Na fotografia os acadêmicos William Palha Dias, Oton Lustosa, Paulo Freitas e Reginaldo Miranda
Na fotografia os acadêmicos William Palha Dias, Oton Lustosa, Paulo Freitas e Reginaldo Miranda

 

Reginaldo Miranda[1]

 

Faleceu William Palha Dias, deixando mais pobres a literatura piauiense e a legião de amigos que soube construir. Partiu na tarde-noite de terça-feira (14) este velho guerreiro das letras e da magistratura piauiense. Natural de Caracol, onde viveu a infância, passou a juventude em Nova Lapa, hoje Cristino Castro, no vale do Gurgueia. Era, portanto, um piauiense típico, legitimo representante do sertão piauiense.

Autodidata no início da vida ativa militou na imprensa da Capital, preocupando-se também com a organização e direitos de sua categoria profissional. Foi um dos fundadores da Associação dos Jornalistas Profissionais do Piauí, depois transformada em sindicato da categoria.

Formado em Direito aos 41 anos de idade, ingressou na magistratura piauiense, onde destacou-se pelo destemor e imparcialidade de suas decisões. Foi juiz de Direito nas comarcas de Valença, Regeneração, Pedro II, Castelo e Oeiras. Quando esteve em Regeneração ganhou notoriedade ao combater tenazmente grande esquema de fraude eleitoral no termo judiciário de Hugo Napoleão. Então, seu nome passou a ser sinônimo de coragem, retidão de caráter e integridade moral.

Outra grande vocação foi a literatura, destacando-se na historiografia, no romance e na crônica. Estreou em livro no ano de 1960, com Caracol na história do Piauí, onde narra a história de sua terra; nessa seara, publicou ainda São Raimundo Nonato – de Distrito-Freguesia a Vila (2001), Rascunho Histórico de Cristino Castro (2003) e Motorista Gregório – Mártir ou Santo? (2006), este último em parceria com o perito criminal Vital da Cunha Araújo; em parceria com a esposa Maria das Graças e Silva Palha Dias, publicou O Piauí ontem e hoje e O Piauí em Estudos Sociais, ambos em 1975; a novela Irmãos Quixaba (1979), que foi adaptada para o cinema; publicou o livro de crônicas: Flagrantes do Cotidiano (1998). Porém, seu forte mesmo foi o romance, publicando: Endoema (1965), Vila de Jurema (1973), ... E o Sibarita Casou (1978), Mulher Dama, Sinhá Madama (1982), Alcorão Rubro (1994) e O Predestinado (2007). Por fim, publicou o livro de memórias: Memorial de um lutador obstinado (1997).

Em face dessa intensa atividade intelectual, ingressou na Academia Piauiense de Letras no ano de 1982, tomando assento na Cadeira n.º 4. Ali o encontrei no ano de 2006, quando também ingressei naquele sodalício. Foi um entusiasta defensor de minha candidatura. Porém, já o conhecia desde longa data. É que possuíamos ligações familiares e que muito me honram.

William Palha Dias foi sempre um dos mais assíduos frequentadores da Casa de Lucídio Freitas, uma voz abalizada nas grandes discussões. Às vezes, sabia quebrar o tom com uma brincadeira bem apropriada. Era um causeur. A APL está mais pobre, perdeu uma de suas principais âncoras.

Meu caro Palha Dias, que Deus te receba de braços abertos, você merece, velho amigo!

(Diário do Povo, 20/21.02.2012)

 

 


[1] REGINALDO MIRANDA, advogado com mais de 30 anos de efetiva atividade profissional, cofundador e ex-presidente da Associação de Advogados Previdenciaristas do Piauí (AAPP), ex-membro do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI, em duas gestões, ex-presidente da Academia Piauiense de Letras, em dois biênios. Autor de diversos livros e artigos. Possui curso de Preparação à Magistratura (ESMEPI) e de especialização em Direito Constitucional e em Direito Processual (UFPI-ESAPI). E-mail: [email protected]