Vioência no trânsito
Por Cunha e Silva Filho Em: 16/09/2011, às 10H34
Cunha e Silva filho
As notícias vêm de toda a parte. São as vítimas fatais de um trânsito tresloucado que desrespeita continuamente todas as leis e portarias oficiais. Diante destas Não se intimidam os infratores recalcitrantes. Ao contrário, até avançam mais nas suas ações delituosas de todos os tipos: dirigem bêbados, enfim, fazem as mais escabrosas atrocidades ao arrepio da lei, dando, assim, demonstrações de que o limite da lei é sua transgressão e absoluta indiferença pelos regulamentos do código de trânsito e por seu aprendizado nas auto-escolas. Seriam melhor definidos como vândalos do trânsito, criminosos soltos e prontos, a qualquer instante, para matar inocentes.
Os transgressores do trânsito continuam matando nas estradas, nas ruas, nas cidades e nos campos. Posto que conscientes de seus atos bárbaros na direção dos volantes, prosseguem na contramão da lei e da certeza da impunidade – talvez a maior responsável pelos altos índices de óbitos no trânsito desse imenso país.
Enquanto não aumentarem as penalidades de infrações, os motoristas, de todos os níveis sociais e culturais, não modificarão os seus hábitos violentos e desumanos. Não e surpreenderia que, entre esses desalmados, se encontram psicopatas e outros indivíduos psicologicamente despreparados para dirigirem veículos. Só exames rotineiros psicotécnicos não são suficientes para detectarem anomalias mentais nessas candidatos a motoristas.
O exemplo da cidade do Rio de Janeiro ilustraria bem esse estado anômalo e perigoso do trânsito do qual tudo se pode esperar em termos de desvios de conduta no volante. Vive-se um estado permanente de tensão por parte dos pedestres. Desrespeito pela faixas de parada dos veículos, avanços de sinais, altíssima velocidade, estacionamento em áreas proibidas, estacionamentos indevidos em calçadas impedindo os transeuntes de se locomoverem livremente e outras distorções ilegais são a imagem comum nesta cidade. O desrespeito se estende a outros veículos e formas de transportes: caminhões, motos e até bicicletas. É preciso haver regulamentação também para as bicicletas que fazem misérias no seu absoluto desrespeito aos transeuntes quando atravessam ruas ou mesmo nas calçadas. Causam, da mesma forma, acidentes, sobretudo às pessoas idosas. Creio que, na Índia, apesar daquela confusão de carros, animais e outras coisas, respeita-se mais as pessoas do que em nosso país.
Basta que o transeunte permaneça observando com cuidado o fluxo dos carros, numa avenida ou em ruas compridas, para constatar a extrema velocidade imprimida por motoristas insanos.
Há dois dias, uma jovem senhora estava empurrando o carrinho do filho de um ano, da escola para casa, numa das ruas do Méier, movimentado e adiantado bairro do subúrbio carioca, quando um automóvel, desgovernado, subiu a calçada e atropelou o bebê e a mãe. O bebê teve morte instantânea e a mãe está internada em hospital em estado grave. Sabe-se que o carro desgovernado era dirigido por uma mulher, uma policial civil. Ela alegou que dirigia em baixa velocidade, porém foi de repente atingida por outro carro em alta velocidade, que, chocando-se com o dela, fez este perder o controle e subir a calçada. Mais uma tragédia.
Este é apenas um exemplo entre milhares que ocorrem no país, o que indica ser gravíssima a realidade do trânsito no país.
Se as autoridades de trânsito não tomarem as medidas cabíveis e urgentes em relação ao problema, se as leis de trânsito não endurecerem para o lado dos motoristas, a sociedade brasileira estará sempre à mercê da marginalidade no trânsito.
Há pouco saiu uma lamentável notícia de que jovens adultos, bem postos na vida, inventaram uma moda de sentirem o nível máximo de adrenalina: simplesmente dirigirem, em altíssima velocidade, ou melhor, em velocidades só vistas nas grandes corridas de carros, diga-se 300 km /hora - imaginem! – em rodovias brasileiras. Isso é uma insensatez impensável, que deve ser de imediato inibida pelas autoridades competentes e esses motoristas devem ser enquadrados rigorosamente nos crimes de trânsito com perda de carteira e tudo. São potenciais criminosos e indivíduos estúpidos e perniciosos à sociedade.
Entretanto, tenho notícias de que o Poder Judiciário, em sua instância mas alta, está pretendendo modificar a penalidade do infrator de trânsito, passando os crimes de natureza dolosa para culposa. Ora, se tal acontecer, se me afigura um desrespeito absurdo contra o cidadão brasileiro vítima fatal da extrema violência no trânsito.
Só pode ser uma piada de péssimo gosto se uma decisão dessa espécie prevalecer e se efetivar.
O país está aumentando alarmantemente o número de veículos motorizados. Há carros em excesso nas ruas das grandes cidades e nas estradas e, por outro lado, as montadoras não cessam de colocar à venda milhares de novos carros que, pelo menos, duas consequências gerais nefastas terão: a) o crescimento desproporcional do número de carros; b) a elevação da poluição do gás carbônico (CO2), fonte criminosa da deterioração crescente do meio ambiente, da saúde da população e do aumento crescente e perigoso do efeito estufa.
O de que o país sempre precisou foi de estradas de ferro cortando este Brasil continental, melhorando o movimento de transportes de carga pesada transportando nossas riquezas e nossas importações, diminuindo, desta forma, os altos custos dos fretes hoje largamente dependentes do transporte rodoviário.
Imitemos os países que deram relevo ao desenvolvimento do transporte ferroviário, como os EUA e alguns países europeus, por exemplo.
O ex-presidente Juscelino Kubitscheck (1902-1976) e outros que o sucederam erraram neste aspecto, privilegiando abertura de rodovias e o incremento da indústria automobilística. Com o passar do tempo, as rodovias brasileiras não acompanharam, em infraestrutura, o crescente aumento de veículos, nem se manteve adequadamente a conservação de nossas rodovias. É tempo de alterar em parte essa visão das quatro ou mais rodas que só faz enriquecer os ativos dos empresários das concessões - via privatização - encarregadas de cuidar de nossas rodovias, com seus altos pedágios e, muitas vezes, o fracasso de suas administrações neste setor.
Portanto, não se aplicaria mais o lema de campanha presidencial de Washington Luís (1869-1957) de 1920, quando afirmava: “Governar é abrir estradas”. O excesso de veículoss concentrados nas estradas e nas grandes cidades brasileiras em parte responderia por mais um componente de nosso doentio e criminoso trânsito.