Uma das piores espécies de homem que existe é a do invejoso; outra, é a dos traidores.
     Quando um mesmo indivíduo reúne essas duas características, fica insuportável.
     O traidor é asqueroso, abjeto, uma excrescência humana. Esconde-se, tantas vezes em um sujeito que, com esgares de inocência e falso senso de prestação de serviços, oferece-se para seguir, ajudar, auxiliar ou coadjuvar alguém no exercício de qualquer tarefa. Seu verdadeiro caráter, entretanto, se mostra mais suscetível ou perceptível a partir do momento em que percebe que essa sua dedicação, com um pouco de engenhosidade – ou maquiavelismo -, pode render-lhe muitos outros benefício, quem sabe mesmo, algum resquício de poder.
     Durante certo tempo, esses seres híbridos conseguem disfarçar o tipo de personalidade que possuem. Não é regra, mas com alguma recorrência, primeiramente, demonstram seu lado invejoso, aquele que os faz desejarem, patológica e, inexplicavelmente, o que, talvez, um dia pudesse lhes ser oferecido, naturalmente. Parece haver certa lógica na priorização de esse procedimento, de o auxiliar, coadjuvante ou mero assessor, a princípio, demonstrar mais enfaticamente o corrosivo sentimento da inveja; o que, entretanto, não o coloca no rol dos explicáveis ou justificáveis sob ponto de vista moral e ético. É que, no momento em que alguém, sem muitas reservas, evidencia, prioriza ou se vale de sua condição de traidor, imediatamente, despertará no objeto dessa traição decepção; depois, cuidado, preocupação e, claro, também o deixará mais vigilante quanto à possibilidade de o traidor vir a se utilizar de outros sentimentos mesquinhos, dentre os quais o mais comum é a inveja, no sentido de prejudicá-lo.
     O traidor, tanto quanto o invejoso, parece já vir do berço com esse estigma. Não me valho da ciência para afirmar isso; logo, até posso estar sendo leviano: mas a traição e a inveja são falhas ou defeitos genéticos do ser humano que, mais tarde, os desenvolverá.
     Para o traidor, basta um fato, um evento, algo que faça aflorar nele um suposto ou hipócrita sentimento de decepção, para fazê-lo usuário da traição. Ofertas, ainda que demagógicas, vindas de adversários ou detratores de companheiros de labuta; pretensas vantagens que lhe estejam sendo disponibilizadas; rixas que, unilateral e/ou intempestivamente, venha a criar, são capazes de transformar um homem que, antes, parecia ilibado em um traidor.
     O invejoso, nem sempre precisa de desculpa, justificativa ou subterfúgio para se manifestar: ele cria as condições que favoreçam ou corroborem a utilização da inveja.
     Quem já não ouviu falar ou tomou conhecimento de pessoas que somente se mantiveram como amigas de outras até o momento em que alguém ou algo fez com que uma e não a outra fosse beneficiária daquilo que, mais a preterida do que a escolhida, julgava-se merecedora?
     Há, ainda, exemplos de indivíduos que agem feito maria vai com as outras, ouvindo mais os que acusam sem prova aqueles por bom tempo seguiram (ou continuam seguindo), do que aos acusados, com quem conviveram ou convivem, juntos, diuturnamente, no exercício de atividades ou funções. Tem-se observado homens que, por conta de alguma circunstância - que, como externada ou tornada pública, não justificaria as atitudes que tomam, tampouco as que deixam de tomar - mudam sua opinião ou visão em relação a velhos companheiros com os quais serviram ou trabalharam em algo comum; o estranho disso é que, tantas vezes, mesmo podendo se afastar dos que, a seus olhos, passaram a ser pouco ou nada confiáveis, preferem continuar convivendo e, sem nenhum pudor, traindo-os; possivelmente, dando vazão à inveja que não mais cabia em seu ser.
     Outro defeito que, invariavelmente, se alia ou une à traição e à inveja é a covardia. É muito raro encontrar-se um invejoso que não seja covarde; tanto quanto um covarde que não traia. 
     Antônio Francisco Sousa – Auditor-fiscal e escritor piauiense ([email protected])