A MORTE DA CADELA DO POETA
Por Elmar Carvalho Em: 02/07/2012, às 17H34
ELMAR CARVALHO
De manhã cedo, recebi um comovente e-mail do Alcenor Candeira Filho e de sua esposa Ana Lúcia (Aninha), dando-me a notícia de que a sua cadelinha Bela havia morrido. Alcenor, como todos sabemos, é um dos maiores poetas e críticos da Literatura Piauiense, além de ser um dos mais respeitados professores dessa disciplina. Cultivamos uma amizade de três décadas e meia, que remonta aos meus primórdios parnaibanos.
O seu bilhete eletrônico foi vazado nos seguintes termos:
“Eu e Ana Lúcia acabamos de reler o seu comovente texto "Anita". Acabo de reler também o famoso capítulo sobre a morte da cachorra Baleia, em "Vidas Secas".
O interesse neste momento pela releitura desses dois grandes textos se deve à recente morte de nossa cadelinha "Bela". Aos seis anos de idade. Problema de plaqueta baixa e crise hemorrágica. A saudade é imensa. A leitura que acabamos de fazer calou fundo na nossa alma, fazendo um enorme bem.”
Triste com a notícia da morte da cachorrinha, mas contente com as palavras que ele disse sobre meu texto, enviei-lhe a seguinte resposta internética:
“Lamento muito a morte de sua cadelinha. Fiquei comovido com suas palavras sobre o texto a respeito da Anita. Posso dizer que foi um dos maiores elogios que um autor piauiense poderia receber. Li um texto, no Navegação de Cabotagem, em que o Jorge Amado disse que deixou de criar animais para não mais sofrer com a morte deles. É um dilema, que a gente tem de resolver. Criar ou não criar. A tristeza com a morte deles é grande. Fica um grande vazio, preenchido apenas pela dor.”
O meu texto, referido pelo poeta Alcenor, titulado Anita, encontra-se disponível nos mares internetianos. Tem comovido alguns leitores. Tenho notícias de lágrimas derramadas por algumas leitoras mais sensíveis. Nele eu falo da beleza inefável e fofa de nossa cachorra, de suas graças, amuos e chiliques. E sobretudo falo de um envenenamento que ela sofreu, em que eu e minha família pensamos que ela fosse morrer, o que nos causou preocupações e sofrimentos.
Felizmente ela continua viva, embora seja hoje uma anciã. Por vezes temos que suportar os seus achaques e enjoos. Mas ela nos compensa e cativa com a sua graça e afeição. Creio que após as mortes da Anita e da Belinha, que espero demorem muito ainda, não mais iremos criar esses animais, para não termos de amargar a dor da perda, assim como fizeram Jorge Amado e Zélia Gattai. Quanto ao texto de Graciliano Ramos, dispensa comentários. É uma das maiores páginas em prosa da literatura brasileira e universal. Embora seja o capítulo de um romance, pode ser lido como um conto, de forma independente. Texto magnífico, merece ser lido ou relido por quem acaso me esteja honrando com a sua leitura.
Em vários poemas, crônicas e contos, muitos publicados na grande rede, tenho tratado dos sofrimentos e maus-tratos que o ser humano vem causando aos animais. Já escrevi sobre cachorros, jumentos, urubus, bem-te-vis, sabiás, rolinhas, mucuras, preguiças, e até sobre lobisomens, mistura mítica de lobo e de homem. Os jumentos tornaram-se, digamos, obsoletos, e hoje vagam, abandonados, pelas beiras das estradas, a morrer e a matar em acidentes de trânsito. Tenho dito que enquanto o homem maltratar os bichos, ele terá muito ainda que evoluir espiritualmente. Talvez seja mais do que o momento de se criar a Lei Áurea da libertação dos animais, os nossos irmãos menores.