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A PRAGA DA CLASSIFICAÇÃO – ROGEL SAMUEL

Um dos piores vícios dos críticos literários e professores é a classificação: tal livro é romântico, modernista, pós-modernista etc. Se pode ser enquadrado numa classificação, não é arte. As grandes obras são inclassificáveis. Como classificar “Os sertões”? Um dos maiores romances de todos os tempos pode-se dizer que é romance histórico: “Guerra e paz”.

Enquadrar uma obra de arte numa forma específica é terrível. Pode-se dizer, por exemplo, que certos romances de Machado são “pós-modernos”. E agora? Qual é a vantagem de classificar uma obra? Shakespeare era considerado popular em sua época.

A crítica só serve para investigar os sentidos da obra. E olhe lá. Um músico famoso já disse que viajou 40 anos pelo mundo e nunca viu uma estátua de crítico em lugar algum. Hegel escreveu que a obra de Beethoven estava errada, pois ele mudava de “HUMOR” de repente feito um louco... “A sagração da primavera” foi um desastre de crítica. Tchaikovsky sofreu muito. Bach era considerado barulhento. Proust teve de imprimir seu primeiro livro e pagava jornalistas para falar bem dele.

Alguns críticos tinham um faro para descobrir obras-primas, como Tristão de Ataíde, meu professor. Mas também errou drasticamente. Acertou, por exemplo, com “A bagaceira”. O livro era mal impresso, vinha do Nordeste. “Isso deve ser um bagaço”, disse ele para o amigo, na viagem de trem para Petrópolis. Uma hora depois o amigo ao lado acorda e pergunta:

- Alceu, você ainda está lendo “isso”?

- Meu amigo, respondeu ele. “Esse livro é uma obra-prima”!

O maior crítico é o tempo. Só o tempo vai dizer quem é quem. Coelho Neto era o escritor de maior sucesso em seu tempo. Hoje ninguém o lê. Assim também Humberto de Campos.

Se você é escritor tem de acreditar em si mesmo, mesmo que seja você o único que acredita mesmo. Não espere retorno. Como dizia Villa-Lobos: “minhas obras são cartas que escrevi ao futuro”. Os músicos da orquestra riam dele, na época.