A saga de Simplição

(*) Paes Landim

"Deve haver nas províncias ultramarinas da monarquia portuguesa uma autoridade que como delegada do Rei exercite as funções de poder suspender os magistrados? [...] eu julgo esta questão de grande importância, senão pela essência, ao mesmo pelas medidas que ella encerra; porque do estabelecimento della vão a resultar providências, vai a resultar o estabelecimento da paz, em que se ha de fundar a nossa união como as partes do ultramar da monarquia portugueza".


As palavras acima são do Deputado Miguel de Souza Borges Leal Castello Branco, representante do Piauí junta às Cortes portuguesas na sessão de 13 de fevereiro de 1822, e se encontram no volume I do Livro de Zília Osório de Castro, "Portugal e Brasil", sobre os debates parlamentares acontecidos em Lisboa (publicação da Assembléia da República, 844 páginas).


O outro parlamentar piauiense, Padre Domingos da Conceição, filiou-se ao lado do "partido brasileiro" nas Cortes, que teve em Antônio Carlos Ribeiro de Andrade o seu protagonista por excelência. Antônio Carlos chegou a se retirar das Cortes em sinal de protesto contra a tentativa de impor a submissão do Brasil ao governo colonialista de Portugal.


No volume I citado de Zília de Castro, conta entre as propostas ali debatidas, a criação da alfândega de São João da Parnaíba, iniciativa do Padre Domingos da Conceição, bandeira de Simplício Dias da Silva, posto que os produtos de exportação e importação da cidade eram alfandegados no Maranhão.

Como era a Parnaíba de então? Odilon Nunes, o excepcional historiador piauiense nos dá a resposta: "A Vila da Parnaíba era então visitada anualmente por uma dezena de navios. Em 1824 entraram dez sumacas e escunas, e saíram onze. Entre essas, a maioria era do comércio local. [...] Havia uma sumaca de cento e trinta toneladas e uma escuna de oitenta, ambos pertencentes a Simplício Dias da Silva. Uma firma francesa tinha também uma escuna de oitenta toneladas. Havia ainda, de vários proprietários, oito barcos de mil e cem a mil e duzentas arrobas, e nove botes que faziam a navegação fluvial e trabalhavam em carga e descarga das embarcações de rotas marítimas".

Simplício Dias, para o tempo e o espaço em que viveu, era uma figura fascinante. Estudou em Coimbra, conheceu grande parte da Europa e acompanhou de perto a revolução francesa de 1789. Ao lado de outro Iluminado, Dr. João Candido de Deus da Silva declarou seu apoio a Dom Pedro I.


A sua trajetória histórica merece ser profundamente estudada pelos piauienses e, sobretudo pelos parnaibanos. Convidado pelo Imperador Pedro I a ser Presidente da Província do Piauí, declinou do convite, posto que seu "mundo, vasto mundo" era o mundo civilizado de então e a sua querida Parnaíba.

(*) Paes Landim é deputado Federal.