No dia 12 de outubro do ano passado, li um artigo na Folha de São Paulo (Tendência/Debate) assinado por Oded Grajew, que considero grandioso. O autor é empresário e, entre outras funções ou missões de relevância social exercidas por ele, uma delas foi a de ser o idealizador do Fórum Social Mundial. 
                             Com simplicidade em expor suas ideias e seu pensamento, mas apenas se valendo de bons e comedidos dados  informativos acerca da realidade social mundial, Grajew chega a esta conclusão, que aparentemente parece uma obviedade no tocante à questão de como resolver a fome no planeta Terra: apenas uma vontade política. 
                              O seu breve e incisivo artigo mostra com muita agudeza um aspecto fulcral que serve como grande estorvo na solução do problema da miséria absoluta: o total desinteresse dos governantes em geral para com assuntos dessa natureza. Ele menciona dois exemplos de que foi testemunha. O primeiro foi o da Assembléia Geral da ONU em 2005, onde vinte chefes de Estado e representantes de outros governos estavam reunidos para avaliarem em que nível de expectativa estavam os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
                           Os resultados foram entristecedores quanto ao que pensavam então os governantes presentes, quer dizer, todos declararam que o problema da fome não fora resolvido por carência de “recursos’ nem de “idéias”, mas sim “apenas por falta de vontade política..
O segundo exemplo por ele citado ocorreu na ONU, num encontro da sociedade civil com Michel Camdessus, na época diretor-geral do FMI. Ao ser interpelado pelo presidente da Indonésia sobre a questão da fome e como combater esse mal já crônico em escala global, Camdessus, lamentavelmente, não lhe soube dar nenhuma resposta, simplesmente – veja, leitor! -, porque o problema da fome nunca estivera no âmbito de seus interesses.
                            Grajew, em sua percuciente análise, passo a passo, nos oferece uma série de sugestões que, se fossem levadas a sério e a cabo, constituiriam um importante conjunto de ideias e vias de acesso ao equacionamento correto do problema da fome e de sua correspondente solução.Em resumo seriam:
a) Na esfera política, aos governos eleitos não interessa a solução de reivindicações de mudanças sociais, porquanto estas não atingem o cerne das individualidades desses governos nem atendem às prioridades reclamadas pelos financiadores de campanhas políticas;

b) Os governantes, na maioria das vezes,  têm as suas vidas amparadas por regalias intrínsecas à própria condição social elevada.

c) Os governantes e seus financiadores de campanha – e aqui o articulista frisa o exemplo do Brasil -, não utilizam os serviços públicos de saúde, de educação e os de transporte de massa (ainda que estes sejam da iniciativa privada) os quais são de péssima qualidade. 
                             Diante desse quadro sombrio, injusto e discriminatório Grajew fez, em tom de alerta, um veemente apelo aos responsáveis pelo bem-estar dos povos e pelo destino da sobrevivência humana no planeta. Neste ponto, o articulista põe o dedo na ferida, pois em se tratando da salvação do planeta, da sua preservação, não vai haver privilégios de qualquer natureza. Todos estaremos no mesmo barco. Ricos, remediados e pobres poderão sofrer irreversíveis danos na sua sobrevivência. Vejam o que ocorreu com as regiões atingidas pelos tsunamis: nelas morreram ricos e pobres, casas de luxo e choupanas foram todas tragadas e destruídas pelas ondas gigantescas. A destruição neste caso, não faz distinção de classes sociais.
                           Se é esse o caminho que, até hoje, os governantes estão teimando em palmilhar, i.e., o caminho da catástrofe, da exaustão das nossas fontes de riqueza e energia de que ainda, milagrosamente, dispomos, e que são consumidas mais do que o necessário, se é esse o caminho que escolhemos para arrasar com o planeta, com o nosso clima, os nossos rios, as nossas florestas, se é esse o caminho que nos tem causado o crescimento do derretimento das calotas polares, com as consequências desse vandalismo cometido contra a Mãe-Natureza, com o nível dos mares subindo, com o efeito estufa, provocando  altos níveis de aquecimento  do nosso planeta  e com a degradação generalizada do nosso meio ambiente, não me venham ,depois, chorar pelo leite derramado.
                         O caminho certo inúmeras vezes já foi apontado, ao longo da história da humanidade, por figuras eminentes em todo o planeta: sábios, benfeitores, cientistas, filósofos, homens de bem de toda as partes dessa Terra devastada pela cobiça de uns e pelo desinteresse de outros. Eles já nos ensinaram por onde devemos seguir a fim de encontrar a estrada da salvação, que não é essa de esbanjar verbas destinadas a fabricações de armas, segundo salienta o articulista, cujo montante disponível já atingiu, tendo em vista o conjunto dos países envolvidos, o patamar de 1 trilhão de dólares aproximadamente!
                          Quanto ao montante de dinheiro destinado a debelar a fome mundial, a estimativa da ONU, de US$150 bilhões anuais, nos prazos compreendidos entre 2000 e 2015 ainda não passou do papel. A vontade política - feio e hipócrita eufemismo para significar falta de palavra empenhada pelos governos, falta de caráter dos políticos -, não conseguiu, até agora, arrecadar “nem a metade dos recursos necessários”. Na erradicação da fome, se incluem ainda a “redução da pobreza, as mazelas sociais e a degradação ambiental”, acrescenta o articulista.