(Miguel Carqueija)

As garotas marionetes atacam...

A FICÇÃO CIENTÍFICA DE “SABER MARIONETTE”


    Publicado pela JBC, o mangá “Saber Marionette J” — originalmente editado no Japão pela Fujimishobo e pela Kadokawa Shoten, entre 1996 e 1999 — está finalmente saindo no Brasil.
    Não sei porque o “J” desta fase — talvez por causa da hipotética nação “Japoness” — mas é uma saga bem original em torno do assunto “inteligência artificial”. É a história de náufragos do espaço, astronautas que saíram da Terra para colonizar algum planeta além do Sistema Solar. A nave-colônia Mesopotâmia naufraga e somente seis homens sobrevivem no mundo habitável que eles chamam de Terra II. Fundam seis nações, uma para cada nacionalidade, mas, sem dispor de mulheres, só conseguem se reproduzir por clonagem. Trezentos anos depois, Terra II já possui uma grande população humana, porém exclusivamente masculina. Para substituir as mulheres, criaram as “saber marionettes” (garotas marionetes), ou seja, robotas, andróides com aparência feminina.
    Entretanto elas não são verdadeiras mulheres, não possuem sistema reprodutor e o sexo, bem como o casamento, são desconhecidos em Terra II. As marionetes são usadas como diversão, serviçais ou escravas, servindo também como combatentes. Não são consideradas seres humanos.
    O mangá, escrito e desenhado por Satoru Akahori, Jukki Hanada e Yumisuke Kotoyoshi, tem um traçado bastante tosco, cenas por vezes muito confusas e escrachadas, com excesso de nudez e insinuações eróticas em meio à inocência dos personagens. Às vezes se vê isso em mangás e animês, com os autores brincando de colocar personagens inocentes (como o “Honorável Otaru” e suas “saber marionettes”) em cenas de grande apelo erótico sem que nada de fato aconteça. Aqui, há um certo mau gosto e exagero.
    Otaru, o herói da história, é um rapaz de Japoness que recebe do Shogun a missão de cuidar de três marionetes especiais, Lime, Cherry e Bloodberry, pois estas possuem o “circuito otome”, que lhes traz a lembrança do que foram as mulheres. Por isso, e ao contrário da maioria das demais robotas, elas têm sentimentos. E Otaru não as vê como bonecas, mas como pessoas, embora nem conheça o que sejam mulheres.
    Elas se dedicam a ele com um agarramento de carrapichos e uma ternura de mulheres apaixonadas, com sentimentos que sequer compreendem. Faltou, aos autores, sutileza para trabalhar com essa situação, pois o mangá às vezes escorrega para um nível de pornochanchada — bem entendido, sem nenhuma cena de sexo, pois as marionetes não têm, ao que parece, aparelho sexual.
    Entretanto, Otaru e suas marionetes precisam enfrentar uma conspiração política. Fausto, líder de Gartland (equivale à Alemanha), planeja conquistar o poder supremo em Terra II, dominando as outras cinco nações.
    Este é o argumento básico da saga. Um mundo sem mulheres, simulacros de mulheres tratados como seres inferiores e um homem que as trata como seres humanos e é venerado por elas. Tudo a nível platônico/erótico, se tal coisa existe. Além disso a história trabalha com a questão do preconceito e da tolerância, seu ponto mais positivo.
    Existe também o anime de Saber Marionette, com 25 episódios.

Rio de Janeiro, 22 de junho a 6 de julho de 2011.