Cunha e Silva Filho

 

          Faz quatro anos que a Síria se envolveu numa guerra civil. Sofre seu povo até hoje com a destruição de vidas de inocentes e com o país arrasado em sua estrutura geográfica, seus monumentos históricos, seu legado cultural. Sofre ainda mais o país com o êxodo de sua população fugindo do terror, das bombas, das explosões. O país virou ruínas.
Quanto custa uma ditadura, a continuidade de uma dinastia autocrática sob o tacão genocida de Bashar Al-Assad que, até o presente, não renunciou ao poder? Custa a crueldade de milhares de mortos.
           A situação tumultuada do país já estava grave com a guerra fratricida entre o governo e a oposição oriunda dos ideias proclamados pela Primavera Árabe, disposta a arrancar do poder o ditador truculento com ar de inocente, como se fora vítima daqueles que ele subjugara com uma vida sem esperanças de melhorias e de paz. Para piorar ainda mais o estado de beligerância, entrou em cena o criminoso Estado Islâmico, pronto a ganhar poder no território sírio e, por cima de tudo, ainda confundindo muito mais o tabuleiro de xadrez da guerra civil que persiste desde 2011.
            Muito pior do que os rebeldes, ou melhor, a oposição, foi a entrada do terrorismo islâmico tanto ou mais sanguinário do que o próprio Assad. Vieram para decapitar quem se lhe embarace a fúria destruidora de conquistadores bárbaros representando, talvez hoje, a maior ameaça do fanatismo religioso de conquista de poder em terra síria, espécie de expansionismo a ferro e fogo contra até as próprias ditaduras já instaladas há longo tempo na Síria.
           O fanatismo religioso é ainda mais destrutivo do que aquele com nuanças político-ideológicas. Seu objetivo é mudar, pela degola e pelo terrorismo, costumes mais civilizados retroagindo a hábitos de poder governado pela deformidade de uma leitura do islamismo, interpretação distorcida do Alcorão e do pensamento de Maomé, ademais, inimiga do progresso ocidental, i.e., fazer um governo ditado por princípios religiosos que não respeitam as diferenças entre as civilizações.
        Ou seja, querem o terror implantado, querem o extermínio de outras religiões e de seus seguidores – contraditória forma de expansionismo religioso-terrorista, cuja finalidade é a matança de quem não lê pela sua cartilha sedenta de sangue de inimigos, incluindo não só outros muçulmanos como também governos e religiões do Ocidente. A morte do próximo é seu sinete e esses terroristas são implacáveis. Com eles não há misericórdia nem perdão. O mais grave é que nas suas alas existem estrangeiros ocidentais que são recrutados para o lado do Estado Islâmico.
        No exemplo da Síria, duas potências, Estados Unidos e Rússia, se encontram em flancos diferentes nessa guerra civil, lembrando, de alguma forma, os tempos sombrios da guerra fria entre aqueles países.
          Para combater a onda de destruição e de mortalidade na Síria, os EUA tomam uma posição contra a ditadura síria e querem a renúncia de Assad, ao passo que a Rússia se coloca ao lado do ditador sírio. Neste imbróglio, fica delicada a solução desse conflito.
            O que, no meu juízo, vejo como uma das saídas para acabar com a confrontação sangrenta na Síria seria, primeiro pactuar uma negociação de paz, na qual as duas potências pudessem combater o Estado Islâmico; em segundo lugar, procurar-se equacionar um cessar-fogo entre a oposição rebelada contra os desmandos do ditador Assad, exigindo-se a renúncia dele e o consequente fim da tirania.
        Para isso, organismos internacionais, tendo à frente o Conselho de Segurança da ONU, se encarregariam de promover um governo provisório que, em tempo determinado, pudesse realizar eleições democráticas para as quais concorreriam partidos ou representantes da oposição e partidos do governo. Seria utópico refletir assim? Creio que não.
        Os EUA e a Rússia, apesar de suas profundas divergências, deveriam pensar na solução da guerra civil síria, quer dizer, interromper a carnificina, o terror, a destruição do país, a intolerância e, ao contrário, pensar no resgate da paz, bem-estar e felicidade da sociedade civil, evitando-se a continuidade da fuga do povo sírio, engrossando hoje a leva de milhares de refugiados espalhando-se por vários países do mundo, inclusive o Brasil, à procura de trabalho e de uma nova vida livre da submissão, do medo e da desesperança que se tornaram o trágico cotidiano dos sírios em seu próprio país