(Miguel Carqueija)

Para esperto, esperto e meio:

A SEMÂNTICA DA ESPERTEZA



   Filipino Augusto visofonou para o seu amigo Tomás Schitinni. Primeiro visofonou a cobrar e, não conseguindo êxito, deu um pulo na casa de outro amigo, sob um pretexto qualquer, e lá pediu para usar o visofone, sem avisar que era para longa distância.
   Tomás estava em casa. Filipino entrou logo no assunto:
   — Meu caro Tomás, lembra-se que há dois anos atrás você me pediu dois mil planetários emprestados?
   — Ah, sim, é claro que eu me lembro. Só que você não me emprestou.
   — Eu não podia. Se pudesse ter-lhe-ia emprestado o dobro. Mas agora sou eu que preciso de uma ajuda.
   — Ah, é?
   — É, sim. Eu lhe conto: a situação está preta, as minhas dívidas estão aumentando... por isso eu lhe peço o seguinte: faça de conta que, naquela época, eu lhe arranjei os dois mil planetários. Assim, agora você faz de conta que está me pagando com os juros de mercado, pois eu estou precisando de três mil planetários. Pode ser, amigo? Dá para creditar hoje mesmo na minha conta?
   Tomás Schitinni acariciou a barba, pensativo.
  — Deixa ver se eu entendi. Você quer... ah... que eu faça de conta que me deu o que pedi emprestado, e que faça de conta que agora lhe pago... a juros de 50 por cento... bem, o que me pede nada tem de impossível. Fique tranquilo. Eu FAREI DE CONTA que lhe credito hoje mesmo essa quantia.
   — Não, espere aí, Tomás, eu...
   — Viu como conversando é que a gente se entende? Tchau!
   E assim dizendo, Tomás cortou a ligação.