A desonestidade é um desvio de caráter ou atributo que se manifesta sob qualquer circunstância. Em outras palavras, o desonesto o é sempre, em todos os momentos. Costuma jogar para não perder; ainda que ganhar, na maioria dos casos, seja uma perda, se vista sob prisma de sua condição existencial. Ou seja, quando esse tipo de indivíduo ganha – expressão que gostaríamos de atribuir àquela situação que lhe permite tirar dela algum proveito -, na verdade e, invariavelmente, outro perde, potencial ou realmente – porque, sem dúvida, alguém dele foi vítima para que se sagrasse vencedor.


     A falta de honestidade transforma seu detentor num ser abjeto e asqueroso; uma criatura que não mede esforços para arruinar alguém, pouco importando se essa ruína seja a bancarrota total ou um prejuízo fugaz. O prazer de prejudicar alguém, em benefício próprio ou não, move os desonestos. A amizade, por mais que aparente tê-la a outrem, é outra faceta mentirosa de sua índole desvirtuada. Gente como eles, não raro, apenas respeita ou teme aos que têm poder suficiente para despojá-la de suas pretensões, destituir-lhe a empáfia; enfim, sobrepujá-la de alguma forma, seja esta, mesmo, a possibilidade de lhe fazer um mal maior. Os desonestos, no entanto, não se sentem confortáveis diante de pessoas que, honestamente ou não, lhes possam ser hierarquicamente superiores. Por serem excrescências existenciais, embora não tão raras,  detestam concorrência. Se pudessem seriam unos; como não podem, então querem ser os maiores, os melhores, os mais honestos.


     Com a demagogia, num diapasão diferente, acontece semelhantemente. O demagogo, geralmente, é um desonesto; o inverso, nem sempre é verdadeiro: desonestos, por característica, não são demagogos, pois, estes falam demais e fazem de menos; aqueles, quando falam muito, estão fazendo demagogia, escamoteando o que, de fato, pretendem fazer. É comum, aos prejudicados, a princípio desconhecerem os desonestos. Com os demagogos não é bem assim: todos os conhecem.


     A demagogia também é um desvio de conduta. No tocante aos malefícios que proporciona, o demagogo é, por vezes, sua primeira vítima; o desonesto age mais inteligentemente e, por isso, prejudica primeiro a terceiros. O demagogo parece mais corajoso. Canastrão, diz as coisas, talvez na ingênua ilusão de que muitos nelas acreditam. O desonesto é covarde. Calado, vai tecendo sua teia criminosa: fazendo-se de honesto e amigo, consegue, sub-repticiamente, seus intentos.


     A demagogia e a desonestidade têm tantas formas, nuanças, meandros, causas, implicações, características e conseqüências, que tentar esgotar tudo que lhes diz respeito em  tão poucas linhas, só faria desse idiota, também,  um grande e desonesto demagogo ou, por outro lado, um demagogo dos mais desonestos.


   Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal e escritor piauiense