A velha canção diz: "recordar é viver"

 

A SAUDOSA RECORDAÇÃO DE DOM MARCOS BARBOSA
Miguel Carqueija

    Eu conheci pessoalmente Dom Marcos Barbosa O.S.B. (esta sigla significa: Ordem de São Bento), que faleceu em 1997 com pouco mais de 80 anos, e hoje, quando dele me recordo, vem-me a sensação de que, em vida, não o valorizei devidamente.
    Dom Marcos — Lauro e mineiro de nascimento — não era uma pessoa comum, até mesmo como religioso. Durante décadas acompanhei as suas palestras radiofônicas pela Rádio Jornal do Brasil, e sua voz serena e inconfundível me iluminou e esclareceu muitos pontos da doutrina católica. É um fato que a minha fé se robusteceu escutando Dom Marcos e a firme e segura exposição dos fundamentos da nossa religião; e também aprendi muito sobre as vidas dos santos — como São Bento e Santa Escolástica — e conheci episódios edificantes em torno de figuras importantes como Alexis Carrel e Pitigrilli.
    Dom Marcos foi um nome muito importante para a cultura nacional. Traduziu diversas obras, como a célebre fantasia “Le Petit Prince”, de Antoine de Saint-Exupéry. Escreveu diversos livros, entre eles “A noite será como o dia”, de peças teatrais. Poeta, é o autor da letra do Hino do Congresso Eucarístico Internacional realizado no Rio de Janeiro em 1955. Um hino lindo em letra e melodia (esta composta por Maximiliano Hellman), que fica em nossa mente:

“Do Céu desceu a chuva,
a gota entrou no chão;
a vinha fez a uva
a espiga fez o grão...
De todo o canto vinde, correi
Foi posta a mesa do nosso Rei!”

    Eclético, sua importância para as letras brasileiras foi reconhecida, e Dom Marcos fez parte do Conselho Federal de Cultura. Depois, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.
    A fama não lhe subiu à cabeça: até o fim, em meio às crises que agitaram a sociedade e os meios católicos, ele sempre se manteve fiel a Cristo e à sua Igreja; sempre honrou a Virgem Maria e São José; sempre acatou o Papa. Dom Marcos conservou sempre a batina e ninguém jamais poderia chamá-lo de carrancista; era bem-humorado, tanto que, além de traduzir, tornou-se também co-autor das famosas “Pílulas de otimismo”, do canadense Padre Desmaurais, editadas no Brasil em três volumes pela Editora Vozes, de Petrópolis.
    Com certeza, em seus últimos anos ele sofreu muito, precisando se submeter a constantes hemodiálises.
    Foi Dom Marcos Barbosa um dos intelectuais mais tranqüilos que eu já vi. Seu modo de falar, com a voz pausada e o estilo prudente, transmitia serenidade. Seu jeito cativava as pessoas e impunha respeito. Além de ser um homem bom, era um homem que amava profundamente a Deus e sua Igreja. Numa época em que o que falta a tantos católicos é justamente o amor à Santa Igreja, o exemplo de Dom  Marcos e seu legado audiovisual não devem ser esquecidos.

Rio de Janeiro, 19 a 26 de maio de 2013.  

    
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

"O estigma do feiticeirto negro", romance de fantasia de Miguel Carqueija e Melanie Evarino, é recente lançamento da Editora Ornitorrinco e já recebeu seis resenhas amplamente favoráveis na internet.