NOTA  AOS MEUS ESTIMADOS LEITORES:

O TEXTO ABAIXO FARÁ PARTE DO MEU LIVRO

NÃO ESTÁ CHOVENDO LÁ FORA

(Crônicas)

A CAMINHO DO CÉU

 

CUNHA E SILVA FILHO                                                                                         A meu  filhos  Francisco da Cunha Neto e Alexlexandre Cardoso

 

         No Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, naquele clima sempre amenos e naquela Natureza vigem sempre tranquila, propiciada pela beleza da floresta da Tijuca, vive uma velhinha de quase oitenta e seis anos que aproveita a idade avança fazendo mobílias em miniatura de - vejam! - caixas de fósforos. Esses brinquedinhos acabam com o mau-humor de qualquer menino chorão. Além dessa delicadas mobílias de caixa de fósforo ela também confecciona bolinhas de pano com que mimoseia as crianças que, por acaso, a procuram ou a visitam. E tudo isso é realizado com amor e dedicação e com o concurso apenas do tato, uma vez que essa octogenária baixinha, pequenina. de gestos vivazes, é cega faz algum tempo. A primeira vez que eu a vi ainda estava com a vista normal, Essa velhinha de memória fresca e sorriso angelical, de rosto rosado e quase roliço, constitui a alegria para as crianças.

         Quando fui visitá-la com a minha família, ela se encontrava recolhida aos seus aposentos um modesto quarto com o mínimo necessário numa prova incontrastável de simplicidade autoimposta.Lá veio ela na cadeira de rodas ao nosso encontro fulminante de alegria. Madre Fortuna, que não larga o tradicional hábito tendo ultrapassado a barreira do jubileu de votos religiosos, acredita piamente na felicidade. Ela mesma confessa, com a vozinha ainda firme e acolhedora, que é uma pessoa feliz apesar da deficiência física e de ter sido aconselhada a andar em cadeira de rodas como se fosse paraplégica. O que querem é poupar-lhes as pernas já fracas e cansadas. Quando anda, o faz com o arrastar de uma cadeirinha à frente.

          Madre Fortuna é carioca, batizada na Igreja de Santana, no Centro do Rio de Janeiro. A sua vida se resumia a essa pequenas e singelas atividades da vida. Veio de uma família de convicções religiosas firmes. Escolheu a vida religiosa por vocação. Casou-se com Cristo. Fez o noviciado em Santiago, no Chile, onde se demorou por dois anos. Em Roma, recebeu a consagração e a bênção do Papa Pio XI, om orgulho mostra o crucifixo que recebeu do Papa e do qual nunca se apartou.

          Madre Fortuna pertence à Ordem Sacré Coeur de Jésus Na mocidade, foi professora de diversas disciplinas, como português matemática e francês. Ainda se recorda, com muita saudade, de suas aula de francês e da alegria que fazia brotar no coração de suas alunas que a saudavam com alacridade: “Mère Fotuna! Mère Fortuna! Comment allez vous?”Madre Fortuna no diz que toda a sua família se foi. Por último, perdeu um irmão padre mais novo do que ela. Perdeu alguns irmãos em acidentes, um dos quais no, estando em Roma, caminhando por uma rua, foi atingido por uma perdera que rolara durante um terremoto.

          Madre Fortuna gosta de falar de seu passado, de sua família, “dos bons tempos”. Nota-se, porém, que a religião foi seguramente o fio condutor de toda a sua existência completamente entregue às orações à sua ascese. Não gosta de televisão, mas, é curioso, deleita-se em ouvir notícias pelo rádio sobre futebol e se declara fluminense. Perguntou-nos a todos se sabíamos rezar ainda, se fomos batizados. Nosso encontro terminou assim com palavras finais dessa santa Madre : “Sou uma pessoa feliz que vive, agora, pra fazer brinquedinhos pra crianças. Essa é a minha vida presente. E se despediu de nós, seguramente, com toda uma alegria no coração