SESSÃO  NOSTALGIA: 

NOTA AO LEITOR:  UM PAÍS   que não muda  para melhor. A mesmice dos desmandos  continua ainda pior no reinado das perfídias e desclabrboros  do  bolsonarismo. Pobre  país! Pobre  povo!

ALHOS COM BUGALHOS       

 

 Cunha e Silva Filho

 

        Diante dos acontecimentos dos últimos dias no país de variada  natureza – execução sumária, corrupção deslavada no setor público(leia-se  rombo  de milhões do  dinheiro público) sinais de inflação, indícios de censura à imprensa, aumento de juros, possibilidade de volta da CPMF  sob nova roupagem e outros males crônicos -,  é bem difícil  ouvir-se da mídia uma boa notícia.

       Tudo conspira contra nosso otimismo brasileiro, nossa  suposta cordialidade,  nossa conhecida e propalada   passividade. Não é, todavia, possível estar com o coração radiante se olharmos para a realidade do país, que se resume, sobretudo, a uma palavra que nos causa calafrios  : violência. Psiquiatras em São Paulo asseveram que o cérebro do brasileiro está dando sinais de que está com uma  parte comprometida, aquela associada ao perigo, ao estresse e principalmente à violência.

       Será que estamos construindo indivíduos doentes, altamente  propensos às mais  diversas fobias  que afetam o habitante das  megalópoles em decorrência da selvageria das condições de vida nesses  lugares ? Tal fato é grave e nos preocupa como cidadãos de  bem que desejama paz e uma saudável vida mental em todo o território nacional. A psicanalista e escritora Maria Rita  Kehl, num contundente artigo publicado na Folha de São Paulo, página Opinião, Tendências/ Debates (22/06/2008), chama a atenção  da sociedade para o que ela define como uma situação “impensável” enfrentada pelo  brasileiro frente à escalada da violência contra  sobretudo os pobres, os negros e favelados.

        O artigo atinge o cerne da questão  levantada  pela articulista quando conclama o outro lado da pirâmide social tomando como parâmetro os habitantes da zona sul do Rio de Janeiro, e aqui completaríamos, não só a zona sul mas também os bairros nobres  da Barra  e do Recreio do Bandeirantes, os quais representam o conjunto populacional dos que são,  em geral,   melhor aquinhoados  financeiramente,  a fim de que não  permaneçam inertes e indiferentes diante das atrocidades cometidas tanto por traficantes como  pela máquina do  Estado, através das instituições  de repressão e prevenção contra o crime, representadas pela polícia civil e  pela polícia militar. A ensaísta estende  sua  veemente conclamação ao resto do país que, em grau maior ou menor, está afundado também  na  violência desenfreada e, na maior das vezes,  a resguardo da  impunidade.

         A impunidade  é força alimentadora e realimentadora do crime. Sabemos que a violência não se cinge apenas à criminalidade, à execução sumária e à agressividade sem peias dos traficantes. Ela age com a cumplicidade das chamadas forças ocultas e a cumplicidade é sinuosa  nos meios sociais do poder. O que mais atordoa o brasileiro comum é a presença de outros atores no cenário sombrio das ações bárbaras e do comportamento delinquente: aqueles que usam farda, os quais são  destinados legalmente à proteção do cidadão, quer no asfalto, quer nos morros, sem  discriminações étnicas  e sociais de  toda sorte.

        A mais recente ausência da boa notícia foi a que envolveu uns poucos militares do Exército brasileiro no   escândalo  dessa tragédia inominável que deixou em parte  arranhada a sua  imagem, fazendo-nos recordar  uma fase  negra da história militar  brasileira. Me refiro  à matança  por traficantes  de morro inimigo de três jovens pobres e negros do morro da Providência no Rio de Janeiro, em que uns poucos militares tiveram um  parcela considerável de responsabilidade pela morte  desses inocentes indefesos.

       Até há pouco tempo era voz unânime que  as forças armadas ficavam sempre imunes a  qualquer juízo crítico a elas  desfavorável, uma vez que as instituições que   elas  representam  têm uma longa história de assinalados serviços prestados na defesa  do solo brasileiro e mesmo, em  momentos  emergenciais, sempre  se fizeram presentes e atuantes, como na construção  de  estradas,  nas  inundações, nos surtos epidêmicos, no socorro a países   em  graves crises institucionais , econômicas e  sociais.

       Ou seja, as forças armadas são parte indissociável  da  formação social  e histórica brasileira, afora sua função constitucional  precípua, que é a defesa  de nossas fronteiras,   da paz  social. Mantendo-se nesses estritos limites de atuação,  as forças armadas  continuarão dando seu contributo  indispensável  à manutenção do estado  democrático.  Entretanto, cumpre que elas também se esforcem para servir de espelho, adaptando-se aos novos tempos sem se afastar de seus  limites constitucionais. Ao sair destes, elas se sujeitam a manchas  difíceis de serem apagadas da  memória da sociedade.