A história do sapo Zé

Elmar Carvalho

Dias atrás veio fazer um trabalho em nossa casa o mestre Ivo Gomes, radicado em Teresina, porém natural de Miguel Alves – PI. Quando, no final do serviço, minha mulher e eu o elogiamos, reconhecendo que ele montara o painel de mosaico com perfeição, ele revelou que passara a noite anterior sem dormir direito, porque a Fátima achara que ele havia errado na ordem de colocação de algumas das peças. Isso demonstra que ele é um operário perfeccionista, meticuloso, o que se percebe ainda no cuidado como ele fez as necessárias emendas, nos locais em que não cabia uma unidade completa.

No decorrer da execução do serviço, ele tomou conhecimento de que eu escrevera alguns livros, que lhes foram mostrados, creio. Ivo, então, nos contou que o seu filho, ainda um menino, era também um escritor. Como lhe indagássemos sobre isso, ele nos contou que o garoto gostava de ler e sempre participava do Salão do Livro do Piauí – SALIPI, tendo publicado um livro infantil por ocasião de uma de suas “versões” anuais.

Falou que o garoto, além do amor aos livros, gostava de desenhar, escrever e era componente de uma banda musical. Acrescentou que o seu filho escrevia desde que tinha cinco anos de idade, sem que ninguém a esse mister o induzisse. Ele próprio fazia as ilustrações das histórias que escrevia.

Perguntei qual a sua idade atual, tendo o mestre me respondido que tinha somente 12 anos de existência. Prometi que, quando ele terminasse o serviço, mandaria uns livros de minha lavra a seu filho, tendo ele me dito que me traria, no dia seguinte, um livro da autoria do garoto. De fato, me trouxe um exemplar, ainda lacrado por invólucro plástico, e, portanto, sem autógrafo, o que parece indicar que o jovem não foi inoculado pelo veneno da vaidade de eventual mosca azul.

O pequeno volume tem o título de “O sapo Zé”, e é todo colorido, da capa à contracapa, o que é conveniente a um livro destinado a público infantil. Li-o com agrado, me recordando dos tempos de minha meninice, em que li com sofreguidão esse tipo de literatura, inclusive vários da autoria do grande Monteiro Lobato, da Condessa de Ségur, de Viriato Correia e vários outros autores, além de inúmeros gibis da marca Walt Disney.

A obra contém belas ilustrações em policromia, que bem retratam o que é narrado, elaboradas por Ângela Rêgo, exímia artista plástica e ilustradora, que já agregou valores a vários livros publicados. Ela é também uma talentosa capista.

 

Na capa se encontra estampado o nome completo do autor: Railson Cauã Gomes. A pequena nota biográfica informa ainda que ele tem oito anos e que aos cinco decidiu escrever histórias, bem como é estudante de escola pública. Portanto, a história objeto do livro foi escrita, suponho, quando ele tinha apenas essa idade, contudo o livro foi publicado em 2016, conforme folha de rosto. Foi publicado pela Nova Aliança Editora, cujo proprietário é o livreiro Leonardo Dias, coordenador editorial, que relevantes e bons serviços vem prestando à literatura piauiense.

Na pequena nota, a que me referi, é noticiado que o autor “tem o sonho de ser um grande escritor lido no mundo inteiro e por isso continua escrevendo e ilustrando histórias para as crianças se divertirem”. O estilo é claro, direto, objetivo, sem nenhum tipo de rebuscamento, e bem compatível com a idade de Railson Cauã. A história é simples, porém criativa, e apropriada ao público a que é destinada. Por conseguinte, bem diferente de certas histórias infantis, que são, na verdade, uma espécie de contos de terror.

Transcrevo o seguinte trecho, que é revelador de sua inventividade: “O sapo Zé pulava no jardim e a sapa pulava no seu Joaquim.” Nota-se, nesta pequena transcrição, o espírito lúdico e brincalhão do jovem escritor. Por ela se percebe que, se Cauã tiver perseverança e não mudar de planos, continuando firme em sua vocação, em seus estudos e amor à leitura, realizará, decerto, o seu “sonho de ser um grande escritor”.

Afinal, como já dizia Charles Chaplin, “a persistência é o caminho do êxito".