15:50

Eneas Barros

O crime romanceado no livro "15:50" (Eneas Barros, 2010) aconteceu em uma cidade do interior do Piauí, no final da década de 90. Foi um crime bárbaro, não apenas pelo requinte de crueldade com que foi praticado, mas também pelo ato insano que se seguiu. A criminosa, uma adolescente à época, declarou que bebeu três copos e meio de sangue que jorrava da cabeça de suas vítimas e depois, como se nada houvesse acontecido, tomou banho e foi para a casa da vizinha. Essa história provavelmente não vai agradar a pessoas sensíveis à descrição de cenas fortes.

O caso chamou a atenção do país. Logo após a sua consumação, televisões, rádios e jornais passaram a ligar constantemente em busca de informações. Estavam atraídos não pelo crime ou pela forma com que fora praticado, mas pelos sintomas nítidos de vampirismo que se confirmaram. Uma psicóloga levantou a hipótese de que a menina-vampiro, como a agressora ficou conhecida, poderia sofrer de porfiria, uma doença rara e terrivelmente assustadora.

Para contar essa história, tive acesso a documentos do processo e a jornais da época. Conheci a casa onde ocorreu o crime. Conversei com pessoas que estiveram presentes aos instantes imediatos após o drama desesperador, naquela fatídica tarde de novembro de 1998. Observei o ambiente e pude sentir a plenitude da cena, a rua calma, a casa sombria, a janela inspiradora, o quintal tenebroso, a sala macabra e o pavor das testemunhas. Todos os elementos ainda pulsavam pelas paredes, como se adquirissem vida para contar uma história que abalou os moradores daquele bairro pacífico.

Os incontáveis estudos existentes são unânimes em afirmar que a psicopatia não tem cura. O caso foi incansavelmente diagnosticado por diversas equipes médicas, que a apontavam portadora de um transtorno de personalidade. Na tarde do crime, iniciava-se uma sucessão de ações policiais, procedimentos médicos e viagens que a criminosa jamais imaginaria viver um dia. Tudo o que aqui está escrito, além de algumas impressões pessoais, foi baseado em farta documentação, na reflexão de juristas, nos pareceres dos profissionais que acompanharam o caso e no testemunho de parentes e das muitas pessoas que estiveram na cena do crime.

Recebi um apoio essencial do doutor Antônio Reis de Jesus Nollêto, Presidente do Tribunal Popular do Júri e Juiz Titular da Primeira Vara do Júri em Teresina, a quem devo meus primeiros agradecimentos. À época do crime, doutor Nollêto era Juiz da Infância e da Juventude da Comarca onde a tragédia se fez. Ele se dispôs a me acompanhar à Penitenciária Feminina, onde conheci a cela onde a menina esteve presa durante anos. Conversei com outras detentas, que conviveram com ela, e pude reunir material suficiente para traçar um perfil que se enriqueceu com as impressões pessoais que tive ao conhecê-la.

Este livro aborda o crime e seus desdobramentos, pois muito pouco se sabe sobre o passado da menina, aqui chamada de Ema para preservar o seu anonimato. Os parentes também tiveram os nomes omitidos, bem como a cidade onde o crime aconteceu. Os demais personagens e lugares foram retratados fielmente.

Agradeço ao Juiz da Segunda Vara, doutor Aderson Antonio Brito Nogueira, pela gentileza com que me recebeu; ao doutor Edimar Piauilino Batista, Promotor de Justiça; à doutora Glícia Rodrigues Batista, Defensora Pública do Piauí; ao Escrivão de Polícia Carlos Augusto Torres, conhecido como Paulo Torres, pelas rebuscadas na memória do dia em que registrou em sua Olivetti os dois depoimentos da menina logo após o crime; à doutora Léia Moraes, diretora do Hospital Regional Tibério Nunes, pela gentileza em me abrir as dependências do local que socorreu as vítimas; ao doutor Dionísio Martins de Araújo Neto, médico legista que assinou os autos de exames cadavérico e de corpo de delito; ao doutor Humberto Soares Guimarães, psiquiatra forense que diagnosticou a psicopatia amoral na menina e explicou o funcionamento de uma mente transtornada; ao agente Marcelo, do Segundo Distrito Policial, que me mostrou a sala onde ocorreu a confissão do crime; à psicóloga Geracina Olímpio de Melo, Diretora da Penitenciária Feminina de Teresina, por ter me recebido com gentileza nas diversas visitas que fiz ao presídio; a Raimunda da Costa, Chefe de Disciplina da Penitenciária Feminina, pelas informações sobre condutas no sistema carcerário; ao promotor Ubiraci Rocha, pelas discussões que me ajudaram a entender os meandros de um processo; ao sargento José de Ribamar Pereira da Silva, que fez a apreensão da menina e evitou a sua fuga; e também ao soldado Silva Neto, ao tenente Emerson e ao capitão Newmarco, do Quartel da Polícia Militar. Os meus agradecimentos sinceros vão ainda para os anônimos do bairro, que buscaram nas lembranças situações que pudessem esclarecer alguns pontos nebulosos daquela tarde, e também aos familiares das vítimas, que me facilitaram o entendimento de instantes anteriores e posteriores ao crime. Todos foram decisivos e essenciais ao trabalho que ora apresento. E também à minha esposa, Socorro de Maria, pelo olhar crítico e sempre atento a tudo o que escrevo. Meu último agradecimento vai para a personagem principal desta história, que conversou comigo de forma descontraída, embora não tenha percebido a inquietação que me consumia.

Essa é uma história forte, como disse, passada em uma cidade pacata, com baixo índice de homicídios, e contada com o realismo dos seus personagens. Chama a atenção para os distúrbios da mente, que nos pega de surpresa onde menos esperamos, e faz um apelo para que o Governo do Piauí priorize a implantação de um manicômio judiciário e traga à sociedade a certeza de que os infratores de mente transtornada estarão no local certo para pagarem pelos seus crimes.

O livro "15:50" custa R$ 25,00 e se encontra à venda nas livrarias Nova Aliança, Margarida, Universitária e Tocatta.