A literatura que dá voz ao povo

O romancista, poeta e professor Dílson Lages Monteiro, ocupante da cadeira 21 da Academia Piauiense de Letras, lança no sábado, 18, em Teresina, a novela Capoeira de Espinhos (Nova Aliança Editora). O lançamento da obra acontece na Livraria Entrelivros, situada na Av. Dom Severino, 1045, Fátima, a partir das 19h. A apresentação da obra será feita pelo historiador e professor da Universidade Federal do Piauí, Fonseca Neto, que também é membro da APL.

Capoeira de Espinhos centra-se no cotidiano de um aposentado que, transmutando-se entre o presente e o passado, leva o leitor à sátira sobre situações que agridem a condição humana. A rua e a própria casa do protagonista são os espaços das ações e, mais que eles, os significados instaurados pelo viver em ambientes de limitadas perspectivas sociais e econômicas.  

Conversando sobre os temas da obra, diz Dílson Lages que “nas caminhadas pelo lugarejo, em busca de longevidade e de interação, o protagonista Constantino se depara com as fisionomias da injustiça social das pequenas cidades. Inquieta-o a obscuridade quanto ao futuro, o atraso social, o fuxico das calçadas, o mandonismo, a destruição dos recursos naturais, a corrupção, o egoísmo, a ambição sem limites, o descaso para com o patrimônio público, a desigualdade de gênero etc. Inquieta-o uma cultura que envenena as relações sociais e se reflete em vícios que se perpetuam no comportamento da comunidade e fragilizam os laços de convivência”.

Apensar de construir uma narrativa de traços neo-realistas, para Dílson Lages, a preocupação com os aspectos documentais se transforma em segunda natureza, para valorizar a linguagem, rica em analogias e relações semânticas de vizinhança, expressas no abundante uso de metáforas e metonímias. O escritor afirma que, “para além de um retrato social das pequenas cidades brasileiras, para além, da dimensão política que dá sustentação ao texto, Capoeira de Espinhos é novela cujo investimento na linguagem revela-se como traço evidente desde as primeiras linhas”.

Ele acrescenta que, “embora todo o texto circule em torno das instâncias de poder, o que vigora é o liame da preocupação social ao lirismo e à sátira. Vigora um narrador protagonista que busca reinserir-se na paisagem afetiva e, para isso, reage às provocações do espaço, ora com melancolia, ora com revolta, mas principalmente com graça”.

Outro traço peculiar ao texto é a escolha por personagens de menor visibilidade na escala dos valores econômico-sociais. "Ao valorizar personagens como o vigia, o relojoeiro, o pedreiro, o caçador, o agente de endemias, a dona de casa e principalmente aposentado, vai o narrador, em linguagem cercada de fragmentação e digressões, expondo os interesses obscuros que movem a dinâmica social e, ironicamente, mergulhando o leitor na perplexidade e indignação do tempo presente”, esclarece.

Explicando sua técnica, Dílson Lages enfatiza que o livro, apesar de ser uma novela, pode ser lido como conto e crônica, dada sua natureza fragmentária, que tenta reproduzir o próprio fluxo da memória. “Fundindo crônica, conto e novela, procurei subverter a classificação trivial dos gêneros textuais, a fim de projetar a memória como elemento determinante nos núcleos dramáticos. Ao agir assim, busquei criar ritmo próprio para a escritura, ritmo que se confunde com as vivências e percepções do próprio leitor, convocado a construir analogias a partir da abundante utilização dos tropos, a qual faz do passeio pela linguagem agradável e divertido jogo com as crenças, os comportamentos e as atitudes do leitor”, finaliza.

Dílson Lages Monteiro é autor de 14 obras publicadas. Escreve poema, conto, novela, crônica memorialista, ensaio acadêmico e texto didático. Professor, desde 1993, com atuação na área de linguagens, ocupa a cadeira 21 da Academia Piauiense de Letras. Mantém na web, desde 2002, o Portal Entretextos (www.portalentretextos.com.br). Vive em Teresina-PI.

 

 

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