Zemaria Pinto escreveu sobre os últimos meses de Luiz Bacellar
Por Flávio BittencourtEm: 12/09/2012, às 08H30
[Flávio Bittencourt]
Zemaria Pinto escreveu sobre os últimos meses de Luiz Bacellar
"Para preservar a honra e a dignidade [de um secretário do Governo do AM] (...), vou relatar a verdade, tal como ela de fato aconteceu", assinala Zemaria Pinto.
"El Haiku [OU HAICAI, EM PORTUGUÊS] de la rana [DA RÃ] de Bashô es tal vez el Haiku mas conocido que existe. Este Haiku según la traducción de Octavio Paz y Hayashiya Eikichi se traduce de la siguiente manera:
Un vieil étang
Quelque chose vient d’y sauter
Plouf !
S’il y avait un étang par ici,
Je sauterais dedans
Pour qu’il entende le plouf !
“Ces trois variations sur le texte original de Bashô (1643-1694) montrent bien la fascination qu’exerçait sur Sengaï le célèbre haïku :
Un vieil étang
Une grenouille y saute
Le bruit de l’eau.
Quoi d’extraordinaire à décrire le bond d’une grenouille dans l’eau, et à faire du son, produit par ce bond, un événement qui déchaîne l’enthousiasme ?
Si vous permettez, je puis dire qu’à l’oreille de Bashô le saut de la grenouille dans le vieil étang et le plouf qu’il produisit furent comparables à la parole de Dieu : Que la lumière soit !
N’est-ce pas là un événement de première importance ? Dans cet instant, l’esprit de Bashô a pénétré les secrets de la création, et capté tout l’univers du commencement sans commencement jusqu’à la fin sans fin.
Le poète transforme la vie quotidienne d’un peuple à l’esprit prosaïque en quelque chose d’unique. Le poète discerne la poésie là où les sens ordinaires ne la discernent pas. Les haïkus de Sengaï ne doivent pas être pris pour de simples parodies. Dans ses commentaires, il traduit en réalité son propre point de vue du Zen. En substituant Bashô, par exemple, à la grenouille qui saute dans l’étang, il tente peut-être de recréer la scène pour provoquer aussi chez le lecteur une expérience intérieure.”
: D.T. Suzuki, in Le rire, l’humour et le silence du Zen, Le Courrier du Livre, 2005, p.201"
"(...) No momento em que ele falece, eu recomendaria que as novas gerações lessem pelo menos essas duas obras [FRAUTA DE BARRO E SOL DE FEIRA] do Luiz Bacellar e assim conhecessem, por meio de seus poemas, a trajetória luminosa do poeta amazonense que assistiu ao estado de excelência na poesia brasileira. Mais que isso. Ultrapassou a barreira do pré-estabelecido: ao lidar com elementos tradicionais, aprofunda o exato conceito de modernidade. (...)"
"(...) E, como nos sentidos versos do poema A ESCADA, vai o poeta subindo por ela com uma branca e enorme estrela tremeluzindo na mão. Vai, Poeta! Segue, em paz, tua trajetória."
"(...) O haicai de Bashô (apud LEMINSKI, 1994) com o qual o Leminski dialoga diz: “O velho tanque / uma rã salta / barulho de água” (...)"
(EM BOA HORA CITANDO A MAGNÍFICA TRANSCRIAÇÃO DE P. LEMINSKI, RODRIGO MICHELL DOS SANTOS ARAUJO, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (BRASIL); TRECHO DO ARTIGO "O VERBAL E O NÃO-DIZÍVEL DA POÉTICA ORIENTAL DE PAULO LEMINSKI", Revista Litteris, Março 2011, nº 7,
"(...) E, quando [LUIZ BACELLAR] chegasse ao paraíso dos outros poetas sumidos dos copos de bebida, do colete do paletó tocaria na sua flauta de barro."
(JOÃO PINTO, trecho final de artigo que adiante está transcrito,
TODOS PROFISSIONAIS DA REFERIDA EMISSORA DE TELEVISÃO
12.9.2012 - Zemaria Pinto escreveu sobre os últimos meses de Luiz Bacellar - "A morte e a morte de Luiz Bacellar (notas ligeiras sobre os primeiros 174 dias de morte do poeta)", por Zemaria Pinto, texto transcrito no blog de Simão Pessoa. (LEIA, POR FAVOR, ADIANTE TRANSCRITOS, NA ÍNTEGRA, OS ARTIGOS "AO POETA BACELLAR', DE JOÃO PINTO, E "LUIZ BACELLAR E AS POÉTICAS DA GERAÇÃO MADRUGADA: SOBRE ODES, SONETOS, RONDÉIS, HAI KAIS E FÁBULAS", DE JOSÉ RIBAMAR MITOSO.) F. A. L. Bittencourt ([email protected])
FOI DIVULGADO NO
BLOG DO SIMÃO PESSOA,
ONTEM (11.9.2012),
O SEGUINTE ARTIGO
DO PROFESSOR ZEMARIA PINTO:
"Terça-feira, setembro 11, 2012
A morte e a morte de Luiz Bacellar (notas ligeiras sobre os primeiros 174 dias de morte do poeta)
por Zemaria Pinto
Bacellar no seu aniversário de 83 anos, no ano passado, entre jovens fãs.
Texto e Foto: Zemaria Pinto
No dia 19 de março de 2012, pouco mais de 13h00, uma idiota, estacionando, atropelou Luiz Bacellar, que esperava, no meio-fio, o momento de atravessar a Ferreira Pena. Sua perna direita partiu-se em quatro pedaços. Ali começava a morte de Luiz Bacellar.
Levado ao SAMEL, um serviço particular, o escritor foi atendido com presteza, sendo preparado para a operação de colocação de pinos e placas, que ligariam de volta os ossos de sua perna, o que só aconteceria cerca de um mês depois.
Após a recuperação, no dia 02 de maio, Bacellar foi para a Fundação Dr. Thomas, um órgão mantido pelo município de Manaus, onde ficou na enfermaria.
A opção pela Fundação era simples: Bacellar morava em um apartamento, onde teria que subir vários lances de escada. E, além disso, precisaria de cuidados 24 horas por dia. Como ele optara – há muito tempo – por viver sozinho, foi levado, sob protestos, ao Dr. Thomas.
Em julho, quando, apesar de muito debilitado, já estava até caminhando, com o auxílio de um andador, uma série de exames médicos colocou-o sob a suspeita de tuberculose. Foi, então, levado ao Hospital de Doenças Tropicais, onde o diagnóstico mudou radicalmente: câncer no pulmão, com metástase para outros órgãos.
Mais alguns dias de volta à Fundação e Bacellar foi levado ao CECON – especializado em oncologia, onde ficou por mais de um mês, tendo retornado ao Dr. Thomas na segunda metade de agosto.
No dia 06 de setembro, sentindo muitas dores e apresentando um quadro de convulsão, Bacellar foi levado de volta ao CECON, de onde saiu no dia 09 de setembro, para ser velado em uma funerária particular. Deixara de respirar pouco depois das13h00, exatamente 174 dias depois do início da agonia. No dia 10, com a presença de uns poucos amigos, foi sepultado no mesmo jazigo onde fora sepultada sua mãe, no cemitério São João Batista.
Este é o histórico da agonia, que se prolonga, agora, mesmo com o poeta vivo apenas em nossa lembrança e eternizado em seus poemas. Agonia motivada pela irresponsabilidade e inconsequência de uns poucos.
Alguns jornais impressos e alguns blogs, no dia 10 de setembro, atribuíram a um secretário de estado uma declaração que o faz parecer mentiroso e lambanceiro. Para preservar a honra e a dignidade do referido secretário, vou relatar a verdade, tal como ela de fato aconteceu – e que pode ser checada com gente da estatura moral de Ronaldo Bonfim, Tenório Telles, Jane Cony e Elson Farias, entre tantos outros.
O secretário teria dito que “o governo do Amazonas tomou todas as medidas necessárias para tentar reverter o quadro de saúde de Bacellar.” Disse também que “o governo informou à família que custeará todas as despesas do sepultamento, assim como acompanhou todo o tratamento médico dele.”
Os fatos.
Desde o dia 19 de março até o dia 10 de setembro – do acidente até o enterro – nenhuma secretaria ou qualquer órgão público gastou um centavo de real com a saúde de Luiz Bacellar.
1 – O serviço médico e a estada no SAMEL foram cortesia da direção daquela instituição;
2 – Os pinos e placas usados na perna avariada foram pagos com recursos do próprio Luiz Bacellar (não vou dizer o valor para não envergonhar os pretensos benfeitores);
3 – O Dr. Thomas, o Tropical e o CECON são instituições públicas, que jamais cobraram por qualquer serviço prestado a Bacellar;
4 – Para ter cuidadores 24 horas por dia, Bacellar pagava do seu próprio bolso os serviços desses profissionais, além de contar com um time de voluntárias – o que valeu para as temporadas no Tropical e no CECON;
5 – O serviço da funerária foi pago com recursos de uma das irmãs do Bacellar, que fez questão de respeitar sua vontade, declarada em um documento datado de 25 de agosto, que se resume ao seguinte (copio o documento, por isso a primeira pessoa):
A – Não quero ser velado em nenhum espaço público; por conseguinte, desejo ser velado em um local particular, sem pompa nem circunstância;
B – A propósito, desejo que minha urna seja a mais simples possível;
C – Dispenso antecipadamente quaisquer manifestações públicas de apreço, que desejo reservadas apenas a meus amigos sinceros.
Portanto, nenhuma instituição e nenhuma pessoa física, além da irmã citada, desembolsou qualquer quantia, mínima que fosse, para o tratamento de Luiz Bacellar, custeado com as escassas economias do escritor.
Mente e prevarica quem disser o contrário.
Agora, abutres, deixem que o poeta descanse em paz.
PS: sobre as últimas palavras de Bacellar terem sido que “queria se encontrar com Jesus”, trata-se de uma falácia evangélica: o velho Dom Luiz jamais diria tal sandice. Nem pra fazer piada. (ZEMARIA PINTO)