Cunha e Silva Filho


                         Talvez desconhecido em partes do Piauí, quiçá até na capital, Teresina, Winston Roosevelt, completou, neste mês de agosto, setenta anos. Ele nasceu em Amarante, em 2 de agosto de 1944.Temperamento visceralmente de artista, na vida boêmia que levou na juventude e na mocidade, um lado dele permaneceu constante e renitente: produzir esculturas, trabalhar com o bronze, ou outros meios usados pela escultura, dar vida a seres, mortos ou vivos, dependendo do que lhe possa chegar como encomenda.
                Um autodidata, que nasceu para dar formas à figuras humanas, animais ou qualquer que seja o objeto  por ele  ser criado. Formas de arte que me comovem pela perfeição dos traços, dos detalhes, das linhas, do conhecimento da anatomia humana, da perfeição artesanal de  mãos habilíssimas da matéria amorfa   transmudada  em obras de arte perduráveis, soprando vidas a latejarem do silêncio da beleza imóvel. Um grande artista é um observador privilegiado da matéria física e da dimensão humana. Contudo, não se pode negar que a escultura é uma arte da qual não pode ficar ausente a dimensão espiritual, não puramente por imitação dos seres que têm ou tiveram vida, .mas por recriação sob o comando da ação e potencialidade do artista que detém os meios natos e aperfeiçoados pela experiência no seu ofício.
               Ninguém lhe  ensinou a pintar, desenhar e sobretudo  esculpir. Tudo lhe veio da predisposição inata às formas plásticas. Desde criança, ainda nos primeiro anos da adolescência, meu irmão Winston Roosevelt já surpreendia a todos nós com seus inúmeros desenhos de figuras humanas feitas numa simples folha de papel ou desenhadas com carvão nas calçadas  de uma  das residências em que moramos nos anos cinquenta.

        Inteligência incomum, memória grandiosa, criatividade para até inventar textos ficcionais há tempos escritos,  parte dos quais   ainda hoje consegue relembrar de memória.

             Na escola, não foi bom aluno, queria mesmo era brincar, namorar as belas morenas do Ginásio “ Des. Antonio Costa”( o “Domício,” dos irmãos Magalhães, de saudosa recordação). Vaguear, deambular pelas praças da capital, numa vida que se aproximava dos pícaros espanhóis era o que queria fazer na adolescência.

          Nunca se adaptou aos regulamentos dos colégios e da disciplina dos estudos.Estudou o ginásio no "Domício," do qual foi colega meu de turma. Ainda se matriculou no Liceu Piauiense para cursar o científico, mas largou logo no primeiro ano.O que desejava mesmo era aventurar-se pelas ruas de Teresina, fazer amizades. Meus pais é que nunca viam bem isso. A vida artística, porém, não deixou de lado. Creio que sempre lhe foi a principal meta de vida, com todas as dificuldades que atravessou e com todas as possibilidades que perdeu por ser pessoalmente desorganizado e viver a “dolce vita” do presente. A Arte o chamava apesar da boêmia, das noitadas etílicas, dos amores passageiros, dos cabarés, dos becos ocultos da velha Teresina.
                      Nos anos sessenta, esteve por um ano no Rio de Janeiro, quando eu já aqui iniciava minha vida de estudante me  preparando para a universidade. Na grande "Cidade Maravilhosa", Winston, como era de se esperar, não se adaptou, não se firmava em trabalhos com rigor de horário. Sua alma é de boêmio e suponho que ainda o seja apesar dos cabelos brancos e do cansaço dos anos e  de se tornar avô e pai de muitos filhos.
                   Winston Rosevelt  é um talento que não pôde ter tido a chance de se aprimorar nos grandes centros urbanos do Rio de Janeiro, São Paulo e mesmo europeus.Talento e engenho sempre os teve e muito.     Sei que, ao longo dos anos, com uma vida de dificuldades, ainda conseguiu produzir um bom número de esculturas. Poderia estar economicamente bem se não tivesse esse temperamento dado à boêmia, gastando o que tem e não tem, e, assim, sempre ficando em agruras financeiras. Uma vez, concitei os irmãos a fim de que pudéssemos ajudá-lo, mas não pude contar com o a minha proposta.
                   Talvez, se tivesse tido uma melhor orientação familiar, estaria numa posição mais visível no mundo artístico, mesmo se considerarmos só o Piauí.
                   Dei-lhe muitos conselhos em cartas para Teresina. Contudo, o seu temperamento artístico é rebelde. Segue o seu próprio impulso.Foi a sua escolha de vida e também o quinhão que recebeu de suas próprias ações, algumas erradas, outras certas. Ninguém nunca haverá de entender a alma dos artistas, os seus modos pessoais de encarar a vida, a sua eterna condição de ser um indivíduo diferente, não adaptável às formalidades da sociedade, aos seus mecanismos ocultos, indevassáveis, e ao mesmo tempo injustos.
                 Só sei que meu mano Winston atinge seus setenta anos e,se os meios culturais locais, não lhe deram maior visibilidade e maior destaque, da minha parte de simples observador da vida cultural, não paira dúvida alguma de que Winston Roosevelt seja um grande artista piauiense. Sua esculturas, suas hermas,  ou suas figuras humanas, ou de outra natureza,  em tamanho  normal, certamente estão espalhadas em residências,    em outros lugares  de Teresina ou mesmo  no interior  piauiense.