[Whashington Ramos]

     É na sala, no quarto, na varanda, no banheiro, no quintal, na cozinha, na rua, na praça, no carro, no escritório, no restaurante, na piscina, no ônibus... Em todos os lugares, ele está sempre usando o celular, que é seu melhor amigo, seu irmão mais próximo, seu pai, sua mãe, seu deus. Não vive sem.

     É no YouTube, no Facebook, no Twiter, no UOL, no IG, no Terra, no Whatsapp, no Instagrã, no Linkedl, no Pinterest, no Telegrã, no Skype, no Snapchat, no Tik Tok e até no arredio Tumblr. Em tudo do mundo virtual, ele fuça e mete o nariz, faz provocação. Posta e recebe mensagens, brigando, ironizando, xingando e aguardando com ansiedade a rede social do Trump. Se tivesse condição financeira, faria uma também.

     Dizem as pesquisas que os brasileiros, em média, passam 3h e 31min por dia conectados na internet. Ele está muito além disso. Sua média é, pelo menos, 9 horas diárias ligado na web.

     De manhã, quando acorda, sua primeira reza é pegar o celular, que fica no criado-mudo ao lado da cama, para ver o que há de novo nas redes sociais. Depois, olha o e-mail. A partir de então, não para mais. Aonde vai, leva o aparelho. No banheiro, no café da manhã... No trajeto para o trabalho, atende a ligações, pois o celular é conectado ao som do carro. Quando vai de ônibus, usa os fones de ouvido para não escutar as conversas dos outros passageiros nem o barulho das ruas. Durante o almoço, fica de olho nas mensagens que vão chegando. De vez em quando, responde a algumas com todo cuidado para não sujar as teclas. Não pega nenhum alimento com as mãos. Usa sempre o talher, até mesmo para comer uma banana. A principal função de seus dedos é teclar letras, números e símbolos.

     Ele está economizando para comprar mais um celular, pois as duas horas de carregamento da bateria são um tormento. Parecem infinitas. Fica inquieto, sente tremores e suores frios. Irrita-se com facilidade se alguém lhe dirige a palavra. Algumas vezes, com uma hora apenas, ele retira o aparelho da tomada e liga-o. Mas fica se perguntando se, quando tiver dois celulares, será que vai acontecer de as baterias descarregarem ao mesmo tempo? Será? Ô, dúvida cruel.

     Um dia, amigos o convidaram para um protesto, na principal avenida da cidade, contra os aumentos  abusivos no preço dos combustíveis. “Sei protestar somente na internet”, ele respondeu.