[Flávio Bittencourt]

A previsão do temporal pelo jabuti

"JABUTI - O METEOROLOGISTA", por Epaminondas Barahuna.

 

 

 

 

 

 

  

"TEMPESTADE

 

 s. f.

 

1. Agitação violenta do ar acompanhada geralmente de chuva e trovões.

 

    2. Procela.

 

3. Grande estrondo.

 

4. [Figurado]  Grande perturbação.

 

5. Agitação moral.
 
 
 
6. Agitação de espírito." (dic. PRIBERAM, GRIFO NOSSO)
 
 
 
 

 

 

 

Haicai [RIMADO] do dia:

 

depois da cancela

- Virgem, Nosso Senhor! -

vislumbro a procela

 

(F. B., hoje)

 

 

 

 

UMA "PROCELA":

(http://noticias.r7.com/internacional/protestos-revelam-pane-do-milagre-brasileiro-diz-le-monde-18062013)

 



 

 

 

  

 

TEMPORAL, PROCELA, TORÓ, CHUVARADA,

TEMPESTADE (na formação que a antecede):

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://cbnmanaus.com.br/site/2012/11/02/02-11-sipam-alerta-que-manaus-vai-sofrer-com-mais-temporais-no-mes-de-dezembro-gustavo-ribeiro-meteorologista/)

 

 

 

 

 

 


prever com antecedência de muitos meses, a intensidade das chuvas do inverno que se avizinha, a magnitude da próxima inundação

E. B.

 

 

 

 

Quando no himeneu, em plena floresta densa e remota, é capaz de promover assombrações.

 

E.B. 

 

 

 

 

21.6.2013 -    F.

 

 

 

 

 

"JABUTI - O METEOROLOGISTA

 

            Um dos componentes mais modestos e populares da fauna brasileira é o nosso conhecido jabuti (testudo tabulata), quelônio que é encontrado em toda a área do Espírito Santo para o Extremo Norte. Na Amazônia, ele é muito vulgar e constitui um dos acepipes mais apreciados da culinária interiorana.

             O aspecto curioso de sua carapaça, formada de numerosos escudos solidamente unidos, a sua inofensividade [*], fizeram dele objeto de várias lendas, onde aparece como personagem central, geralmente vitorioso pela astúcia. Vagaroso, tardo, é presa fácil de quantos inimigos dele queiram apossar. Não resiste, não esperneia. Não conhece o famoso direito de espernear, que herdamos dos romanos. A morosidade dos seus movimentos, sua lerdeza, entretanto, não impedem que possua uma extraordinária capacidade de fugir, sumir, em poucos minutos, de qualquer lugar aberto. Esconde-se.

            Quando no himeneu, em plena floresta densa e remota, é capaz de promover assombrações. Em grupos, disputa duramente a posse de sua dama, travando lutas que são ouvidas a distância. Conquista a preferida com o ardor de um cavaleiro medieval, chocando as carapaças como armaduras de aço, com surdos impactos, seguidos de gemidos cavos, pungentes, que logo associam ao espírito do caçador menos avisado a idéia de morte e a lembrança de almas penadas, sofredoras, vagantes pelas selvas, forçando-o a acelerar o passo, a afastar-se do local. Neste particular, na defesa da bem-amada, em que pesem as aparências, identifica-se com qualquer daquelas personagens menos distinguidas dos chamados tempos românticos. Toma a sua atitude.

            Mas não é só no aspecto curioso do seu físico ou nas suas aventuras amorosas, que o jabuti se notabiliza. A acreditar no que dizem os ribeirinhos, tem qualidades muito mais apreciáveis, condições excepcionais de prever com antecedência de muitos meses, a intensidade das chuvas do inverno que se avizinha, a magnitude da próxima inundação. Por isso mesmo, antecipando-se ao perigo, procura abandonar as margens baixas do rio, para encontrar do outro lado a terra firme. Um morador local, em sua canoa, encontrando um jabuti a meio do caudal, na sua lenta natação, fazendo a travessia, logo conclui que ele vai de muda, motivado pela previsão da ocorrência de fenômenos transcendentais, como a intensidade das chuvas e consequente inundação, acima dos níveis normais. Na sua lerdeza, parte cedo, ganhando tempo. É entendido em assuntos do tempo, qualificação, que, naqueles anos já bastante recuados, só encontrava competidor, em exatidão, no famoso Almanaque de Bristol, que também fazia estimativas a longo prazo, com indicações para todo ano, o que o tornava uma preciosidade. Cúmulos e nimbos, tempestades, chuvas, estiagem, tudo lá estava catalogado, mês por mês, e muitos testemunhavam a sua exatidão, em linhas gerais.

            Por outro lado, essa capacidade de prever as chuvas, não constitui um monopólio do jabuti, já que o joão-de-barro, pássaro vulgar nas margens dos pequenos afluentes, costuma indicar, aos que neles navegam, a grandeza da futura inundação, pela altura em que constrói os seus grandes ninhos de argila, nas oiranas das margens.

            Assim, a se dar aceitas essas versões, formas primárias de interpretar os fatos, o nosso simplório jabuti não é apenas herói de várias lendas, mas também, e muito especialmente, um abalizado meteorologista." (pp. 129 - 131)

 

 

[*] - Apesar de, nesse texto, ser ressaltada tal inofensividade, o jabuti arranca ponta de dedo humano; uma falangeta de indicador, por ex., se em sua boca for colocada, por desconhecimento da força muscular da mandíbula do bicho manso!