Cunha e Silva Filho

 

                            A expressão que emprego como título desta crônica me ocorre toda vez que a ouço num filme, numa novela de televisão ou numa conversa ouvida por acaso num diálogo na rua ou em algum lugar qualquer da vida. O sentido acabrunhante que ela passa é tão negativamente forte e pesado que equivale a qualquer expressão depreciativa e preconceituosa simbolizando a absoluta incompreensão e a brutalidade estabelecida pela distância geracional entre novos e velhos. Seu conteúdo semântico é profundamente excludente, abastardado e reprovável sem querer aqui dar lição de moralismo, que é alguma coisa que não me agrada.
                         Ao utilizar-se desse sintagma, duplamente preconceituoso na combinação do substantivo e do adjetivo chulo, as duas fases da vida mergulham numa contradição que dói pela obtusidade unilateral dos mais novos e pelo violência que sinaliza ou seja, pela quebra do respeito entre o interlocutor jovem e o de idade bem avançada, entre a inexperiência cega e a experiência enriquecida dos anos. A expressão faz parte do campo semântico dos “tabus lingüísticos” e seu emprego só vem à tona  quando a incivilidade dos mais jovens é contrariada justa ou injustamente pelos mais velhos. No entanto, do uso dela no instante em que é proferida não existe tantos anos-luz assim. O tempo é breve e acelerado e o que se afirmava contra um outro de repente se volta para si mesmo como um despertar de um longo sonhov.E aí é que a dor causado pelo vil preconceito se torna dor própria, sangrando tão ou mais fortemente do que há tempos passados machucou a alma de alguém.
                         Atenção ao tempo que, célere, passa e, ele, o tempo, como a maré do provérbio inglês, “...não esperam por ninguém.” O instante é a eternidade. O presente, o passado e o futuro, naquele tempo tríduo gilbertofreiriano, é o momento presente, abissal e devorador como a “Areia, grão a grão, escoa na ampulheta...” do soneto de Da Costa e Silva (1855-1950).
                       “Cuidado, pois, com o que dizes diante de um ancião, ó ser finito e relativo!” O tempo é contratempo na voragem dos instantes fluidos, no escoamento dos anos dos tempos apressados, idiotamente apressados, sem rumo e sem remo.
                       Envelhecemos a cada dia, embora aparentemente, ao olharmos para alguém, não sintamos a nitidez dessa transformação. Não adiante, jovem, sonhar com o elixir da longa vida, nem com os poderes dos pactos fáusticos nem com a  aventura malograda de Dorian Gray. O tempo é voraz, ávido das travessias do corpo, da matéria física, da beleza apolínea e das fugazes ilusões dionisíacas. Nada consegue detê-lo. Nem as plásticas mais refinadas dos tempos high tech, nem a última promessa da beleza física que luta contra a eternidade do finito belo. Tudo isso porque, caros jovens, somos mortais, eternamente mortais.
                       Todo cuidado é pouco com as expressões que ferem o corpo e o espírito e deixam sempre marcas da ausência do respeito àqueles que um dia também foram belos, jovens e pensavam que tudo aquilo seria duradouro.
Quero concluir este texto com uns versos de um velho poema de Henry Wadsworth Longfellow( 1807-1882), que já traduzi no verdes anos e que, depois, na maturidade, republiquei com algumas modificações: “For age is opportunity no less/Than youth itself in another dress,/And as the evening twillight fades away/The Sky is filled with stars, invisible by Day”