“Na sala de aula” (1886) de Paul Louis Martin des Amoignes, pintor francês nascido no século XIX.
“Na sala de aula” (1886) de Paul Louis Martin des Amoignes, pintor francês nascido no século XIX.

[Cláudio Trasferetti]

Eu ainda não havia percebido, mas há, agora, uma categoria do prêmio Jabuti intitulada “Romance de Entretenimento”. Lendo a definição dessa subdivisão, percebi que nela se enquadraria o último livro que li caso fosse um concorrente: “A fórmula preferida do Professor”, de Yoko Ogawa. Trata-se de uma história que entretém ao mesmo tempo que proporciona ao leitor um mergulho no mundo da Matemática, do baseball japonês e traz reflexões sobre a memória, a amizade e os chamados processos de ensino-aprendizagem e a afetividade que pode circundá-los.

A história é narrada por uma empregada doméstica que vai prestar serviços a um professor aposentado com graves problemas de memória para o cotidiano, mas que ainda tem uma mente brilhante quando o assunto é a Matemática. Ela é mãe solteira de um filho pré-adolescente. Com uma didática excelente, o professor consegue engajar a narradora e seu filho em questões matemáticas. Surge aí um pequeno e inusitado núcleo familiar que trará repercussões na vida de todos. Sim, estamos diante de um ótimo material para um sofisticado filme de Sessão da Tarde.

O livro é um prato cheio para professores e admiradores da Matemática, mas me parece que também pode atingir pessoas que não são tão fãs dessa ciência. Eu me situo no meio do caminho entre esses dois grupos e aproveitei muito as conversas sobre números primos, números imaginários, divisores, raízes, logaritmos... Já quando o assunto foi baseball, confesso que fiquei um pouco perdido porque não entendo patavina desse jogo.

O enredo também evoca nossos professores e nossos processos de aprendizagem e, em meio a tantas rememorações sobre meus próprios mestres, me lembrei do velho e querido sensei retratado por Kurosawa em seu último filme, “Madadayo”. Talvez o professor do livro da Ogawa pudesse ter feito uma carreira longeva e ter sido cultuado pelos alunos como o do Kurosawa, carisma não lhe faltava, mas o destino (quero dizer a autora) não seguiu esse caminho...

Yoko Ogawa é uma escritora japonesa contemporânea bastante conceituada e premiada. Parece que a memória é um de seus temas favoritos. O livro me deixa curioso a respeito de suas outras publicações.