A querela entre Álvaro Lins e Afrânio Coutinho
Por Cunha e Silva Filho Em: 23/09/2014, às 07H05
You are never too old to set another goal or to dream a new one.
C. S. LEWIS
Em 1940, o então jovem intelectual baiano Afrânio Coutinho publicou no Rio de Janeiro o ensaio A filosofia de Machado de Assis, obra que, na opinião de Tristão de Athayde, o grande crítico do Modernismo da sua primeira fase (1920-1945), o “consagrou.” [1]
Coutinho, antes, só era mais conhecido na sua província natal, onde exerceu o magistério secundário nas disciplinas de literatura e história, e, ao mesmo tempo, desenvolvia atividade na imprensa. Já dera a lume três ensaios, Daniel Rops e a ânsia do sentido novo da existência, publicado na Bahia em 1935, O humanismo, ideal de vida (1938), e L’Exemple du métissage, editado em Paris, em 1939. O segundo destes ensaios, todavia, não aparece na relação do conjunto de suas obras completas no espaço reservado às edições de sua produção intelectual
Como seria natural a qualquer moço estudioso de literatura, história, e filosofia, Coutinho, no ano em que saiu publicado seu ensaio sobre Machado de Assis, enviou exemplares a vários críticos que militavam nos rodapés da imprensa do Rio de Janeiro e certamente de outros estados, alguns já firmados na vida literária brasileira, entre eles, Sérgio Buarque de Holanda e Álvaro Lins. Este último atuava intensamente como crítico literário numa coluna do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro; o primeiro, nos anos 1940 e 1941, fora convidado para exercer a crítica literária no Diário de Notícias do Rio de Janeiro.
Por obrigação do ofício, as obras recém-lançadas tinham que ser lidas com certa rapidez e simultaneamente serem apreciadas com a necessária seriedade, pelo menos é o que se esperava de um crítico de rodapé consciente e competente. Ao críticos incumbidos de ler, opinar e julgar um novo livro, caberia uma tarefa espinhosa para a qual era de se esperar que fossem eles indivíduos de reconhecido preparo intelectual, sobretudo na esfera literária. Em geral, assim como acontece até hoje, os críticos pertenciam a profissões ligadas à vida cultural, como professores, jornalistas, escritores, autodidatas ou pessoas de outras atividades mas que também tinham vocação para os estudos literários.
A atividade crítica através dos rodapés de Suplementos Literários corresponde, guardadas as diferenças de estilo de escrita, extensão dos artigos e de objetivos associados aos interesses da imprensa, às chamadas resenhas das seções dos jornais atualmente que ainda dedicam um caderno ou seção de literatura, notas de lançamentos de livros, anúncios de eventos culturais, reportagens sobre escritores e outras matérias afins.
No mesmo ano de 1940, conforme era de se esperar, o ensaio de Coutinho sobre Machado de Assis foi lido, entre outros, pelos dois críticos mencionados
Mais adiante, neste capítulo aprofundaremos a discussão em torno do julgamento do artigo de ins[2] sobre o ensaio de Coutinho A filosofia de Machado de Assis. Quanto ao julgamento de Sérgio Buarque de Holanda,[3] a ele faremos referência nos pontos que nos pareceram necessários.
Inicialmente, posto que identificando alguns pontos meritórios no ensaio A filosofia de Machado de Assis, Álvaro Lins e Sérgio Buarque de Holanda, cada qual à sua maneira, e dentro de seus princípios estéticos de compreensão no terreno da metacrítica, consideraram a análise de Coutinho imperfeita no seu conjunto, mal planejada e carente de argumentação plausível no tocante à defesa do eixo central da tese, a qual, em síntese, seria afirmar ser Blaise Pascal o ponto de apoio fundamental como elemento de maior influência sobre o pensamento do escritor Machado de Assis, principalmente, para mostrar que Machado de Assis, como autor e como intelectual, devotava um sentimento abissal de “ódio à vida.”
Foi essa visão de Coutinho, i.e., eleger Pascal como o autor que mais influenciou Machado de Assis, quer como intelectual, quer como ficcionista, agravada, além disso, pelo sentimento de “ódio da vida” na obra machadiana, que desencadeou algumas argumentações desfavoráveis de Álvaro Lins e de Sérgio Buarque de Holanda em torno do ensaio. Segundo Lins, esta questão do “ódio à vida” foi igualmente levantada por outros exegetas de Machado de Assis. [4]
Comentando a repercussão da polêmica sustentada entre Álvaro Lins e Afrânio Coutinho, o ensaísta João Cezar de Castro Rocha, em tom de desabafo, conciliatório e favorável a Álvaro Lins, considerou ter sido o artigo de Sérgio Buarque de Holanda muito mais devastador do que o de Álvaro Lins, consoante as palavras de Castro Rocha: “(...) à luz dessa resenha, o artigo de Álvaro Lins transforma-se num grande elogio.”[5] Não vemos tanto assim, porquanto Lins é mais contundente e mais incisivo ao levantar a questão do estilo da escrita de Coutinho.
A par disso, o artigo-ensaio, conquanto, inicialmente se mostre receptivo com o ensaio, ressaltando-lhe algumas qualidades, nos deixa perceber certa ironia que bem pode ser evidente quando, por exemplo, alude ao ensaio de Coutinho como um ‘exercício’ literário indiciado pelo sentido catafórico do título do artigo-ensaio: “O segundo Afrânio, um ‘exercício’ literário acerca de Machado de Assis”
Quem tenha maior conhecimento da obra de Lins sabe o quanto o crítico pernambucano valorizava nos seus julgamentos, além da personalidade literária de um autor e o valor da obra, a qualidade de estilo de um escritor e, no caso específico de um crítico literário, a valorização desse aspecto ainda tinha para ele maior peso.
De resto, desde a publicação do seu segundo trabalho, o conhecido ensaio História literária de Eça de Queiroz,[6] escrito quando ainda muito moço, Lins, já àquela época da edição desse ensaio sobre o romancista português, destinara um importante capítulo, o de número onze, “O problema do estilo,” a uma discussão sobre o “instrumento verbal” do autor de O primo Basílio que, desde logo, confirma a importância que o ensaísta brasileiro dava à linguagem literária no que tange ao elemento do estilo, e essa preocupação estética se faz patente ao longo de toda a sua obra de crítico.
Na realidade, ao censurar o estilo da escrita de Coutinho, Lins, embora muito cedo tivesse demonstrado ser um espírito lúcido nos seus juízos críticos, choveu no molhado e não conseguiu lobrigar um aspecto no desenvolvimento da vida de um escritor, e mesmo do ser humano em geral, quer dizer, uma falha estilística pode figurar apenas uma fase passageira na escrita de um autor, assim como um mesmo autor pode, em outros trabalhos, escrever com uma qualidade bem superior.
Escritores há, em todos os tempos, e aí podemos incluir igualmente os críticos – por que não? – os quais se modificam, se aperfeiçoam e atingem uma fase admirável de sua expressão escrita. A formação literária, em qualquer gênero, desde que exercitada com seriedade e devotamento à atividade, desejo de superar-se, pode alcançar um bom ou mesmo excelente nível de elaboração literária, ainda que não possamos generalizar, como é exemplo o caso do crítico José Veríssimo, por sinal lembrado por Lins no mencionado artigo.
No entanto, vendo, sob outra perspectiva, o incidente biográfico-literário envolvendo Coutinho, nos inclinamos a reconhecer que qualquer mortal, em sã consciência, não tende a receber passiva e generosamente uma observação severa de um elemento decisivo da linguagem de qualquer escritor, que é o estilo, além do mais em artigo-ensaio que, na sua generalidade, economiza comentários favoráveis a um texto escrito com competência, boa pesquisa e com um objetivo indisfarçável de contribuir para o evoluir dos estudos machadianos entre nós.
Mesmo em faixas de maior amadurecimento intelectual, não faltam exemplos, mais no passado do que no presente - é bom que se frise -, de esgrimistas de ideias discordantes, reagindo contra um adversário, ao contrário de algumas polêmicas que, de vez em quando, surgem atualmente nos cadernos culturais dos maiores jornais do país. Geralmente, são bem mais comportadas e não ostentam a virulência expressa na linguagem desabusada das antigas polêmicas, que desancavam os oponentes e os transformavam em retratos caricatos e grotescos.
Hoje, não, as divergências de ideias são expostas, em geral, com maior respeito ao antagonista. Quando menos educada, de ordinário não passam da tréplica no uso do espaço da imprensa ou de outros meios de comunicação, de parte a parte em defesa de posições supostamente feridas.
Ninguém gosta de receber críticas de outrem em plano algum da vida social ou cultural, O troco logo vem de quem se sente ultrajado com o que produz, especialmente no plano intelectual. A vítima da crítica geralmente parte para o revide, que pode ou não se transformar em polêmica, a qual pode ser duradoura - repetimos - como o foi na refrega entre Coutinho e Lins.
Por outro lado, o fulcro dessa polêmica, a nosso ver, está radicalmente atrelado a razões de política literária, de disputa de hegemonia intelectual no cenário brasileiro, ao lado de outros motivos também prevalentes: visões diferentes, em muitos temas no campo da crítica literária, da relação entre jornalismo literário e crítica, de ensino universitário. Em outras palavras, o vetor principal da polêmica foi o embate entre o Impressionismo e a Nova Crítica.
O que a nossa experiência de leitura da obra crítica de Lins indica é que, para Lins, não seria coerente e sensato fugir ao dever intelectual de apontar qualidades e deficiências de obras que passassem pelo seu julgamento. Por isso, não manifestava o mínimo gesto de indulgência diante de uma obra considerada por ele sem qualidades, não somente . na área estritamente literária, mas também em outros domínios por onde circulava a sua curiosidade intelectual.
Um exemplo marcante dessa postura do crítico foi o seu julgamento do romance naturalista, A carne, de Júlio Ribeiro,[7] obra que para Lins não significava nada para a literatura brasileira, ou como ele costumava dizer citando uma frase no original de uma das línguas que possivelmente mais dominava: “hors de la littérature...”[8]
Seu raio de ação na incansável atividade de crítico, suas posições vigorosas, destemidas e sua independência intelectual provavelmente tenham levado o poeta Carlos Drummond de Andrade a chamá-lo de “Imperador da Crítica,” antonomásia que esconde um tanto de sutil ironia, dado que o primeiro elemento do sintagma, “imperador,” (do latim “imperator, significando “mandar,” “comandar,” figurativamente, “senhor”, “árbitro da vida de alguém”)[9] não deixa de remeter a um sentido plurívoco, i.e, soberania crítica, espírito de liderança, autoridade intelectual, poder de controle sobre valores estéticos, bem ajustado, por sinal, àquela declaração de guerra contra Lins feita por Fausto Cunha, ou seja, a “(...) da luta contra a perpetuação da mentalidade critica que lhe parecia simbolizar.”[10]
Lembraríamos a propósito e de relance que o lado relativo e perverso da crítica é que, ao se rebelarem contra figuras e companheiros da experiência literária, sobre uma forma de práxis crítica ainda utilizada, mas já reputada como ultrapassada por uma nova geração, invariavelmente, mais adiante, os mesmos agentes detratores se tornam da mesma forma rejeitados pela outra geração mais nova, nessa espécie de eterna linha de tempo volúvel de surgimento de outros approaches e visões estéticas.
Isto serve tanto para os gêneros literários tradicionais ou para novas formas de experiências e ousadias ficcionais ou poéticas quanto para essa forma de gênero de prosa - uma atividade visceralmente estético-filosófico-literária denominada crítica literária, em suas várias correntes do pensamento contemporâneo.
Ora, desfrutando de uma posição proeminente nos áureos tempos como crítico impressionista, a vertente crítica a que se filiava decerto seria o alvo mais indicado a fim de que Coutinho disparasse toda a munição de que dispunha na peleja para ver implantada no país a Nova Crítica no nível do ensino secundário e da universidade – diríamos - na “unidade de sua diversidade,” segundo era sua pretensão, num tempo em que mal começava a funcionar o ensino superior de letras.
De 1940 à década de 1950, aproximadamente, podemos considerar Álvaro Lins um dos maiores críticos de sua geração com inegável prestígio na segunda fase do Modernismo,[11] período em que a sua militância critica o alçava a uma posição de liderança no papel por vezes nem sempre confortável de julgar autores, novos ou já firmados na produção literária brasileira.
. Tal se deu com o surgimento, em nosso país, de novas correntes do pensamento crítico provenientes dos Estados Unidos e da Europa a partir das décadas de 30, 40, 50 e 60 do século passado e cujos métodos aqui foram progressivamente sendo aplicados graças à experiência de intelectuais brasileiros com formação em grandes centros norte-americanos ou europeus em geral, ou por via das leituras de livros importados com os quais estudiosos nossos se atualizavam, numa época em que no país iam surgindo as primeiras Faculdades de Letras e de Filosofia.
Mais uma década após a publicação do artigo de Álvaro Lins, ou seja, precisamente, em 1951, outro fato circunstancial coloca Lins e Coutinho em situação de confronto ou de competição, qual seja, num concurso daquele ano para duas vagas da cátedra de Literatura do Colégio Pedro II, se inscreveram quatro candidatos, dois dos quais eram Lins e Coutinho. Lins vinha lecionando no Colégio Pedro II desde 1941. Coutinho, de regresso dos Estados Unidos, em 1947, da mesma forma fora nomeado professor interino daquela instituição federal de ensino, permanecendo nessa condição até 1951, ano do concurso.
Realizado o concurso, Lins e Coutinho foram aprovados. O primeiro apresentou a tese A técnica do romance
Coincidentemente, as duas teses, em forma de livro, tiveram grande repercussão, sendo que Aspectos da literatura barroca, conforme assinalou José Paulo Paes, foi estudo pioneiro no país, inclusive, é obra citada na bibliografia sobre o Barroco da notável obra Teoria da literatura de René Wellek e Austin Warren, a qual, em tradução portuguesa, veio a lume em 1962. Aspecto da literatura barroca foi ainda citada na monumental obra Teoria da literatura, de Vítor Manuel de Aguiar e Silva.
Um estudioso da vida e obra de Afrânio Coutinho, Odilon Belém, no livro Afrânio Coutinho filosofia - uma filosofia da literatura,[12] apresenta, todavia, outra versão sobre a realização do concurso nestes termos:
Concorreram a duas cátedras quatro candidatos. Dois deles bafejados pela maioria da congregação, sendo que uma das duas cátedras, todos sabiam, destinava-se ao postulante que faz carreira na imprensa e que tinha por trás de si um dos grandes jornais da época, de que era redator. (...) (grifo nosso)[13]
Na mesma obra do trecho citado acima, Odilon Belém relata que o concurso teve características de um “evento”comemorativo, espécie de torcidas organizadas, acompanhando pari passu as fases do certame, as conversas dos bastidores, o que pensavam os componentes da banca, a congregação do Colégio Pedro II,[14] e podemos imaginar o quadro que ali se desenhava ou a paisagem física, humana, o clima de tensão e nervosismo de candidatos de mistura com a tranquilidade da exposição de outros candidatos durante a prova oral, cujo tema sorteado para todos era discorrer sobre Rousseau. Relata Odilon Belém que Coutinho estava “tranquilo” durante a exposição e dela saiu-se de forma brilhante.Belém ainda menciona um pequeno trecho lido na imprensa do momento que, acerca do concurso, afirmou ter sido ‘um dos pleitos mais memoráveis do espírito naquele educandário’.[15] Não é preciso grande esforço da parte do leitor da obra de Odilon Belém para identificar que o “postulante” em causa é o crítico Álvaro Lins e o jornal não é nada menos do que o Correio da manhã, do qual Lins fora redator-chefe
As circunstâncias nas quais transcorreu o concurso são, en passant, relatadas na obra A luta literária,[16] do crítico e ficcionista Fausto Cunha, intelectual que, junto com outros, no ano de 1951, se colocou ao lado de Afrânio durante o concurso, assim como igualmente esteve a favor de Coutinho, na refrega que este travava contra o Impressionismo na sua coluna dominical “Correntes Cruzadas,” do Suplemento Literário do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.
Fausto Cunha e outros companheiros, perfilhando os mesmos propósitos de desbancar o Impressionismo crítico e “o primado crítico de Álvaro Lins”, escreviam na revista Ensaio e Revista Branca. A meta de Fausto Cunha e de seus colegas era a mesma de Coutinho, lutar por mudanças e renovação da crítica literária brasileira. No dia do concurso de Coutinho Fausto Cunha estava presente e torcia, como outros companheiros, pela vitória de Coutinho.[17]
Era a primeira vez que via o escritor baiano pessoalmente. Fausto Cunha aproveitou a realização do concurso para, através da Revista Branca, fazer “uma cobertura entusiástica” do evento.[18] Representa, ao lado de outros companheiros, desse modo, a claque dos que queriam a cátedra para Coutinho, assim como provavelmente haveria os simpatizantes de Lins.
Fausto Cunha e seu grupo já contavam com a vitória de Lins, dado o seu prestígio na época, assim podemos deduzir. Por essa razão, segundo Fausto, a “participação de Lins no concurso era de significação secundária.” [19] O que ele e o seu grupo só desejavam era, repetimos, o sucesso de Coutinho ou como ele mesmo declara: “... a vitória de um novo conceito de critica e de uma nova atitude perante o fato literário”.[20]
No capítulo “A Nova Crítica’ da mencionada obra de Fausto Cunha, o crítico assume abertamente a defesa de Afrânio diante do clima tenso resultante da polêmica entre Lins e Afrânio, que já durava até então dez anos:
Tínhamos naquele tempo, Afrânio Coutinho e eu um ponto em comum: a luta contra o primado de Álvaro Lins – dizendo melhor, a luta contra a perpetuação da mentalidade crítica que ele parecia simbolizar. Na verdade, combatíamos em campos quase opostos. Eu via no autor do Jornal de crítica um representante da ‘crítica colonial,’ mas via nele sobretudo a encarnação por excelência do banausismo literário.(...) (grifo do autor)[21]
Porém, em nota de pé de página do citado livro de ensaios, Fausto Cunha, se não renega a sua posição crítica na guerra contra o Impressionismo crítico de Álvaro Lins, no início dos anos de 1950, da mesma forma não deixa escapar esta confissão, a nosso ver, reveladora na primeira metade dos anos de 1960:
(...) Minha posição em relação a Álvaro Lins como crítico foi sustentada em vários artigos; hoje não valeria a pena evocá-los. São crises de idealismo literario, cuja importância o tempo e o meio se encarregam de esfriar. Hoje considero sua obra perfeitamente válida em muitos pontos admirável.”[22]
Convém assinalar que aquela nota de pé de página se reporta à data de publicação de A luta literária, i.e., 1964. No mesmo ensaio, Fausto Cunha, em outra nota de pé de página, a de nº 1, faz outra afirmação pertinente: “Também aqui vale o que ficou dito na primeira nota. Lembrar que tudo se passou em 1951 e que de lá para cá muitos ventos sopraram. Nada renego, mas também já não tenho as mesmas ilusões imberbes”. (grifos nossos)
Naquele ano do concurso,
Entretanto, a meta principal de Coutinho, consoante acentuamos anteriormente, era atingir o Impressionismo de Lins e seus seguidores. Grande parte dos artigos saídos na coluna “Correntes cruzadas,” cujo início data de 1948 e vai até 1953, foi, mais tarde, selecionada e reunida em livro que levou o nome da coluna.[23]
Afirma Coutinho, na longa introdução ao volume, ter incluído, além dos artigos, chamados por ele de “crônicas,” outros textos publicados em lugares e datas diferentes. Da mesma sorte, ele coligiu outros artigos antes saídos na imprensa datados de
[1] AMOROSO LIMA, Alceu. Quadro sintético da literatura brasileira. Op. cit., p. 148-149.
[2] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasacas. Op. cit., p.348-354. Ao referirmos a “artigos” ou “artigos-ensaios” neste estudo, valendo tanto para Lins quanto para Coutinho, essas designações são empregadas no sentido geral de ensaio, ou pequeno ensaio, os quais adquirem um caráter ensaístico quando, reunidos em livros, e acompanhados de notas bibliográficas. Os livros de Lins publicados pelas Edições de Ouro, exceção feita à Teoria literária.são finalizados com minuciosas notas bibliográficas. O mesmo se dá quando publicou os três grossos volumes pela Civilização Brasileira: A glória de César e o punhal de Brutus, Os mortos de sobrecasaca, e O relógio e o quadrante.
[3] HOLANDA, Sérgio Buarque de. A Filosofia de Machado de Assis. In: __. Cobra de vidro. Coleção Debates. São Paulo: Perspectiva, p. 53-58.
[4] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca, Op. cit., p.352.
[5] CASTRO ROCHA, João Cezar de. A crítica literária: em busca do tempo perdido? Op. cit., p. 190. Ver o que afirmamos na nota 6.
[6] LINS, Álvaro. História literária de Eça de Queiroz. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1965, p. 247-269, capítulo 11.
[7] LINS, Álvaro Lins. Júlio Ribeiro: hors de la littérature...In:_. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 217-219.
[8] Ibidem.
[9] QUICHERAT, L. Novissimo diccionario latino-portuguez. 3.ed. Rio de Janeiro: H.Garnier; Livreiro-editor, s.d., p. 580. Conservamos a grafia original dessa edição.
[10] CUNHA, Fausto. A luta literária. .Rio de Janeiro: Lidador, 1964, p. 53.
[11] Cf. AMOROSO LIMA, Alceu. Quadro sintético da literatura brasileira. Op. cit. p.145.
[12] BELÉM, Odilon. Afrânio Coutinho – uma filosofia da literatura. Rio de Janeiro: Pallas, 1987. Em nosso juízo, a obra de Odilon Nunes, se excetuarmos o seu lado de exaltação em decorrência da sua dimensão afetiva e de laços de grande amizade com Afrânio Coutinho, é o melhor estudo, quase uma biografia do crítico baiano. Para quem quiser penetrar em aspectos da vida pessoal e intelectual de Afrânio Coutinho, julgamos ser a melhor obra neste gênero sobre o crítico. Ademais, contém um precioso Curriculum Vitae de Afrânio Coutinho, organizado por Juracy dos Santos Pereira, uma riquíssima e bem organizada bibliografia ativa e passiva sobre o autor estudado a cargo de Maria da Graça Coutinho de Góes e capítulos decisivos - todos - para compreender melhor o perfil do crítico e do intelectual: ”Uma vocação,” “A experiência jornalística,” “Jornalismo e Literatura,” “Segunda Guerra Mundial,” “Amigos,” “Volta ao Brasil,” “Faculdade de Letras e”Viagens ao Exterior”.
[13] Idem, p. 120. O “postulante” de que fala Odilon Belém era, no caso, o crítico Álvaro Lins, e o jornal era o Correio da Manhã, do qual foi crítico titular.
[14] Segundo Odilon Belém, na obra citada na nota anterior, faziam parte da banca examinadora do concurso os seguintes professores: Clóvis Monteiro, Cândido Jucá [ Filho], que representavam o Colégio Pedro II, e os examinadores “convidados”: Abgar Renault, Afonso Arinos de Melo Franco e Cassiano Ricardo. Ver BELEM, Odilon. Op.cit., p. 120. Como complemento de informações sobre o concurso, recorri ao livro de João Cezar de Castro Rocha. Op. cit., p. 191, em que elenca os nomes dos dois outros concorrentes: Celso Cunha e Vieira Souto.
[15] Ibidem.
[16] CUNHA, Fausto. A luta literária. Op.cit., p. 52-53.
[17] Idem, p. 53.
[18] Ibidem.
[19] Ibidem.
[20] Ibidem.
[21] Ibidem.
[22] Ibidem. Nota de pé de página 1.
[23] O livro em questão é Correntes cruzadas. Ver COUTINHO, Afrânio. Correntes cruzadas .- questões de literatura. Op. cit.
FONTE DA EPÍGRAFE DO ENSAIO EXTRAÍDA DE UMA PÁGINA DO FACEBOOK