ADMINISTRAÇÃO FILETO PIRES
Por Rogel Samuel Em: 13/02/2008, às 05H55
ADMINISTRAÇÃO FILETO PIRES
Agnello Bittencourt
(“Corografia do Estado do Amazonas, 1925, p.291-293)
Assumiu o governo aos 23 de Julho de 1896, com um largo e bello programma de administração, que começou a executar, constituindo os quatro departamentos em que agrupou as repartições publicas do Estado, cada uma chefiada por um secretario.
Um acontecimento verdadeiramente notavel e honroso para o Amazonas, foi o embarque, a 4 de Agosto de 1897, de um Batalhão de Infantaria da Policia Estadual, para auxiliar as forças expedicionarias do Governo da Uniao, contra a ingrata campanha de Canudos, na Bahia. Era esse Batalhao composto de 249 praças de pret e 24 officiaes, sob ocommando do tenente-coronel Candido Jose Mariano.
Assignalou-se heroico o procedimento dos soldados amazonenses, devendo-se-lhes em grande parte, a terminaçao das hostilidades, que haviam ja custado milhares de vidas ao Exercito Nacional.
Todas as despezas da manutençao dos briosos militares do Amazonas, tiveram seu custeio pelo mesmo Estado.
Cumpre enaltecer o criterio e a honestidade do commandante Candido Mariano, que, recebendo 40:000$000 para occorrer as despezas eventuaes dos seus commandados, só dispendeu 14:473$000, retornando ao Thesouro amazonense o restante de que prestou contas.
Sob a administraçao do Dr. Fileto Pires continuou, sem alteração a vida publica ou partidaria, a vida do Estado, ate as eleiçoes que se realizaram em 30 de Dezembro de 1896, para um senador e quatro deputados federaes. Esse estado de calma, porem, ia ter sua soluçao de continuidade num facto, que é um triste episodio da historia local: o empastellamento do jornal "Amazonas” e a aggressão aos seus redadores, porque faziam opposiçao ao governo. Ficou impune o attentado.
Desde esse dia, reaccenderam-se os animos dos combatentes. A policia agiu indiscrecionariamente.
A esse tempo continuavam a crescer as rendas do Estado, a ponto da arrecadacao de um semestre ser maior do que a importancia orçada para o exercicio completo do anno anterior (“Mensagem” de 16 de Março de 1897, pag. 39).
Nao havia compromissos de dividas passivas. E a este respeito diz o proprio Dr. Fileto: "Ja vos fiz notar que o Amazonas tem a suprema fortuna de nao ter dividas. Presentemente, srs. Congressistas, são mais que lisongeiras as condiçoes do Thezouro, e espero que ellas se accentuarao dia a dia, de modo que o Estado possa solidificar o seu credito, merecendo a mais absoluta confiança. Nao temos dividas fundada ou consolidada; o nosso passivo limitava-se a dividas orçamentarias de exercicios findos; estas mesmo estao quasi todas pagas e se não estio totalmente é pela falta de apresentação de credores, não obstante as repetidas convocacoes feitas pelo Thezouro: (Idem, pag. 35).
A despeito de persistirem as luctas partidarias, resolve o Dr. Fileto fazer uma viagem a Europa, obtendo, para isso, licenca do Congresso, que, generosamente, lhe manda abonar uma gratificacao de 500 libras sterlinas por mes, além de sua representacao e subsidio, durante o tempo em que permanecesse fora do Amazonas.
Illustrado, mas inexperiente, cheio dos roseos olhos de sua mocidade, embarca. O mundo official, a sua partida, apresenta-lhe o seu abraco de estima e solidariedade partidaria. Assume o governo o coronel Jose Cardoso Ramalho Junior, na qualidade de vice-governador, no dia 4 de Abril de 1898.
Em Paris, apos a folgança de um deslumbrante jantar em que foram trocados amistosos discursos, publicados depois em forma de polyanthea, o jovem Fileto recebe, do seu amigo Joaquim Serejo, um despacho telegraphico de que algo, em Manaus, se passava a seu respeito. Trocam-se outros despachos em que o vice-governador declarava nada existir. No emtanto, uma renuncia do cargo de que fora investido o Dr. Fileto é apresentada ao Congresso, que a acceita.
Sabedor desta occorrencia, regressa immediatamente e, ao chegar a Belem, protesta contra esse acto, que diz nao ter praticado. Dirigindo-se a Manaus, para reassumir seu cargo, soube, em meio da viagem, que os elementos dominantes não consentiriam no seu desembarque. Regressa a Capital paraense e, dahi parte para o Rio de Janeiro, onde procura defender seu direito perante o então presidente da Republica, Dr. Campos Salles. Tudo baldado. A renuncia era um acto consummado (Vide «O Caso do Amazanas», pelo Dr. Fileto Pires Ferreira-1898).