ALBERTO CESAR ARAUJO
ALBERTO CESAR ARAUJO

A PANTERA (3) - ROGEL SAMUEL

Porque Jara me impeliu como queria não sei o que, saímos dali e pelo caminho entramos alto e selvagem, naquele ar sem estrelas, naquele mundo sem nome e sem traço, na morte acreditando que eu colhia de um largo rio à margem dirigindo, e Jara me fez parar e então, baixando os olhos fui vendo uma flexa especada, mas dela, serena, o gesto me fazia, sem vozes, sem blasfêmia, arco em punho:

- Por aqui, Jara dizia, e enquanto assim dizia a terra estremeu num único solavanco e foi tão forte o movimento que do medo da terra lacrimosa rompeu um vento e um clarão avermelhado, que como de um sono profundo fui tirado por aquele hórrido estampido.

Mas a Jara perscrutou por saber onde se achava e a tudo no lugar sinistro atenta.

- Temos de partir, nos afastar, - me disse ela, na sua linguagem selvagem, da força daquele vale tenebroso:

- Eia! – disse ela, nos afastemos da treva do mundo – ela me disse enfiando-se por uma descida: “Eu descerei primeiro, tu segundo”. Tornei-lhe, a palidez sua notando:

- “Como hei-de ir, se és de espanto dominada, quando segurança e conforto estou de ti esperando”?

- “Vamos, - disse-me ela, sem se deter – essa jornada exige pressa, porque o abismo a estreitar-se já começa -  e escutei, vibrando no ar, do espaço inteiro os murmúrios longínquos de bombas que estrugiam, e eu vi que no meio da selvagem terra nós fugíamos da guerra, sem parar, pela selva penetravamos e longe ainda divisando o hemisfério das trevas que clarões alumiavam, dali distante de onde nos achávamos, mas não tanto que não discerníssemos o céu súbito brilhante e o rumor que nos chegavam, como que saíssemos de um fúlgido castelo de aspecto majestoso cujos altos muros eram cercados por sombras inimigas e malévolas.