A invenção real de Mandu Ladino

[Diego Mendes Sousa]
 
O romance histórico Mandu Ladino (2006), do teresinense Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco (1944-), é um registro literário incomensurável para a ficção piauiense e uma narrativa única, urdida com a memória sangrenta da resistência dos povos indígenas. É um livro fundamental e identitário sobre a ocupação do Piauí e do seu entorno.  

O narrador construiu uma peça de transfiguração, através de uma personagem real e mítica, vivente do século dezessete, quando da colonização do Piauí, cuja invasão foi protagonizada por padres e criadores de gado, homens brancos que ocuparam as terras pertencentes às nações que povoavam os sertões de dentro, como os Aranhis, Jaicós, Potis, Xerentes, Pimenteiras, Anapurus, Tabajaras, Timbiras, Aruás, Tremembés e tantos outros, cruelmente massacrados e dizimados. 

O desenho do rio Parnaíba agrega as forças ladinas de um herói que se rebelou contra o jugo violento das armas de fogo e dos cavalos que martirizavam e encurralavam os nativos. 

Mandu Ladino conseguiu unir e agrupar os seus parentes e liderou o mais significativo levante indígena contra a escravização, a agressão cultural e a morte de sua gente. O indígena acabou sendo perseguido e morto nas águas do Igaraçu, braço do Parnaíba, entre as cidades litorâneas da Parnaíba e da Ilha Grande do Piauí, no Atlântico norte do Brasil. 
 
O bravo e inteligente Mandu Ladino recebeu uma certidão de nascimento, um repertório de vida e de óbito, nas mais de quatrocentas páginas dessa monumental obra romanesca do novel membro da Academia Piauiense de Letras, Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco. 
 
 
Diego Mendes Sousa é poeta e filho da Parnaíba.