À espera dos bárbaros: um poema de Konstantinos Kaváfis
 Por Jefferson Bessa Em: 05/06/2016, às 18H02
Por Jefferson Bessa Em: 05/06/2016, às 18H02
 
                            
O que esperamos na ágora reunidos?
           É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
            É que os bárbaros chegam hoje.
            Que leis hão de fazer os senadores?
            Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
            É que os bárbaros chegam hoje.
            O nosso imperador conta saudar
            o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
            um pergaminho no qual estão escritos
            muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
          É que os bárbaros chegam hoje,
          tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
           É que os bárbaros chegam hoje
           e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
           Porque é já noite, os bárbaros não vêm
           e gente recém-chegada das fronteiras
           diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
tradução José Paulo Paes

 
                            
 
                                 
                                 
                                             
                                             
                                             
                                             
                                         
                                         
                                        