A metalinguagem metafórica
Por Rodrigo Sillos Em: 01/06/2025, às 12H20
A metalinguagem metafórica
A função metalinguística da linguagem, muito utilizada em textos literários, tanto em poesias quanto em prosas.
A poetisa portuguesa Florbela Espanca escreveu:
“Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o sentimento,
E ser depois de vir do coração,
O pó, o nada, um sonho dum momento…”
O eu lírico se tortura para tentar escrever uma poesia, que muitas vezes não vinga: “São assim ocos, rudes, os meus versos / Rimas perdidas, vendavais dispersos/ Com que eu iludo os outros com que minto/ Quem me dera encontrar o verso altivo, forte e duro que disseste a chorar isto que sinto.”
A tortura vem pelo anseio de escrever uma poesia que tivesse um ritmo de oração, mas ela não vem.
O escritor brasileiro Moacyr Scliar escreveu no seu romance “Manual da paixão solitária”:
“Como de outras vezes, tomei o pergaminho e escrevi; mas agora era com dor e amargura que o fazia. Esforço enorme custou-me redigir umas poucas linhas. A certa altura não aguentei mais; com raiva, estirei o estilete no chão. (…) A escrita, eu agora descobria, é uma espécie de entidade independente, à espera do leitor, que pode ser para quem escreve um semelhante, um irmão espiritual, mas muitas vezes é um desconhecido que ainda está para nascer. Para esse desconhecido eu, por assim dizer, pedia socorro. A quem mais poderia fazê-lo?”
A metáfora que Scliar faz da escrita com uma espécie de entidade é também uma metalinguagem. Ao leitor, o narrador pede socorro, ao leitor, seu confidente fiel, que muitas vezes ainda não nasceu, pede ajuda.
Voltando à metáfora, a escrita é uma espécie de entidade, que muitas vezes, salva quem está escrevendo.
Essa definição metafórica da escrita é que se faz a metalinguagem, a definição e o propósito da escrita.