[Maria do Rosário Pedreira]

Há centenas de lugares aonde nunca poderemos ir. Não por causa da distância, da falta de dinheiro, dos vistos não concedidos ou mesmo do medo de andar de avião, mas simplesmente porque, embora existindo, não existem. Parece estranho? Pois não é. Já se imaginou, por exemplo, em Camelot ou Avalon, na Ilha de Próspero, no País das Maravilhas, em Liliput, Macondo, no Parque Jurássico ou mesmo na Ilha do Dia Antes criada por Umberto Eco? A verdade é que a única forma de viajar até esses lugares é lendo as obras de quem os inventou, pois o único mapa que os inclui é, de facto, a nossa amada literatura. E, mesmo assim, o fantástico Alberto Manguel e Gianni Guadalupi (um tradutor italiano de autores clássicos) reuniram-nos (e a muitos outros) num pesado volume intitulado Dicionário de Lugares Imaginários, que me ofereceram em inglês, mas existe em português numa edição brasileira da Companhia das Letras. E, por este guia para viajantes intrépidos, desfilam, por ordem alfabética, mais de mil e duzentos locais que nunca serão destinos vendidos pelas agências de viagens, mas aos quais muitos de nós não deixaremos de ir sem sairmos do sítio, mesmo fora do tempo de férias. Belíssimo e revelador.