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[Maria do Rosário Pedreira]

Falei-vos há tempos de que, neste ano, iria ter duas boas escritoras na minha lista (mulheres, pois!). O romance da primeira, Cristina Drios, acaba de sair e vale mesmo a pena ser lido. Fala-nos, em dois tempos distintos, de uma escritora cansada do seu casamento que toma a descoberta da fotografia de um avô desconhecido – e fardado – como pretexto para escrever um livro e se afastar da rotina; e da sua personagem, Mateus Mateus, um homem estranho e corpulento, aparentemente insensível, que fez parte do contingente português que combateu em França durante a Primeira Guerra Mundial. Mas, muita atenção, apesar de a História ser cenário, este não é decididamente um romance histórico. Porque o que aqui interessa não é o destino dos combatentes nem as circunstâncias da guerra, mas a densidade psicológica dos intervenientes na narrativa – o avô-soldado, a enfermeira que enviuvou antes de se casar, o médico alemão, o órfão que sabe truques de ilusionismo e faz aparecer ovos para os pudins, o militar albino que serve de cobaia a estranhas experiências freudianas e, obviamente, a própria escritora, que os faz caminhar numa história profundamente original, na qual também ela é várias coisas ao mesmo tempo. Finalista do Prémio LeYa em 2012, Os Olhos de Tirésias é um romance muito maduro para quem só recentemente começou a escrever para os outros, uma obra de análise psicológica com assinalável profundidade e uma boa promessa para o futuro.