(1)Pedro Silva (de Portugal) - especial para o Entre-textos

Devo confessar que entre inícios do século XIX e meados do século
XX, a transmissão de conhecimentos entre Portugal e Brasil foi, até
certo ponto, travada, fruto de uma noção bilateral de perda. Por
aqui, a sensação de perda de uma importante colónia. Desse lado, de
acordo com aquilo que se percebe, algum desconforto em lidar com
Portugal, a antiga nação opressora.

Tive oportunidade de ler alguns livros de autores portugueses e
brasileiros de inícios do século passado e o que transpirou em
Portugal era que o Brasil fora efectivamente uma magnífica
descoberta portuguesa e que, na generalidade, existira, desde
sempre, uma interacção positiva entre os colonos do meu país e os
indígenas locais, existindo até a ideia de uma raça nova miscigenada.
Mas havia questões que minavam as relações: a imposição da fé, pela
força, e o tão propalado ouro brasileiro.

Os jesuítas, sem dúvida, foram para o Brasil com a função de
cristianizar tudo e todos, sob a gestão eclesiástica da Ordem de
Cristo. Houve casos de brutalidade excessiva no tratamento dos
habitantes locais, mas não deixa de ser curioso que o Padre António
Vieira seja um exemplo de como, em parte, foi a fé cristã que se
adaptou à realidade brasileira e não o contrário. Por mais que
coloquemos uma cruz ao peito de alguém, o que contará é o que lhe
vai na alma.

Como tal, hoje em dia o Brasil é o maior país católico do mundo, por
via da influência portuguesa, mas também um dos locais onde a fé
espírita tem maior alcance, onde todas as tendências religiosas
convivem sem problemas e onde as tradições africanas são mais
celebradas longe da sua terra original.

O ouro, sem dúvida, foi transportado, em grandes quantidades, para
Portugal, possibilitando construções magníficas que por aqui podemos
visualizar hoje em dia. Não há forma de ressarcir essas perdas, que
sempre surgem numa relação colonial.

Mas, felizmente, o carácter afável e extrovertido do povo brasileiro
permitiu que o tempo fosse dissipando as feridas que ainda
sangravam, permitindo que, através da cultura, os laços se tenham
vindo a apertar a partir da segunda década do século XX.
O encanto do povo brasileiro obteve dos portugueses, de forma
directa, o carácter sonhador e, de forma indirecta, a alegria
contagiante dos escravos africanos trazidos nas caravelas
portuguesas.

Ao fim de 500 anos, o Brasil tornou-se uma nação grandiosa, um
continente em si mesmo, ciente da sua responsabilidade no mundo e
reconhecendo que o passado tem lugar nos anais da História, urgindo
estreitar laços com um país com o qual é indissociável, seja por
consanguinidade ou por uma magnífica língua comum.

E Portugal, na verdade, sente que é hoje o momento certo para se
reconciliar com o seu próprio passado acolhendo no seu seio a
cultura brasileira do mesmo modo generoso que os indígenas receberam
Pedro Álvares Cabral e a sua tripulação.

(1) Pedro Silva é escritor. Autor de Autor de:
- "Ordem do Templo: Em Nome da Fé Cristã" (Ulmeiro, Portugal, 2000)
- "História e Mistérios dos Templários" 2ª Edição Esgotada (Ediouro,
Brasil, 2001)
- "Escritos Errantes (histórias leves como o vento mas tocantes como
a tempestade)" Esgotado (Senso, Portugal, 2002)
- "Ku Klux Klan: Pesadelo Branco" (Magno, Portugal, 2003)
- "Tripla Imparável I: Juventude em Acção" (Magno, Portugal, 2005)
- "Os Templários e o Brasil" (Flâmula, Brasil, 2005)
- "Templários em Portugal (a verdadeira história)" (Ícone, Brasil,
2005)
- "Templários (Ordem Militar e Religiosa)" (Catedral das Letras,
Brasil, 2005)
- "Confraria Mística Brasileira: a História" (MAP, Brasil, 2006)
- "Símbolos e Mitos Templários" (Centauro Editora, Brasil, 2006)
- "Mistérios da Humanidade" (Via Occidentalis, Portugal, 2006)
- "O Sol de Rita" (Corpos Editora, Portugal, 2006)
No Prelo:
- "Historia y Misterios de los Templarios" (Editorial Actum,
Venezuela)
- Texto incluído na colectânea subordinada ao tema "Suicídio"
(Editora Tabu, Outubro de 2006)
Outros dados de relevo:
- Antigo Director da revista templária "Das Brumas do Templo e do
Graal."
- Colaborador de diversos órgãos de comunicação social escrita em
Portugal (O Templário ou O Almonda, entre outros)
- Colaborador de sites da Internet brasileiros
- Vencedor do Concurso Literário Juvenil organizado pelo jornal
Correio da Manhã, em suplemento juvenil (década de 90)