[Paulo Ghiraldelli Jr.]

Mulher feia é burra.

Durante anos se propagou o contrário. As garotinhas bonitinhas eram mimadas por todos, presenteadas demais e, então, entravam fácil para o mundo da futilidade. Uma vez adolescentes e adultas se transformavam nas chamadas “mulheres jumentas”. Loiras foram vítimas disso e, de certo modo, ainda são. Não há dúvida que há um batalhão de mulheres que paga um preço alto por terem tido uma infância facilitada demais por conta de cabelinhos loiros e um nariz de boneca da Estrela. Mas isso está mudando. Podem reparar.

O mundo está se deparando com a mulher bonita e inteligente. O Brasil está nesse mundo mais que qualquer outra nação. Mulheres e homens, bonitos ou feios, quando pouco inteligentes, não suportam essa nova verdade. O racismo entre nós diminuiu nas últimas décadas e também a ideia de pluralidade étnica e riqueza tipológica se ampliaram como nunca dos anos noventa para agora. As crianças negras e mulatas começam a ser agradadas de modo quase igual às brancas de cabelos negros, embora ainda não como as loiras. Por sua vez, as loirinhas já não são necessariamente a coqueluche do lar e da escola. Isso ainda não é assim no orfanato e na escola, mas nos lares já podemos constatar esse novo comportamento. Não estamos no reino de uma saudável não discriminação fatal do olhar de professores, médicos, padres, juízes e pastores, mas estamos longe, bem longe do preconceito racial e estético descaradamente encoberto/descoberto dos anos cinquenta ou mesmo sessenta. As meninas (antes) consideradas feias já não estão tão sem carinho e atenção. Agora, se é para uma mulher se tornar frívola, ela conta muito mais consigo mesma que antes.

Os que vivem de tornar as pessoas belas perceberam isso e já há duas décadas incentivam uma nova indústria de cosméticos e propagandeiam novos modelos estéticos em academias e clínicas médicas de plástica, gerontocracia e estética. O belo fica necessário, mas o belo é o diverso e não se contrapõe ao inteligente. Apesar de parecer o contrário, estamos bem menos uniformizados corporalmente que no passado. Tonto do homem que espera um comportamento avoado e infantil de uma mulher bonita. Algumas mulheres até podem estar nessa, mas antes por fingimento que por real condição. Algumas pessoas da TV, por cultivarem estereótipos, podem fazer você achar que na rua e no seu local de trabalho é a mesma coisa. Um aviso: você vai se enganar redondamente se seguir essa ideia. As mulheres lindas de seu local de trabalho podem já estar na sua frente há anos! E isso sem o teste do sofá que você, para se proteger de sua burrice, acredita que elas fizeram.

Mas uma coisa é a situação em que se vive outra coisa é a percepção individual e social dessa situação. As mulheres belas são postas na parede por mulheres não belas (e o belo aqui é, sem drama, o que socialmente se diz belo – claro!) e são obrigadas a negar a beleza para transparecer inteligência. Fazem isso porque possuem uma percepção social envelhecida. Aquela que anda cedendo diante dessa pressão está errada. Esse passo, agora, é antes de tudo um tropeço. As belas que estão nisso devem consultar outras mulheres belas e perceber que não precisam mais fazer isso. As não belas também perceberam que, diante da tecnologia atual, só se forem muito burras para continuarem feias.  Assim, a diversidade cultural e étnica nos ajuda por um lado, criando opções de gosto, e as tecnologias da  beleza nos ajudam de outros, criando possibilidades de ajuste nessa já ampliada vida estética renovada.

O resultado disso tudo é que cada vez mais a mulher que reclama da beleza da outra e insiste em continuar feia para posar de intelectual ou para cultivar o “deus natureza” se torna uma peça ridícula em nossa sociedade. Só ficarão nisso as muito mal amadas. As muito burras. Mas esperamos que um dia toda criança receba uma dose correta de carinho de modo que nenhuma mulher mais venha a agir assim, altamente determinada antes pelo que ocorreu do que pelo que pode ocorrer. Só então o Facebook será um lugar legal.

Paulo Ghiraldelli

PS1: antes que alguns venham com a pergunta que, aqui, é tola, “o que é beleza?”, já digo que nesse texto beleza é o que é tomado socialmente por beleza, e o “socialmente” aqui inclui sim a mídia, que propaga as visões sociais.

PS2: antes que alguém venha me informar que o racismo não acabou ou, inversamente, que ele não existe, alerto para as pesquisas do IBGE, que mostram que o brasileiro está mais negro e mais mulato, mas que ele ainda escolhe para casar um parceiro da mesma cor e da mesma classe social.