A semana



A semana

Rogel Samuel (Foto de R. Samuel)

Primeiro escrevi algo triste. Sobre a morte. Meu predileto tema. Depois mudei. Rasguei a fantasia. É certo que ela morreu naqueles dias. Eu deveria pranteá-la? Mas sua morte não me fez triste. Com a placidez, a calma com que experimentou a vida, ela morreu. Ela nunca nos passou tristeza.

A semana sim. A vida também. O tempo. A crise. Há tempos, escrevi um poemazinho ordinário, que diz: "Que é viver? / permanecer / ou passar?" Não continua, a vida. Nem se demora, a morte. Não há se não a permanência da inconstância, transitória. Nem estou aqui para a filosofia barata de domingo. A semana passou, na velocidade do seu nada, do seu vácuo.

Grossas correntes, pesadas, a morte que me faz libertar das grossas correntes. Viver plenamente a felicidade do dia presente, por que não sei se amanhã acordarei. "Vaidade das vaidades, tudo é correr atrás do vento". A vida é vento. Instilou a vida um sopro no nariz do boneco de barro que foi Adão. A vida é oxigênio. Nos planetas sem oxigênio haverá vida? Nós nos estafamos, em vão. "Ai palavras, ides no vento".

Em Long Beach, demos uma pequena caminhada a pé pela praia. Meus amigos Vitrolinha e Nenen tinham saudade de Copacabana. Do calor das águas. Almoçamos no famoso Crocodile Cafe. Mais bela é Malibu. Conheci toda aquela costa, de Malibu a Dana Point.

Vitrolinha, minha amiga de infância, tinha uma tia chamada Lula. Tia Lula era muito minha amiga. Magra, sorria. Morava no Bairro do Céu. Sem brincadeira, Manaus tinha o Bairro do Céu. Tia Lula morava na Boa Sorte. Era o nome da rua. Ninguém dizia: Rua. Só Boa Sorte. "Onde mora?" - "Moro na Boa Sorte"; ou: "No céu".