A fórmula preferida do professor
Em: 31/03/2024, às 21H06
[Cláudio Trasferetti]
Eu ainda não havia percebido, mas há, agora, uma categoria do prêmio Jabuti intitulada “Romance de Entretenimento”. Lendo a definição dessa subdivisão, percebi que nela se enquadraria o último livro que li caso fosse um concorrente: “A fórmula preferida do Professor”, de Yoko Ogawa. Trata-se de uma história que entretém ao mesmo tempo que proporciona ao leitor um mergulho no mundo da Matemática, do baseball japonês e traz reflexões sobre a memória, a amizade e os chamados processos de ensino-aprendizagem e a afetividade que pode circundá-los.
A história é narrada por uma empregada doméstica que vai prestar serviços a um professor aposentado com graves problemas de memória para o cotidiano, mas que ainda tem uma mente brilhante quando o assunto é a Matemática. Ela é mãe solteira de um filho pré-adolescente. Com uma didática excelente, o professor consegue engajar a narradora e seu filho em questões matemáticas. Surge aí um pequeno e inusitado núcleo familiar que trará repercussões na vida de todos. Sim, estamos diante de um ótimo material para um sofisticado filme de Sessão da Tarde.
O livro é um prato cheio para professores e admiradores da Matemática, mas me parece que também pode atingir pessoas que não são tão fãs dessa ciência. Eu me situo no meio do caminho entre esses dois grupos e aproveitei muito as conversas sobre números primos, números imaginários, divisores, raízes, logaritmos... Já quando o assunto foi baseball, confesso que fiquei um pouco perdido porque não entendo patavina desse jogo.
O enredo também evoca nossos professores e nossos processos de aprendizagem e, em meio a tantas rememorações sobre meus próprios mestres, me lembrei do velho e querido sensei retratado por Kurosawa em seu último filme, “Madadayo”. Talvez o professor do livro da Ogawa pudesse ter feito uma carreira longeva e ter sido cultuado pelos alunos como o do Kurosawa, carisma não lhe faltava, mas o destino (quero dizer a autora) não seguiu esse caminho...
Yoko Ogawa é uma escritora japonesa contemporânea bastante conceituada e premiada. Parece que a memória é um de seus temas favoritos. O livro me deixa curioso a respeito de suas outras publicações.