PREFÁCIO DA OBRA PAUSA PARA POETIZAR DA  ESCRITORA  MIRTIZI LIMA RIBEIRO. A OBRA FOI, SE NÃO ME ENGANO.    LANÇADA  ONTEM.  MIRTIZI  LIMA  RIBERO   É UMA ESCRITORA PARAIBANA  DE  MÚTIPLOS TALENTOS  NAO SÓ NO DOMÍNIO  LITERÁRIO MAS TAMBÉM  EM  OUTRAS ÁREAS  DO CONHECMENTO HUMANO.  É UMA AUTORA PLURAL,DIVERSIFICDA     E  PROLÍFERA. NÃO É UMA ESTREANTE, PORQUANTO  JÁ    PUBLICOU  OUTROS LIVROS.  UM DOS QUAIS EM CO-AUTORIA.    SUA ESTREIA AGORA, SE DÁ NO GÊNERO   POÉTICO. TEM   UM NOME  CONSOLIDADO   NA  PRODUÇAO  CULTURAL   DA PARAÍBA    POR ISO  MESMO,   ME SINTO  CONFORTÁVEL, SEM HESITAÇÃO, DO PONTO DE VISTA CRÍTICO,  EM    RECOMENDAR MAIS ESTE LIVRO   DESSA   APRECIADA   ESCRITORA  PARAIBANA. ABAOXO,  O MEU   PREFÁCIO:   

     

 A Temática e as Formas em Pausa Para Poetizar.;(João Pessoa: Ideia,  2024, 200p; Ilusração da Capa:Arquivo da Autora)

 

 

 

        Observando a produção literária da escritora paraibana Mirtzi Lima Ribeiro, vejo que o livro, acima mencionado no título deste prefácio, se refere a uma estreia da autora no gênero poético. A escritora tem uma extensa produção em prosa, sobretudo na crônica ou breves ensaios definidores de um traço característico de seu estilo: ela é uma escritora prolífera, que se destaca por um dinamismo e uma vontade de escrever febrilmente, a ponto de o leitor seu ficar, por vezes, sem tempo para acompanhar a frenética e intensa escrita de seus textos voltados para diversos temas da vida humana e com uma tendência nitidamente didática, de orientação a uma existência equilibrada e mais saudável e para um tipo de leitura com forte predominância alicerçada na importância das ciências e das suas relações com os indivíduos.

       Seus textos revelam um dado circunstancial muito propalado que guarda semelhança com obras de autoajuda. Seu pluralismo de temas é digno de nota. Agora, separando-se de seu repertório em prosa, por ser uma autora inquieta e dinâmica nos seus processos de escrita, ela se volta para a composição de uma obra poética, “ Pausa para Poetizar”. Vê-se pelo título a indicação de natureza catafórica, ou seja, o título remete a um dado temático inconteste, quer dizer, a escritora se desgarra do gênero em prosa e, por isso, temos o lexema “pausa”, a fim de adentrar um outro universo da semântica e da textualidade de uma outra linguagem bem diferente da prosa por ela cultivada com precisão e talento. Dessa vez, ela penetra no gênero mais sublime da Literatura, que é a poesia. Ao ler alguns poemas de Mirtzi, fico pensando numa amiga francesa que é também poeta e que faz poesia de forma tradicional, mas belamente construída e de uma pureza cristalina.

       A boa poesia não está apenas nos “ismos” vanguardistas dos seus prosélitos, mas na força do verso antigo ou moderno com rima ou sem rima. O que sobreleva assinalar é a qualidade da fatura da composição poética. O resto é silêncio dos deuses de barro e dos juízos supostamente estéticos dos fátuos e prepotentes, dos que se arvoram em donos das abordagens, muitas vezes emprestadas do exterior (neocolonialismo intelectual subserviente), porém sem o sinete da originalidade, segundo o pensamento do crítico e ensaísta Assis Brasil, o qual pensava a literatura brasileira com lentes próprias. Outro bom exemplo seria o do “Machado de Assis de nossa crítica,” antonomásia muito bem apropriada criada pelo ensaísta e professor Ivan Teixeira para definir o pensamento crítico de Antonio Candido (1918/2017) 1 .

         Por outro lado, é mais do que óbvio que as altas culturas do pensamento intelectual, no domínio teórico da literatura dos europeus ou não europeus, têm a sua real importância e devem ser conhecidas entre nós quanto aos avanços nos estudos literários. Seria uma falácia afirmar que o legado do Ocidente mais adiantado deva ser subestimado. Entretanto, isso não significa asseverar que copiemos e sigamos à risca qualquer corrente crítica alienígena. Elas são grandes instrumentos indispensáveis de progresso no campo teórico e das ideias filosóficas ou de outras disciplinas das ciências humanas e até científicas. No entanto, devemos, quando necessário, adaptá-las ao pensamento que já remonta a um antigo desejo da chamada Nova Crítica, defendida por Afrânio Coutinho (1911/2000) 2 . 1 Antonio Candido de Mello e Souza (Rio de Janeiro, 24.07.1918/São Paulo, 12.05.2017), foi sociólogo, crítico literário e professor universitário brasileiro. Estudioso da literatura brasileira e estrangeira, autor de obro crítica extensa, respeitada nas principais universidades do Brasil. 2 Afrânio dos Santos Coutinho (Salvador, 15.03.1911/Rio de Janeiro, 05/08/2000), foi professor, crítico literário e ensaísta brasileiro. Ocupou a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 17 de abril de 1962.

       Obviamente, não podemos ser culturalmente isolacionistas e afastados dos grandes centros seculares europeus, dos Estados Unidos e das outras Américas, assim como de outros países mundo afora. Após essa digressão, feita apenas para contextualizar o lugar da poesia de Mirtzi, quero acentuar que seu livro ora comentado constitui uma seleção de poemas, que em geral, apresenta paralelos com a sua prosa no que concerne ao pensamento lógico balizado pela autora tanto quanto sua temática em prosa, só que protocolado pelos traços mínimos que um poeta, nos seus pressupostos estéticos, deve constituir como estratégia da poesia, ou seja, a linguagem centrada primordialmente na emoção e no sentimento líricos, não apenas para os temas objetivos e empíricos, mas propiciando ao leitor certos elementos indispensáveis para que se possa defini- los como poemas.

        Mirtzi, na maior parte de seus poemas, alcança esse nível de lirismo. Na extensão dos poemas selecionados, ela nos permite ensejar um panorama de múltiplas situações do cotidiano, dos desejos e aspirações do ser humano e de temas relacionados com a atualidade, meio ambiente, defesa de nossas riquezas naturais, críticas sociais e a governos irresponsáveis, cuidados com a Natureza-Mãe, diversas situações existenciais, afetividades e sentimentos de cunho religioso em poemas que nos deleitam e que nos previnem sobre o lado feroz da existência. Outra vertente ou veios temáticos se debruçam para valorizar a dimensão moral e ética do ser humano e o amor à poesia.

        Por outro lado, há uma vertente de sua dimensão lírica em que o narrador poético, um alter-ego da autora, se expande para cantar a infância e outras fases da vida de uma pessoa. Esse é o lado memorialista que sua poesia oferece ao leitor, a se ver pela nomeação de entes queridos e de situações pessoais abertamente confessadas pelo narrador poético. Encontro em alguns passos de seu estro, algo que me fez lembrar um poeta português de grande talento, que é Cesário Verde (1855-1886) 3 , sobretudo naquele poema longo e belíssimo “Sentimento de um Ocidental”, no qual, como se fosse mediado por uma câmera, o narrador poético fixa sua atenção em vários detalhes e locais de uma cidade com rara concretude realista e objetiva como o faz Mirtzi em proporção menor no poema “ Quinquilharias da vida”.

        Este poema demonstra que não somente com lexemas do sermo nobilis se constroem poemas, mas também com o sermo vulgaris, segundo o fez Manuel Bandeira (1886/1968) 4 com rara habilidade e originalidade. O que importa na elaboração do poema é a sintaxe, as formas de construções imagéticas, metaforizadas, ou seja, na retórica é que alicerça a linguagem poética, cujo vetor maior é o tipo de linguagem do âmbito da competência literária. Outros exemplos singularizadores da natureza da comunicação poética ou lírica da obra em exame são os poemas metapoéticos: “Lirismo e vida”, “A canção e o poema”, “De que é feito a poesia?” e “Magia da palavra”.

         Por fim, o livro termina exibindo um espectro amplo da espacialidade fora de nossos limites nacionais, quando retrata lugares e paisagens referentes a diversas partes do mundo com as belezas de cidades e monumentos visitados por turistas de toda a parte do mundo, como é exemplo o poema “Natal: as estrelas brilham”. Aguardo, pois que muitos leitores de Mirtzi se sentirão fortalecidos ética e espiritualmente para os embates da vida após a leitura prazerosa desta obra. .

                                                                                                  Cunha e Silva Filho Ensaísta e crítico literário. Pós Doutor em literatura comparada pela UFRJ. Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia – ABRAFIL

 

 

Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2024 Cunha e Silva Filho 5 Ensaísta e crítico literário. Pós Doutor em literatura comparada pela UFRJ. Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia – ABRAFIL.

1 Antonio Candido de Mello e Souza (Rio de Janeiro, 24.07.1918/ - 12.05.2017), foi sociólogo, crítico literário e professor universitário brasileiro. Estudioso da literatura brasileira e estrangeira, autor de obro crítica extensa, respeitada nas principais universidades do Brasil. 2 Afrânio dos Santos Coutinho (Salvador, 15.03.1911/Rio de Janeiro, 05/08/2000), foi professor, crítico literário e ensaísta brasileiro. Ocupou a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 17 de abril de 1

2 Afrânio dos Santos Coutinho (Salvador, 15.03.1911/Rio de Janeiro, 05/08/2000), foi professor, crítico literário e ensaísta brasileiro. Ocupou a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 17 de abril de 1962.

3 José Joaquim Cesário Verde (Lisboa/Portugal, 25.02.1885/Lumiar, 19/07-1886), foi um poeta português, considerado um dos pioneiros e precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

4 Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife/Brasil, 19.04.1886/Rio de Janeiro, 13/10/1968), foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiroRio de Janeiro, 14 de outubro de 2024

5 Francisco da Cunha e Silva Filho, que assina suas obras como Cunha e Silva Filho, é Pós- Doutor em Literatura Comparada (UFRJ). Doutor em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira, UFRJ). Mestre em Literatura Brasileira (UFRJ). Bacharel e Licenciado em Português-Inglês (UFRJ). Titular de língua inglesa aposentado do Colégio Militar. Lecionou Literatura Brasileira, Língua Inglesa, Inglês Instrumental, cursos de Letras e Comunicação Social (Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro). Ensaísta, crítico literário, cronista, tradutor. Colaborador de jornais e revistas, sobretudo do Estado do Piauí. Entre outras, escreveu: Da Costa e Silva: uma leitura da saudade (Editora da UFPI/Academia Piauiense de Letras, 1996; Da Costa e Silva: do cânone ao Modernismo. In: SANTOS, Francisco Venceslau dos. Geografias literárias - Confrontos: o local e o nacional. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2003, p. 113-124; Breve introdução ao curso de Letras: uma orientação. Rio de Janeiro: Editora Quártica, 2009; As ideias no tempo. Teresina: APL/Senado Federal, 2010; Apenas memórias. Rio de Janeiro: Quártica; Contos selecionados de José Ribamar Garcia (Org.). Rio de Janeiro: Litteris Editora, 2017. Do Conselho Editorial e colunista (Letra Viva) do site Entretextos. Assina o Blog As ideias no tempo. Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia, da União Brasileira de Escritores (UBE, seção Piauí).

Cunha e Silva Filho 5 Ensaísta e crítico literário. Pós Doutor em literatura comparada pela UFRJ. Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia – ABRAF