito e avaliação histórica do peso de uma marca ao tentar-se reformulá-la, assim como feito por Aloísio Magalhães para a Light.

E, finalizando as analises de trabalhos, tocando novamente no tema da história, temos o projeto do Cruzeiro Novo. Também em concurso, o projeto de Aloísio foi selecionado, e rendeu (e ainda rende na verdade) elogios enormes pela sua inovação. Conversando certa vez com uma amiga, ela me chamou à atenção a quantidade de características simbólicas que um simples papel-moeda devem carregar: não pode de maneira alguma transmitir insegurança, deve conter elementos que identifiquem sua nação, deve estar dentro entretanto de uma tipologia tal que ainda o identifique como dinheiro, entre muitas outras. A inovação de Aloísio para o Cruzeiro Novo se deu não só semanticamente, mas talvez acima de tudo, funcionalmente. A história é muito bem contada no livro A Herança do Olhar, organizado por João de Souza Leite. Resumindo, Aloísio fez uso de um efeito chamado moiré, que trata-se do desalinhamento reticular, para, assim, gerar um efeito óptico de difícil reprodução.

Imagens do Livro: A herança do olhar: o design de Aloisio Magalhães – Aloísio Magalhães, Felipe Taborda, João de Souza Leite.

Com tal cartada, Aloísio vence o concurso e ainda inova numa área praticamente milenar, que é a da produção de papel moeda. Participou de segundo redesenho, quando dessa vez inova funcionalmente no uso do dinheiro: percebendo o grande impecilho que é o dinheiro possuir lado de cima e debaixo, dificultando muitas vezes o reconhecimento do valor ou sua ordenação, fez com que as notas possuíssem o mesmo espelhamento que caracteriza outros de seus projetos anteriores: a partir desse momento, o papel deixa de ter lado superior ou inferior, mantendo-se o mesmo não importando a maneira como o coloca na carteira ou junto dos demais.


Interessa sobre esse assunto verificar a explanação de Rafael Gatti, do blog o qual escrevo, o Design Simples, que faz um comentário muito bom sobre o desenho de Aloísio para o Cruzeiro Novo, e o contrapõe ao recém redesenhado Real.

Enfim, após tais análises, embora breve, espero ter ajudado no reconhecimento da importância impar de tal designer à nossa história e, também, à história do design gráfico mundial. Contribuiu também fortemente ao design de produto, embora eu não tenha aqui abordado de maneira explícita. Projetou, por exemplo, as bombas de combustível de quando redesenharam a Petrobrás, junto de Joaquim Redig, que cuidou dessa parte.

Também convém ressaltar que o desenvolvimento teórico de Aloísio Magalhães é extremamente interessante, e contém ideias que inovaram de forma muito profunda tanto conceitos do campo do design quanto a preservação cultural nacional. Sobre alguns desses pontos, remeto a outro link no Design Simples de um post que escrevi, que, conquanto eu tenha evoluído em alguns pontos que lá expus, acredito que já sirva a uma introdução do assunto.

Finalizo assim minha contribuição, esperançoso de que esse post sirva a instigar a um maior reconhecimento de tal profissional, e de suas ideias no campo do design, da cultura e da identidade brasileira como um todo.

Ah, e, de novo, feliz dia do designer! Merecemos!

Saiba onde o autor está: Design SimplesRevista CianoMínimo Design e Design em Artigos.

Eduardo Camillo K. Ferreira é graduando em Design pela FAU USP, e está finalizando seu TCC sobre “O discurso e possibilidade da brasilidade em marcas gráficas”. Escreve periodicamente no blog do Design Simples, onde também já trabalhou em projetos, e é editor-chefe da Revista Ciano. É sócio-fundador da Mínimo Design, onde trabalha com Gabriel Garbulho. Idealizou também o site Design em Artigos, que visa ajudar na divulgação da produção intelectual de design, e espera que os leitores mandem textos próprios para lá. Espera algum dia ser professor."