Pode ser mero exagero político, ou pode ser uma dessas pegadinhas apócrifas tão comuns na Internet. Quem duvidar, clique até lá e confira. No saite de uma publicação chamada “The Moderate Independent” (em: http://www.moderateindependent.com/v1i4pyrrhic.htm) comenta-se que os responsáveis pelos dicionários da língua inglesa Webster’s, Random House e Oxford começaram a considerar a possibilidade de aposentar a expressão “vitória de Pirro” e usar em seu lugar “vitória de Bush”, para definir uma vitória tão desastrosa que mal se distingue de uma derrota.

    A origem do termo vem de Pirro, Rei do Épiro, que viveu no século 3 a.C., e combateu Roma. Na batalha de Asculum ele derrotou os romanos, mas sofrendo tantas perdas que afirmou depois: “Mais uma vitória como esta e estarei acabado”. A expressão “vitória de Pirro” passou à história militar e à história política. No Brasil recente, tanto Governo quanto Oposição têm conquistado vitórias eleitorais ou jurídicas, mas a um custo moral tão grande, e com tamanho desgaste diante da opinião pública, que podem ser consideradas vitórias de Pirro.

    Ou vitórias de Bush, como parecem preferir os dicionaristas. Steve Carlson, do Random House, teria dito: “Ficamos discutindo sobre o sucesso de Bush-pai quando armou Osama Bin Laden para expulsar os russos do Afeganistão. Depois, o seu sucesso em armar Saddam Hussein para derrotar os aiatolás do Irã na Guerra Irã-Iraque. E agora o sucesso que Bush-filho está obtendo em sua operação para libertar o Iraque. A expressão ‘vitória de Pirro’ foi usada tantas vezes em nossa conversa que talvez valesse a pena fazer uma substituição”. John Smytheton, do Oxford English, teria afirmado: “Pirro ficou famoso devido a uma vitória que lhe trouxe mais custos do que benefícios. Os dois Presidentes Bush acumularam tantas vitórias deste tipo que seria justo transferir para eles esta honra. Eles merecem o título de Reis da Vitória Detrimental”.

    Numa guerra nunca existem vencedores, só derrotados. Triunfos militares são sempre ilusórios, principalmente quando não são seguidos por triunfos políticos capazes de evitar humilhações aos vencidos, caos econômico e social nos países derrotados, partilhas injustas de territórios, etc. Grande parte do que acontece hoje entre Israel e Palestina é fruto de políticas apressadas e negligentes logo após a II Guerra Mundial. Uma vitória militar é sempre a conclusão de uma derrota política. Depois que um exército derrotado depõe as armas, cabe aos políticos uma nova interveção, um novo recomeço, para que o povo derrotado não se transforme num inimigo eterno.

    Às vezes é possível. EUA e Japão lutaram ferozmente na II Guerra, uma luta que terminou com um holocausto atômico sem precedentes na História. Mas seus políticos conseguiram fazer a paz, e ao que me consta não ficou nenhuma seqüela militar entre os dois. O que está sendo feito no Iraque, no entanto, merece mesmo o epíteto de “vitória de Bush”.

 
    Publicado originalmente no Jornal da Paraíba